15.7.24

BARROCO NO BRASIL / ALEIJADINHO

Igreja de S.Francisco da Penitência / Rio de Janeiro 



 -Tais Luso de Carvalho

O Barroco foi introduzido no Brasil no início do século XVII pelos jesuítas, que trouxeram o novo estilo como instrumento de doutrinação cristã. Nas artes plásticas seus maiores expoentes foram Aleijadinho - na escultura  e Mestre Ataíde - na pintura onde suas obras, consideradas as mais belas do país despontaram com maior encanto a partir de 1766.


Nossa Senhora das Dores / Aleijadinho

O barroco brasileiro é associado claramente à religião católica. Em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco encontram-se os mais belos trabalhos de relevo em madeira - as talhas - e esculturas em pedra sabão. Já nas regiões mais pobres, onde não havia o comércio de açúcar e ouro, a arquitetura das igrejas apresentava aparência mais modesta, assim como as residências, chafarizes, câmaras municipais etc.

No Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, terras do Paraguai e Argentina, chamadas de região missioneira, a arquitetura era diferenciada da arquitetura do Nordeste e das regiões das minas de ouro, pois os jesuítas misturaram elementos da arquitetura românica e barroca da Europa, pois os construtores eram de origem européia. 

No Nordeste, somente no século XVIII houve total domínio do requinte do barroco. De Salvador saia grande quantidade de riqueza do país para Portugal e também vinham os artistas portugueses e produtos. 

Riquíssima é a Igreja de São Francisco de Assis, com seu interior revestido de talha dourada levando para si o título de a Igreja mais linda do Brasil. 

Os mestres maiores da arte sacra foram Aleijadinho e Mestre Ataíde, onde suas obras, consideradas as mais belas do país despontaram com maior encanto a partir de 1766. 

O período barroco brasileiro tem, então, em seus santos e suas igrejas a mais significativa manifestação de fé e de arte: não só uma fé intimista com que cada pessoa se relacionava com seu santo, mas também, como uma expressão ímpar de ver, sentir e vivenciar a arte.

ANTONIO FRANCISCO LISBOA - O ALEIJADINHO:

 
As maiores expressões do Barroco Mineiro são, sem dúvida, o Aleijadinho e Ataíde. Mas a arte setecentista de Minas Gerais foi criação de uma infinidade de artistas, dos quais muitos permanecem no anonimato.

Antônio Francisco Lisboa - 1738/ 1814

Era o nome completo do Aleijadinho, nascido em Vila Rica, em 1738, filho bastardo do português Manuel Francisco Lisboa e de uma escrava, Isabel. Tendo nascido escravo, foi libertado pelo pai no dia de seu batizado.

Entalhador, escultor e arquiteto, trabalhava madeira e pedra-sabão, de que foi o primeiro a fazer uso na escultura. Considera-se que tenha aprendido o ofício com o próprio pai e outros mestres, José Coelho Noronha e João Gomes Batista. Mas é provável que sua genialidade criativa tenha prevalecido sobre as lições aprendidas.

Quase tudo o que se sabe sobre a vida de Aleijadinho vem de uma memória escrita em 1790, pelo segundo vereador de Mariana, o capitão Joaquim José da Silva, e da biografia escrita por Rodrigo José Ferreira Bretãs, publicada em 1858. Ultimamente, sua vida e obra têm despertado o interesse de estudiosos dentro e fora do país, embora permaneçam ainda muitos pontos controvertidos.

Uma grave doença o acometeu aos 39 anos de idade. A enfermidade deformou seu rosto e atacou seus dedos dos pés e das mãos, donde lhe veio o apelido. Apesar da doença, continuou a trabalhar incansavelmente, sendo auxiliado por três escravos: Januário, Agostinho e Maurício. Era este último que amarrava as ferramentas nas mãos deformadas do mestre.

Igreja São Francisco de Assis / Ouro Preto

O primeiro trabalho artístico importante do Aleijadinho data de 1766, quando recebeu a incumbência de projetar a Igreja de São Francisco, de Ouro Preto, para a qual realizou, posteriormente várias outras obras. Quatro anos depois, desenvolveu trabalhos para a Igreja do Carmo, de Sabará. Em seguida trabalhou para a Igreja de São Francisco, de São João del Rei. Enfim, ele recebia muitas encomendas, e às vezes, prestava seus serviços em obras de duas ou mais cidades simultaneamente.  

