Posto aqui, na íntegra, um belo texto de Érico Santos, consagrado artista plástico, um dos expoentes do mercado de arte no Rio Grande do Sul. Texto retirado de um de seus livros 'Arte: Emoção e Diálogo' - ed Uniprom - pag 13.
'Erico debate neste livro questões atuais da arte, tecendo considerações sobre a evolução do gosto, dos estilos e principalmente dos suportes artísticos que tanto desconcertam o público.'
POR
QUE UMA OBRA É BELA
Toulouse-Lautrec dizia que não
era a Gioconda que as pessoas iam admirar no Louvre, mas sua mística,
seu autor, sua história, seu valor.
Tais influências existem.
Basta o fato de que quando um artista é consagrado sua obra fica em
segundo plano ou até inexistente na consideração de quem a
adquire: eu tenho um Matisse... Fulano comprou um Degas... um Van
Gogh foi arrematado por… A
estas
alturas já não interessa
mais a fruição intrínseca da obra, e sim as vantagens advindas de
valores alheios a ela.
Uma
obra de arte pode exercer nas pessoas diversos interesses. Alguns
procuram incansavelmente a posse de um quadro sem sentir ou entender
absolutamente nada sobre o mesmo. Basta ver o frisson que uma
determinada pintura causa no mercado entre colecionadores,
investidores, marchands, mídia, etc. Mais tarde se verifica que era
falsa. Não me refiro às falsificações
das obras de Vermeer, por
exemplo, passadas pelo crivo dos maiores peritos, orgulhosamente
ostentadas até em museus e somente descobertas graças à confissão
do falsificador que ansiava pelo reconhecimento. Falo das
falsificações grosseiras que qualquer conhecedor de pintura tem
condições de constatar. Aqui,
garranchos grotescos com a alcunha falsa de Di Cavalcanti, Portinari
e outros mestres era disputado freneticamente em leilões e galerias.
Como vê a pintura alguém que adquire um quadro destes?
As
diferentes maneiras com que as pessoas apreciam as obras de arte
muitas vezes estão diretamente relacionadas com suas convicções
íntimas, suas necessidades de fruição, de vaidade, de pecúnia ou
apenas porque tem uma pressuposição a respeito de uma determinada
escola, ou de incontáveis formas de manifestação artística. É o
belo da obra, transitando por fora dela mesma, dentro de cada cabeça
que não sabe ver o seu belo real.
Alguns
só querem a vanguarda. Existem os que só têm olhos para o cubismo.
Outros só pensam nos impressionistas. Há os que só se interessam
pelo resultado financeiro que lhes dará a obra, e muitos querem
qualquer coisa, desde que seu
decorador recomende, o que seja da cor do seu sofá.
Creio
que para sentir a beleza das obras de arte é preciso neutralizar
quaisquer influências exteriores, conhecer suas diversas
manifestações e vê-las conforme o contexto em que se enquadram. Um
ready-made duchampiano pode ser
arte tanto quando um nenúfar de Monet. Entretanto, seus contextos
são tão colidentes que um está para o outro como a música está
para o teatro. Quem vai a um museu observar uma roda velha de
bicicleta está movido por uma necessidade diversa de quem vai a uma
galeria comercial. No primeiro caso, uma mentalização em cima de
uma teoria. No segundo, prazer, sentimento... alma. Em cada caso há
o belo que cada um procura. Basta saber separar os contextos.