22.9.14

WILLEM DE KOONING

Mulher 1

Willem De Kooning, pintor expressionista holandês, nasceu em 24 de abril de 1904 em Roterdam. Estudou na Rotterdan Academy of Finr Arts and Techniques. No ano de 1926, foi para os Estados Unidos, onde viveu como clandestino e onde passou um período de muita pobreza. 

Mais tarde, já em Nova York, tornou-se amigo de D. Grahan e Ashile Gorky com quem dividiu o atelier em Manhattan e teve bastante influência  em seu trabalho. Pintou diversos murais para o Federal Arts Project. Em 1936 já pode dedicar-se totalmente às artes onde suas telas abstratas e figurativas sofreram influência do cubismo e do surrealismo de Picasso, como também pela obra de Gorky em 1938, com uma série de figuras masculinas e outras abstrações.

Tornou-se um dos principais nomes do abstracionismo americano e seu tema predileto foi a mulher. Sua obra revela a angústia de viver num mundo contemporâneo. 

Em 1942 tornou-se amigo de Pollock em Nova Iorque. Oito anos mais tarde criou a pintura de grande formato Escavação, que alguns críticos consideraram a mais importante obra do artista.

A tinta jogada sobre a tela, a justaposição de várias cores que destoavam entre si, a manipulação dos tons e a herança expressionista foram o que De Kooning usava para desintegrar a realidade – que nunca se apagou totalmente. Suas obras primavam pela emoção e movimento.

Sua obra, Mulher 1, a mais conhecida de Willem De Kooning, é um mosaico de cores fortes, densa, e que estuda a mulher. O rosto anguloso os olhos repuxados, dentes ferozes, curvas destituídas de sensualidade, apresenta uma mulher que se posta entre o abstrato e o figurativo. Parecem representar tanto a reverência quanto o medo que o poder feminino infundia  no inconsciente do artista. Mas eram telas meticulosamente planejadas. Sua pintura não se diferenciava tanto de seu contemporâneo Pollock.

De Kooning chocou não só os críticos, mas colegas e o público em geral. O público estranhou o aspecto grotesco das representações femininas e a crítica reprovou a inclusão de elementos figurativos na arte abstrata. Contudo, De Kooning trabalhou formas angulosas e bruscas, oferecendo um berrante contraste com a representação sensual e deificada na arte tradicional da figura feminina. Contudo, De Kooning não abandonou totalmente o figurativo e, em 1953 causou polêmica com sua série MulheresE justificou-se:

"Alguns artistas atacaram-me por pintar mulheres, mas eu acho que isso era problema deles, não meu. Não me sinto nada com um pintor não-objetivo."


Em 1963 De Kooning mudou-se para Long Island onde houve seu declínio criativo. No entanto, o artista não abandonou a pintura, mas começou a trabalhar com escultura, em 1969/ Roma, executou suas primeiras figuras trabalhadas com argila e fundidas em bronze. 

Faleceu em 1997, em East Hampton / Nova York, sendo diagnosticado com Alzheimer. Em 2012 teve uma retrospectiva no MOMA, em Nova York.

        Mulher 2 - 1940                                              Standing Man - 1942             
Sem título - 1958
Excavation - 1950 / uma de suas pinturas mais famosas
Torso de 2 mulheres - 1950
Série Mulheres - 1950 MOMA



28.8.14

VICTOR MEIRELLES – 1ª MISSA NO BRASIL




Victor Meirelles  nasceu em Nossa Senhora do Desterro, denominada hoje de Florianópolis / SC - Brasil, a 18 de agosto de 1832. Filho de pais humildes, Victor logo demonstrou sua vocação para o desenho, impressionando o pintor argentino Mariano Moreno, que orientou seu primeiro aprendizado. Graças aos amigos do pai, que contribuíram para pagar-lhe os estudos, Victor embarcou em 1846 para o Rio de janeiro, para a Academia Imperial de Belas Artes – que impressionou com sua obra sobre a capital catarinense. 

Foi um grande entusiasta dos pintores venezianos, principalmente Veroneze, pela sua cor. Sua obra acima, a Primeira Missa no Brasil, mostra que a cena principal é o grupo que fica no altar. A luz incide sobre o sacerdote, criando um ambiente místico, coerente e harmônico, entre os gestos do Frei Henrique e os dos ajudantes. Os personagens, bem distribuídos, os brancos com a fé e os índios, surpresos e curiosos. A paisagem é magnífica: à esquerda a montanha e à direita o mar.