No final do século XVIII, ele se encontra em Congonhas, onde permaneceu de 1795 a 1805, trabalhando para o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, para o qual esculpiu os Profetas em pedra-sabão e as estátuas em madeira dos Passos da Paixão. Seu último trabalho, de 1810, foi o novo risco da fachada da Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes.

Ficou cego pouco depois, e viveu os últimos anos sob os cuidados de Joana Lopes, sua nora. Faleceu em 1814, aos 76 anos de idade, tendo sido sepultado no interior da Matriz de Antônio Dias, em Ouro Preto.

por Aleijadinho
Mosteiro de São Bento / Rio de Janeiro - clique foto
Anjo da Paixão / Aleijadinho - Santuário de Matosinhos
Igreja de São Francisco / Bahia -  AMPLIAR CLIQUE FOTO

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29.5.24

FRIDA KAHLO 1907 / 1954


The Little Deer - 1951
  

 - por Tais Luso  de Carvalho


Pintora mexicana e de muita relevância para as artes e principalmente para seu país. De temperamento e atitudes independentes para sua época, possuía uma saúde frágil desde sua infância, se agravando após um acidente de carro, na cidade do México, quando saia da escola.

Sua obra é muito interessante, principalmente seus autorretratos onde podemos ver seus traços fortes, suas sobrancelhas que se juntam acima do nariz. Podemos ver que a artista domina completamente a arte do desenho.

De atitudes muito de vanguarda para sua época, Frida só agia de acordo com suas convicções. Quando em 1913 contraiu poliomielite, aos 6 anos,  ficou com uma lesão no seu pé direito. A partir disso ela começou a usar calças e depois, longas e exóticas saias, que vieram a ser uma de suas marcas.

De 1922 a 1925 Frida começou a interessar-se muito por pintura e a frequentar a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México onde assistia as aulas de desenho. Em 1925, aos 18 anos aprendeu a técnica da gravura com Fernando Fernandez. Porém sofreu um grave acidente num ônibus no qual viajava. Este chocou-se com um trem, levando a artista a um longo sofrimento. 


Em 1928 quando Frida Kahlo entrou no Partido Comunista Mexicano, conheceu Diego Rivera, pintor muralista com quem se casaria no ano seguinte. Entre 1930 e 1933 ficou muito em Nova Iorque e Detroit com o marido.

Frida retratava a sua biografia nas obras.  Durante toda a sua vida, o amor e a dor – física e emocional – estiveram em suas obras tanto na vida pessoal quanto na profissional. O acidente de ônibus que lhe causou lesões no útero e na coluna, 30 operações ao longo de sua vida, mais seus abortos, e as inúmeras traições de Diego Rivera,  não poderiam estar ausentes das telas de Frida.

Submeteu-se a várias cirurgias ficando muito tempo acamada. Durante a sua longa convalescença começou a pintar, com uma caixa de tintas que pertenciam ao seu pai, e com um cavalete adaptado à cama.

André Breton, poeta francês e teórico do surrealismo, em 1938 qualifica a obra de Frida como surrealista, para uma exposição na galeria Julien Levy de Nova Iorque. Após esta ocasião disse ela: 

Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade.
Sua realidade era dolorosa apesar de ter tido inúmeros relacionamentos amorosos inclusive com o líder revolucionário russo Leon Trótski. Sua ardente relação com o marido, Diego Rivera, muralista mexicano, era turbulenta (ambos tinham casos extraconjugais) e foi pontuada por períodos de separação. Após o assassinato de Trótski, eles se casaram meses depois.

Portanto, sua vida afetiva sempre foi tumultuada, jamais encontrou a paz. Em seu atestado de óbito consta que veio a falecer de embolia pulmonar, não se descartando, porém, ter sido envenenada por alguma das amantes de seu marido.  Isso, segundo a biópsia.

Das 143 pinturas de Frida Kahlo, mais de 50 são autorretratos e até mesmo seus outros trabalhos são estritamente autobiográficos.

Nasceu em Coyoacán. Seu pai era fotógrafo alemão e sua mãe uma mestiça. Frida teve sua perna direita amputada em 1953, após exposições no México, Estados Unidos e Europa. Morreu de câncer em sua cidade natal.



