5.12.20

DE CHIRICO EM PORTO ALEGRE



       - Tais Luso de Carvalho


As mais expressivas obras de Giorgio De Chirico, um dos gênios da pintura do século XX, encontram-se em Porto Alegre na Fundação Iberê Camargo. Esta mostra começou no mês de dezembro de 2011 e ficará até março de 2012. 

Como não podia deixar de ver, fui ao encontro de suas obras. Digo que, sendo ele um de meus artistas preferidos, tive de segurar a emoção. Não imaginei que um dia pudesse ver suas obras tão de perto. E até tocá-las com o coração... 

A exposição O Sentimento da Arquitetura – obras da Fundazione Giorgio e Isa De Chirico, mostra 45 pinturas, 11 esculturas produzidas por De Chirico, - mestre da arte metafísica entre os anos de 1950 e 1970 -, além de 66 litografias de 1930, apresentadas juntas pela primeira vez. A arquitetura é um dos motivos centrais da pintura do italiano, pioneiro do Surrealismo e criador da chamada pintura metafísica. E está presente em toda a exposição.

Diz o pintor que a arte é uma indagação sobre o que é o indivíduo moderno. Ele nos mostra como a arquitetura e o imaginário visual são formas de entender a vida – segundo Maddalena D'Alfonso, crítica italiana de arte e arquitetura e curadora dessa retrospectiva de De Chirico. Suas cidades são mostradas sob diversas formas: a cidade metafísica, a cidade renascentista, a cidade hermética e a cidade moderna, sendo a mais conhecida a cidade metafísica.

A cidade metafísica ocorreu em Florença, executada em Ferrara, um exemplo está em Musas Inquietantes. Fragmentos díspares se põem ao lado do Castelo Estense, que surge em perspectiva distorcida sobre um palco de tábuas onde se assentam misteriosas esculturas manequins.

A cidade dequiriquiana também é clássica, inspirada no mito grego e na arquitetura renascentista. Como exemplo temos O pensador.

A cidade hermética nos dá como exemplo a obra Triângulo metafísico com luva.
A cidade moderna, de praças geométricas silenciosas e melancólicas, perdidas no vazio e como à espera, onde se transfiguram os primeiros exemplos da moderna arquitetura turinense adorada por Nietzsche, imagem da cidade que veio a inspirar parte da arquitetura do século XX.

A articulação do imaginário de Chirico não se esgota na representação de espaços externos, mas também inclui cenas de interiores, apresentando cômodos com objetos como metáforas da complexidade mental e efetiva do homem moderno.

Em Os Arqueólos, por exemplo, homens compostos de relíquias da antiguidade, são os laboriosos mineradores da história e da memória, de cujas vísceras extraem para a luz os vestígios de civilizações esquecidas, que são o fundamento da nossa.

Vê-se, na obra de Chirico que há sincronia entre passado e presente, que remonta aos gregos, em cujo centro se ergue o homem de espírito e de poesia.
 
De Chirico viveu em Florença, Turim, Munique, Nova York,Ferrara e Paris, até fixar-se em Roma. De Chirico inspirou o grupo surrealista de André Breton, como o espaço surreal, onde atravessam simultaneamente o vapor de uma locomotiva e a vela homérica – diz Maddalena.

Percebe-se na sua obra que tempo e espaço estão em suspensão – como manda a metafísica. Em suas obras aflora um artista, um filósofo, um arqueólogo.

O gaúcho Iberê Camargo foi aluno do pintor em Roma, no ano de 1948, quando ganhou uma bolsa de estudos na Europa. O que aprendeu com De Chirico, foi o processo de misturar as tintas e pigmentos e de trabalhar a pintura.



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Fonte:
Fundação Iberê Camargo / Exposição De Chirico –
O Sentimento Da Arquitetura - Curadoria Maddalena d'Afonso