A tela Moema, mostra toda a sensibilidade de Meirelles; mostra todo o sentimento poético., Moema era uma índia que revelou o espírito lírico de Meirelles e de sua humildade diante da natureza.

Estudou a fundo as técnicas do desenho e da pintura, ganhou o primeiro Prêmio de Viagem à Europa, onde visitando quase que diariamente o Louvre, se apaixonou pela pintura histórica de David. E foi lá que trabalhou uma de suas obras mais importantes: a Primeira Missa no Brasil – 1861 – aceita no Salão de Paris, fato inédito para um artista brasileiro. A obra da Primeira Missa foi apoiada na leitura da carta de Pero Vaz de Caminha, o que confirma o caráter narrativo e documental de sua obra.

Porém, foi com a Guerra do Paraguai, com os enormes quadros Passagem de Humaitá e o Combate Naval, que sua imaginação alcançou voos, sem dar ouvidos aos invejosos que o criticavam pela sua enorme criatividade. Sua obra histórica transformou-se num clássico á altura dos maiores mestres.

Talvez por ter sido condecorado por D. Pedro II, foi menosprezado pela República, tendo mesmo sido demitido da cátedra. O pintor do equilíbrio e do rigor técnico passou a ser ignorado. Mas foi ele quem deixou ao Brasil um dos maiores legados da história brasileira, num período que carecia de testemunhas oculares.

Com a proclamação da República em 1889, Victor Meirelles é afastado da cátedra e da vida artística, passando a levar uma vida de solidão e privações até fevereiro de 1903, quando morre totalmente esquecido.

A obra do gênio catarinense, hoje é reconhecida no mundo inteiro, como um dos pontos altos da arte americana.

O Museu Victor Meirelles/IBRAM/MinC foi inaugurado na cidade de Florianópolis em 1952, na casa onde nasceu o artista Victor Meirelles. O sobrado, tombado como patrimônio histórico nacional em 1950, foi construído por volta do final do século XVIII e início do XIX e abrigou o comércio da família Meirelles de Lima. O Museu possui duas coleções em seu acervo. A coleção Victor Meirelles é formada por obras de autoria do artista, de seus professores e alunos, a partir da cessão do Museu Nacional de Belas Artes na época da criação do Museu, bem como de aquisições e doações de instituições e particulares. A Coleção XX e XXI, por sua vez, é composta por trabalhos de artistas modernos e contemporâneos oriundos de doações realizadas ao Museu ao longo dos anos. (fonte folder do Museu)

 Obras apresentadas no blog:
Combate Naval do Riachuelo - 1865
Passagem de Humaitá - 1886
Moema - 1866
Primeira Missa no Brasil – 1861
Retrato de D. Pedro II - 1864
Guerra dos Guararapes – 1879
Vista do Desterro - 1846

 - 1864 -
- 1879 -
- 1886 -
- 1846 -
- 1882 -
 - 1866 -

Referências:
Arte nos Séculos – Abril Cultural
Grandes Pintores – Paulo R. Derengoski


23.7.14

POR QUE UMA OBRA É BELA - Érico Santos

Mulheres e Flores - Érico Santos


 Posto aqui, na íntegra, um belo texto de Érico Santos, consagrado artista plástico,      um dos expoentes do mercado de arte no Rio Grande do Sul. Texto retirado de um de seus livros 'Arte: Emoção e Diálogo' - ed Uniprom - pag 13.  
'Erico debate neste livro questões atuais da arte, tecendo considerações sobre a evolução do gosto, dos estilos e principalmente dos suportes artísticos que tanto desconcertam o público.'