Auto-retrato                                                Árvore da Esperança
As duas Fridas -  1939
Abraço Amoroso no  Universo  - 1949
Auto-retrato entre fronteira do México e Estados Unidos - 1937
Dois nus numa floresta - 1939

Frida e Diego Rivera



Referências: Tudo sobre Arte - Sextante / RJ 2011
História da Arte - Graça Proença


Interior do Museu e mais fotos de Frida Kahlo
Clique aqui: BLOG DA MARI-PI-R



29.4.24

JUAREZ MACHADO - OBRAS


Femme au Robe Orange


Renomado pintor brasileiro, Juarez Machado vive como quer; sua vida é muito interessante e é esse aspecto que quero abordar, pois suas extravagâncias são dignas de relatar.

Nasceu em 16 de março de 1941 na cidade de Joinville / SC, Brasil. Pintor multifacetado passeia pela pintura (inconfundível), pelo desenho, escultura, fotografia, teatro e mímica. Lembro-me dessa sua fase de mímico, tinha um quadro na televisão, era genial.

Aos 18 anos muda-se para Curitiba matriculando-se na Escola de Música e Belas Artes, frequentando o curso por 5 anos. Sua primeira exposição foi em Curitiba, tinha como tema Bicicletas.

Em 1965 muda-se para o Rio de Janeiro e, seu humor – essencial em sua vida -, mistura-se ao dos amigos cariocas Millôr, Ziraldo, Jaguar e Henfil. Em 1978 começa seu tour: vai para Londres, Nova York, França, Alemanha e Itália. E em 1986 resolve estabelecer-se em Paris. Seu atelier atual ocupa todo um prédio no bairro de Montmartre. Diz que não tem casa, que tem ateliê, o que para ele significa pátria, não importando o lugar.

É metódico em sua rotina: acorda às seis horas da manhã para pintar; o centro de seu universo é o seu cavalete. O interessante é que Juarez se veste com roupas especiais para trabalhar, com muita elegância, coletes bem cortados, feitos por alfaiate, etc e tal. Nada daquelas nossas roupinhas de trabalho ou um avental branco. E diz que adora conversar com partes do seu corpo: conversa com seus pés, prometendo comprar-lhes uns sapatinhos que, já chegam à casa dos 100 pares...

Hoje, seus quadros estão presentes nas mãos dos melhores colecionadores do mundo. Desfruta de confortável situação e já é um dos nomes de prestígio da arte brasileira no exterior. Pinta óleo sobre tela e aquarelas. E seus desenhos são feitos com lápis crayon e caneta. 


O desenho é mais um processo interior, tenho um estilo machadiano, sou eu mesmo.

Tudo de Juarez Machado é muito personalizado, e ele, muito teatral. Seus pincéis ficam dentro de vasos de lalique. 


Dou respeito aos meus instrumentos de trabalho.

Não joga nada fora, junta tudo, até as rolhas do champanhe que bebe, por isso vai comprando apartamentos para guardar essas preciosidades... Mora em 6 andares e conta que foi influenciado a pintar, por seu pai – caixeiro viajante – e por sua mãe que pintava leques de seda.

Juarez foi uma criança que brincava sozinha, dado a esse motivo, ao tomar o café da manhã com a mão esquerda, usa a direita para desenhar personagens que o acompanham. É considerado o terror dos hoteleiros, pois com frequência muda-se de lugar para pintar, carregando consigo sua maleta de trabalho, transformando seu quarto de hotel em atelier.

Quero envelhecer em Paris, serei aquele velhinho na janela, que os vizinhos passam e dão bom-dia!

Realmente, Juarez Machado é um pintor um pouco diferenciado: ousado, alegre, extravagante e bon vivant! É um artista de peso e de conceito, com inúmeras exposições espalhadas pelo mundo. É o Brasil vivo, lá fora! Suas obras - inconfundíveis e ricas em detalhes - retratam bem nossa realidade.


             
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   Curitiba     
                           Em Veneza                                

Drinque



        Jazz Doré 2010                                             Ilha de Santa Catarina


Tango Atlântico 2007
                                               

Bebendo em Paris

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1987


prédio do ateliê / Paris







17.3.24

VINCENT VAN GOGH - 1853 / 1890



- Tais Luso de Carvalho

Vincent van Gogh nasceu em 1853, em Groot-Zundert, no norte da Holanda, o primeiro dos seis filhos de um pastor reformista. Foi um pintor individualista e um verdadeiro autodidata, e como tal, um dos mais importantes precursores da pintura moderna.
Sentindo a miséria urbana, Vicent foi despertado pelo fervor religioso e o desejo de servir aos seus semelhantes. Preparou-se para o mesmo ofício do pai, começando como pastor adjunto, iniciando seus estudos de Teologia em Amesterdã, mas interrompendo pouco tempo depois, pois tinha dificuldades de estudar e medo de fracassar, tendo sido reprovado, também, na Escola Evangélica de Bruxelas.
No final de 1878, obteve autorização para trabalhar por sua conta como missionário voluntário na região mineira de Borinage, na Bélgica. Apesar do seu grande fervor religioso e social, não foi bem-sucedido nesse contato com os mineiros. Seu zelo excessivo causou desconfianças entre os mineiros e indisposição no consistório, que o acusou de interpretar a doutrina cristã de modo demasiadamente literal.
Destituído em julho de 1879, passou um período de vagabundagem pelas estradas de Borinage. Sem fé e na miséria passou a acreditar numa nova missão: ao de trazer consolo ao homem pela arte. E foi nessa altura que Vincent Van Gogh começou a desenhar, para superar as angústias que sentia.
Absorveu o Impressionismo, tornando-se um importante precursor do Expressionismo. A sua obra vigorosa, a sua vida infeliz, marcada por repetidos fracassos, por uma grande dúvida interior e uma incrível força criadora, quase obsessiva, chamou a atenção das gerações vindouras.
Seu primeiro desenho seguiu o modelo de Jean-François Millet, pelo qual sentia uma grande admiração. Depois partiu para aquarelas próprias em que retratava a vida miserável dos mineiros. Em 1880 inscreveu-se na Academia de Arte de Bruxelas, porém permaneceu um autodidata, copiando uma série de pinturas sócio- românticas. No ano seguinte voltou por algum tempo à casa dos pais, porém teve um amor infeliz por uma prima viúva, o qual rompeu com a família.
Foi no final de 1881 que Vincent entrou como aprendiz no atelier de seu primo, o pintor Anton Mauve, e esse o aconselhou a pintar com tintas a óleo.
Influenciado pelos romances de crítica social de Flaubert e Zola, Van Gogh decidiu ser pintor dos humildes, em especial da vida dos camponeses. Permaneceu na província por curto tempo devido à solidão que sentia, e regressou novamente à casa dos pais, em Nuenen, em finais de 1883, ficando por dois anos.
Em 1885, depois de numerosos estudos, nasceu o quadro Os Comedores de Batatas. O relacionamento intrínseco das cinco personagens, sentadas à mesa, é conseguido com a pobre refeição de batatas que partilham, e com a luz escassa da lâmpada de petróleo que ilumina. O quadro exprime um forte componente social e tomado de resignação. As figuras parecem abatidas, os rostos magros e mãos ossudas.
Nesse período, a pintura de Van Gogh é sombria e pesada, por isso foram designadas de Realismo atormentado e sombrio.
Em 1886, seu irmão Theo dirigia uma galeria de arte em Paris. Van Gogh entrou em contato com o grupo de impressionistas e entusiasmou-se com as cores, a luminosidade do sol, adotando uma palheta cada vez mais clara, aprendendo a usar cores mais puras e contrastes mais intensos. Nessa época pintou 23 auto-retratos.
Cansado da vida social, Van Gogh foi instalar-se em Arles – pequena cidade no sul da França, no ano de 1888. Foi viver na Casa Amarela, e entusiasmou-se com a ideia de fundar uma cooperativa de artistas em Arles e, no fim daquele ano associou-se a Gauguin, o único que se juntou a ele.
No entanto, dois meses de trabalho foram suficientes para que as relações se deteriorassem: as ideias opunham-se, os temperamentos incompatibilizavam-se e terminou com uma grande discussão. Com os nervos à flor da pele, Van Gogh cortou a orelha esquerda, episódio conhecido e retratado. Porém, depressivo, o artista não deixou de criar grandes obras o qual retratou famosos quadros como os Girassóis, árvores, pontes, as casas e seus interiores.
Tornou-se obcecado pelo valor simbólico e expressivo das cores, passou a empregá-las com esse propósito, não mais para a reprodução das aparências visuais como faziam os impressionistas.
Em vez de tentar reproduzir exatamente o que tenho à frente de meus olhos, uso a cor de modo mais arbitrário, a fim de expressar-me com mais vigor”.
Em Maio de 1889, Van Gogh foi para um hospital psiquiátrico de Saint-Remy, perto de Arles, onde após uns dias de sossego, voltou a pintar nesse lugar, onde lhe deram uma espécie de atelier. As alucinações, os pesadelos e sua grande preocupação com a morte caracterizaram sua estadia em tal Clínica. Porém, mesmo com essas alternâncias, a continuidade de seu trabalho se fazia presente.
A angústia e depressão em que vivia o levaram ao suicídio em 29 de julho de 1890. Esquecido, sem jamais ter alcançado o sucesso, morreu ao lado de seu irmão Theo. Seu caixão foi coberto por girassóis – a flor que mais amava. Ao lado do caixão, seus pincéis e seu cavalete.
De 1872 a 1890, Vincent e Theo trocaram extensa correspondência, hoje reunida em livro. Talvez seja o documento mais importante sobre a trajetória artística de Van Gogh, que narra desde as angústias pessoais e dúvidas sobre o ofício e questões de técnica de pintura. À medida em que ele adoece, as menções à saúde e à fragilidade da vida aparecem com maior frequência. Nas cartas a Theo, Vincent também se mostra extremamente religioso, apegado a valores de transcendência espiritual que acaba traduzindo em seus quadros. Ele parecia estar ciente de que vivia um grande momento da arte e afirmava sua condição de gênio incompreendido.
Pense no tempo em que vivemos como uma grande renascença da arte, com novos pintores solitários, pobres, tratados como loucos” – observou em julho de 1888.
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Fontes: 
 História da Pintura – Könemann 
100 Obras Essenciais da Pintura Mundial
Enciclopédia Abril