POR QUE UMA OBRA É BELA 

Toulouse-Lautrec dizia que não era a Gioconda que as pessoas iam admirar no Louvre, mas sua mística, seu autor, sua história, seu valor.
Tais influências existem. Basta o fato de que quando um artista é consagrado sua obra fica em segundo plano ou até inexistente na consideração de quem a adquire: eu tenho um Matisse... Fulano comprou um Degas... um Van Gogh foi arrematado por A estas alturas já não interessa mais a fruição intrínseca da obra, e sim as vantagens advindas de valores alheios a ela.
Uma obra de arte pode exercer nas pessoas diversos interesses. Alguns procuram incansavelmente a posse de um quadro sem sentir ou entender absolutamente nada sobre o mesmo. Basta ver o frisson que uma determinada pintura causa no mercado entre colecionadores, investidores, marchands, mídia, etc. Mais tarde se verifica que era falsa. Não me refiro às falsificações das obras de Vermeer, por exemplo, passadas pelo crivo dos maiores peritos, orgulhosamente ostentadas até em museus e somente descobertas graças à confissão do falsificador que ansiava pelo reconhecimento. Falo das falsificações grosseiras que qualquer conhecedor de pintura tem condições de constatar. Aqui, garranchos grotescos com a alcunha falsa de Di Cavalcanti, Portinari e outros mestres era disputado freneticamente em leilões e galerias. Como vê a pintura alguém que adquire um quadro destes?
As diferentes maneiras com que as pessoas apreciam as obras de arte muitas vezes estão diretamente relacionadas com suas convicções íntimas, suas necessidades de fruição, de vaidade, de pecúnia ou apenas porque tem uma pressuposição a respeito de uma determinada escola, ou de incontáveis formas de manifestação artística. É o belo da obra, transitando por fora dela mesma, dentro de cada cabeça que não sabe ver o seu belo real.
Alguns só querem a vanguarda. Existem os que só têm olhos para o cubismo. Outros só pensam nos impressionistas. Há os que só se interessam pelo resultado financeiro que lhes dará a obra, e muitos querem qualquer coisa, desde que seu decorador recomende, o que seja da cor do seu sofá.
Creio que para sentir a beleza das obras de arte é preciso neutralizar quaisquer influências exteriores, conhecer suas diversas manifestações e vê-las conforme o contexto em que se enquadram. Um ready-made duchampiano pode ser arte tanto quando um nenúfar de Monet. Entretanto, seus contextos são tão colidentes que um está para o outro como a música está para o teatro. Quem vai a um museu observar uma roda velha de bicicleta está movido por uma necessidade diversa de quem vai a uma galeria comercial. No primeiro caso, uma mentalização em cima de uma teoria. No segundo, prazer, sentimento... alma. Em cada caso há o belo que cada um procura. Basta saber separar os contextos.
- Cenas Urbanas -

18.6.14

RON MUECK, O HIPER-REALISTA


                  Tais Luso de carvalho -
Ron Mueck, escultor australiano, reside e trabalha em Londres - Grã-Bretanha. Incrivelmente realista em suas esculturas que reproduzem os detalhes do corpo humano com enorme precisão, e que, se não fosse pelo tamanho, poderiam passar por seres de carne e osso. O objetivo de Mueck é  criar esculturas  cada vez mais reais. Ele brinca com as escalas para produzir imagens visualmente exageradas, irreais no tamanho, mas absolutamente reais nos detalhes. Suas esculturas mais parecem vivas.
Filho de migrantes alemães, nasceu em 1958 - Melbourne, Austrália. Decidiu em 1996, trabalhar como escultor independente. Com a sua versão de Pinocchio, o arquétipo de uma marioneta, muito fiel à realidade, logo seria descoberto pela cena artística internacional.
A natureza implacável da representação vem desde as plantas dos pés até as unhas por cortar, a pele enrugada, o envelhecimento nos olhos, veias, pelos, elasticidade da pele e todos os sinais estão presentes tornando suas esculturas fantásticas e chocantes. Prestem atenção nos cabelos das esculturas, são colocados fio por fio. Suas obras são a expressão concentrada de estados emocionais específicos da vida. Do inevitável.
O trabalho em resina, fibra de vidro, acrílico e silicone  consome muito tempo. Uma razão específica é o fato de Mueck trabalhar nas esculturas com modelos vivos, e por vezes em barro e que Inicia trabalhando nas proporções corretas.
A precisão dos gestos, a aparência realista da carne, fazem as esculturas parecem totalmente reais. Essas obras descrevem situações imaginárias, mas sua obsessão com a verdade evidencia a busca de um artista pela perfeição, munido de uma incrível sensibilidade pela forma e material. 

Pressionando os limites da semelhança, Mueck cria obras que são secretas, meditativas e misteriosas. Pode passar uma hora e meia fazendo apenas o olho de uma escultura. E essa busca pelo perfeccionismo teve origem na sua infância, nas cobranças do pai, um alemão rigoroso.
"Quando era criança, ele já fazia os bonecos e as marionetes para vender no mercado. O pai ficava o tempo todo dizendo: não, muda, não está bom, faz de novo. Era uma exigência e daí essa extremada perfeição, esse detalhismo que ele tem para tudo", conta Carlos Alberto Chateubriand, presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Ron Mueck é um homem que gosta de estar só, trabalha sem pressa em seu atelier em Londres, onde revitalizou por completo a escultura figurativa contemporânea. Por onde passa, suas exposições têm sucesso enorme, batem recorde.
'Eu quero fazer algo a que uma fotografia não conseguiria fazer justiça. Embora passe muito tempo ocupado com a superfície, é a vida interior que quero captar'.
o homem grande
detalhe do rosto
Menina

casal com guarda-sol  2013
detalhe do corpo -  do casal com guarda sol 2013
Duas mulheres  2005
detalhe - rosto das duas mulheres
Women With Shopping 2013 (detalhe)

O homem no barco 2002 (observado pelos visitantes...)
Veja o vídeo!!
________________
Referências: 
Realismo - Kerstin Stremmel ed Taschen
100 Ideias Que Mudaram a Arte - Michaael Bird

20.5.14

PINTURA FLAMENGA / 1420 – 1580




               - Tais Luso de Carvalho

No princípio do século XV, no norte da Europa, na região de Flandres (hoje, aproximadamente Bélgica e Luxemburgo), haviam indícios que apontavam para o começo de uma nova era, mesmo os flamengos não absorvendo as inovações no campo das artes comparando-se ao que sucedeu no Renascimento. A pintura ficou por mais tempo ligada à tradição medieval. Paulatinamente é que despontou a arte da velha Flandres, terra dos Flamengos na Europa, de grande importância cultural e econômica desde a Idade Média.

Os primeiros sinais de mudança surgiram inicialmente no campo da escultura, com  Claus Sluter (1350-1405).

Aos poucos os temas religiosos foram cedendo lugar aos temas mundanos. Os pintores flamengos transferiam as cenas religiosas para um ambiente profano, tentando representar o espaço, a cor, os corpos e a luz, de maneira mais natural o possível.

O povo via os conflitos sociais, fruto das bruscas mudanças econômicas, as guerras, os surtos da peste e o flagelo da fome, que no século 15 se abateram sob os países baixos. A insegurança gerou o fanatismo religioso; procissões intermináveis de fiéis que se autoflagelavam, enquanto os seus pecados percorriam o país, levando a religião católica a uma profunda crise. A necessidade de uma orientação determinante de reforma, era óbvia.

Enquanto que a arte italiana do século XV tinha por base a perspectiva linear, calculada matematicamente, os pintores flamengos utilizavam a chamada perspectiva intuitiva. Ao contrário dos artistas do Renascimento italiano, que se esforçavam por representar o mundo de forma científica e racional, construindo os quadros a partir do interior, os artistas flamengos tentavam desvendar os segredos do mundo por meio do olhar exterior, observador e exato. Os pintores aprendiam com sua própria experiência de visão, assim como pelo conhecimento sobre as características dos objetos.

Pintavam o que viam, e dessa maneira os artistas conseguiam aproximar-se bastante do efeito da perspectiva central. Com essa forma de percepção, baseada no olhar e na experiência, os artistas descobriam ainda que com o aumento da distância, as formas vão perdendo cada vez mais os contornos e que a intensidade das cores diminui, mudando para tons azulados.

Os artistas flamengos se deleitavam com as oportunidades que a pintura a óleo lhes oferecia. Retratavam o mundo em que viviam com uma originalidade genuína, como se estivessem vendo tudo pela primeira vez.

BOSCH / 1450-1516
As obras de Hieronymus Bosch são a imagem desse sentimento geral. Ele transforma o inferno em algo terrestre, pois representa os abismos da humanidade, os seus vícios e os seus erros com extrema minuciosidade. O fantástico das suas obras, que já no seu tempo se tornou famoso, consiste no fato de Bosch conseguir unir num todo, o realismo (na forma de pintar) e o simbolismo (no que se refere ao sentido), mas sem querer representar os abismos
da alma humana; as suas visões aflitivas tinham uma intenção moral. Os seus mundos pictóricos eram advertências para os sofrimentos infernais que esperariam o homem, devido aos seus delitos profanos no seu dia a dia.

BRUEGHEL / 1525 - 1569
Os quadros de Pieter Brueghel, o pintor flamengo mais importante do século 16, tem um cunho pedagógico e moral comparável. Ele executava pinturas que, como as de Bosch também eram exemplificadas. No entanto, esse pintor extremamente culto não representava visões dos infernos ou temas religiosos, mas sim os temas atuais de sua época. A sua obra A Construção da Torre de Babel, pode ser vista de acordo com a moral bíblica – como um aviso à presunção humana, um fenômeno que o pintor deve ter observado nos seus contemporâneos.

JAN VAN EYCK / 1395 - 1441
Este quadro - Retrato do Noivado Arnolfini 1434 - representa de forma naturalista um casal num interior burguês. Marca a viragem da arte sacra para a arte profana. Esposa e esposo encontram-se no quarto do casal, suntuosamente vestidos a fim de contrair matrimônio. A seus pés, vê-se um pequeno cão como símbolo da fidelidade conjugal. No candelabro reluzente, uma única vela acesa simboliza a presença de Cristo.

OUTROS:
Petrus Christus - Joris van der Paele - Mestre do Frémalle - Melchior Broederlam -
Van der Weyden - Hans Memling - Gerard David entre tantos outros.







22.4.14

ISMAEL NERY – UMA VIDA SOFRIDA

Ismael Nery - obras

- Tais Luso de Carvalho

Ismael Nery nasceu em Belém do Pará em 1900. Junto com Cícero Dias e Oswaldo Goeldi foi um dos expoentes dos anos 1920.

Aos 33 anos já no fim de sua vida (tuberculose), suas palavras traduziram a angústia do artista incompreendido. Demasiadamente inovadoras para a época suas obras obtinham uma reação fria e indiferente do público. Entretanto Ismael dedicou toda a sua vida a elas; a arte sempre foi sua vida, sua vocação.

Não tenho sido na vida senão um grande ator sem vocação. Ator desconhecido, sem palco sem cenário e sem palmas.

Foi para o Rio de Janeiro ainda criança. Aos 18 anos matriculou-se na Escola de Belas Artes e dois anos depois foi para Paris onde frequentou a Academia Julien e a Escola de Arte.

Quando voltou ao Brasil em 1922 intensificou sua atividade de pintor e desenhista. Mais tarde, após uma nova estada em Paris, Ismael voltou em sua cidade natal e realizou sua primeira exposição, sem nenhum sucesso. Em 1929 o fracasso se repetiu, na mostra do Palace Hotel do Rio de Janeiro.

Casado com Adalgisa Néry, mantinha a família exercendo um cargo público. Além de pintor, era poeta, mas sua poesia também não era aceita. Apenas um reduzido número de amigos o compreendia, entre eles o poeta Murilo Monteiro Mendes que escrevia artigos sobre Ismael, procurando projetá-lo no mundo artístico.

Entretanto, em 1930, o artista tuberculoso, não pode mais lidar com as tintas. Dedicou-se, então, ao desenho, criando obras que refletiam a tragédia de sua vida.

Após sua morte, em 1934, Adalgisa entregou seus trabalhos para Murilo Mendes que os guardou até 1965. Apenas alguns entendidos conheciam suas obras e algumas delas foram incluídas na VIII Bienal de São Paulo, e a partir dessa época o nome de Ismael Nery adquiriu fama.

Os colecionadores procuravam seus quadros e as galerias disputavam a sua exposição. Eram óleos, desenhos e aquarelas de caráter universal, onde a realidade brasileira estava ausente.

O tema girava em torno do homem atemporal que tanto pode vestir trajes da antiguidade como os costumes simples do proletário moderno.

A X Bienal mostrou novamente essas obras originais em que Ismael reuniu nas formas expressionistas (1922 a 23), cubistas (1924 a 27) e surrealistas (1927 a 34), expressando o problema íntimo da comunicação e do amor.

Muito atuante no modernismo brasileiro, veio a falecer prematuramente em 1934 aos 34 anos, de tuberculose, num mosteiro franciscano. Portanto, suas obras passam a ser reconhecidas após sua morte.








Desenho em nanquim

7.4.14

JOSÉ PANCETTI


- Tais Luso de Carvalho

O pintor modernista José Pancetti, (Giuseppe Giannini Pancetti), nasceu em Campinas, São Paulo em 1902. Filho de emigrantes italianos, de família humilde, passou sua infância em meio a dificuldades. Aos 10 anos, devido a um incidente familiar foi levado por um tio para a Itália. Essa viagem lhe proporcionou o primeiro contato com o mar lhe provocando uma emoção que o acompanharia pelo resto da vida.

Na Itália trabalhou como aprendiz de carpinteiro numa fábrica de bicicletas, em outra de material bélico, só encontrando satisfação e tranquilidade quando ingressou para a marinha mercante italiana que lhe proporcionou o reencontro com o mar. Retornou ao Brasil em 1920, alistando-se na marinha brasileira dois anos mais tarde como grumete.

Embarcou em vários navios de guerra, viajando pelo Brasil e por outros países. Daí surgiu seu primeiro desenho. Passou a compor nas horas vagas cartões-postais, paisagens sempre aplaudido pelos seus companheiros de bordo por suas qualidades artísticas.

Já instalado no Brasil, ingressou no Núcleo Bernadelli, uma espécie de atelier livre, fundado em 1931 no Rio de janeiro. Dois anos mais tarde conheceu o pintor polonês Bruno Lechowski, que se tornou seu mestre. Em contato com outros artistas, passou a enviar trabalhos para o Salão Nacional de Belas Artes, conquistando menção honrosa e medalhas de bronze, prata e ouro.

NÚCLEO BERNARDELLI

No ano de 1931, no Rio de janeiro, formou-se um grupo de jovens que não aceitava mais os princípios tradicionalistas que predominavam no ensino da arte, principalmente na Escola Nacional de Belas Artes, que ainda era regida pelas ideias da Missão Artística Francesa.

Esse grupo carioca recebeu o nome de Núcleo Bernardelli, que no fim do século 19 haviam contribuído para a renovação da arte brasileira. Dele faziam parte, entre outros, os artistas Ado Malagoli, José Pancetti e Milton Dacosta. Apesar deste grupo ter sido renovador, ele representou um aspecto menos radical do modernismo. 
(História da Arte, ed Ática)


Em 1941, o Salão Nacional de Belas Artes concedeu-lhe o prêmio de uma viagem ao estrangeiro, mas Pancetti, gravemente doente, recebeu o prêmio convertido em pensão para custear seu tratamento em Campos do Jordão. No novo ambiente sua pintura transformou-se: surgiram as paisagens serranas, com marrons e vermelhos substituindo o cinza, o verde e o azul das marinhas.

Cinco anos mais tarde sua carreira artística estava em plena ascensão. Entre outras exposições participou da 1ª Bienal de Veneza / 1950, e da 1ª Bienal de São Paulo / 1951.

A partir dessa época, suas telas adquiriram cores mais depuradas e vibrantes, criando figuras e naturezas mortas, sempre dentro de um estilo próprio, alheio a qualquer tipo de corrente.

Após sua participação na XXV Bienal de Veneza, passou a residir em Salvador, dedicando-se por inteiro à pintura, já que passou para a reserva da marinha como primeiro-tenente, após servi-la por 25 anos.

Suas obras estão guardadas em inúmeras instituições artísticas nacionais e internacionais. É reconhecido como um dos mais brilhantes paisagistas brasileiros. Com ele, esse gênero de pintura atinge seu ponto alto, pela exuberância, pelo sensualismo plástico e pela espontaneidade, pelos quais soube tão bem captar a cor e a luminosidade dos trópicos brasileiros.

Em 1955 foi definitivamente consagrado, através de uma retrospectiva organizada pelo Museu de Arte Moderna no Rio de janeiro.
Passou os últimos anos de sua vida buscando inspiração para suas obras nas brancas areias da Bahia. 

Faleceu em 1958 no Rio de Janeiro, no Hospital da Marinha aos 56 anos de tuberculose.

Farol da barra - 1952
Campos do Jordão
Arsenal da Marinha - 1936
Marinha - 1945
Mar Morto - 1941
Lavadeira do Abaeté - 1957
Natureza morta - 1943