20.2.24

ANITA MALFATTI

O Homem amarelo / 1915


                       - Tais Luso de Carvalho


          Anita Malfatti nasceu em São Paulo em 2 de dezembro 1889. Seu pai era de origem italiana e engenheiro, Samuel Malfatti. Sua mãe, Elisabete, de nacionalidade americana, era pintora, desenhista, mulher de boa cultura, cuidava pessoalmente da educação de Anita. Com a ajuda de um tio e de seu padrinho, Anita foi estudar pintura na Alemanha, pois já era visto ser possuidora de grande talento.

Após cursar a Academia Real de Belas Artes, aproximou-se de um grupo de artistas que haviam se desligado do academismo, cuja pintura era livre. Mas foi em 1914, regressando ao Brasil, que resolveu ir para a terra de sua mãe, Estados Unidos. Matriculou-se na 'Art Students League', que proporcionava aos alunos total liberdade de criação. Foi nesse período que Anita teve sua fase criativa mais brilhante, surgindo Mulher de Cabelos Verdes , O homem amarelo, O Japonês, e outros trabalhos voltados para o Expressionismo.

De volta ao Brasil, Anita fez uma Exposição no Mappin Stores, em 12 de dezembro de 1917. Ninguém poderia prever que os trabalhos de Anita seriam tão mal comentados e que provocariam uma enorme polêmica entre os adeptos da arte acadêmica.

Entre estas obras estava O Torso – obra do corpo de um atleta, destacado pela força e movimento dos músculos. O corpo ganhara volume, embora estivesse representado em uma superfície de apenas duas dimensões – largura e altura. Realmente o torso é o destaque, pois a cabeça, pés e mãos são apenas sugeridas.

E estes comentários viriam com maior força de um escritor considerado renovador - Monteiro Lobato no jornal 'O Estado de São Paulo', com o título 'A propósito da Exposição Malfatti', na edição de 20 de dezembro de 1917. Lobato não gostou. Bombardeou as obras da artista com muita agressividade. Anita entrou em depressão vivendo um período de sofrimento e desorientação, pois era tímida e indecisa. Sua primeira reação foi de abandonar a arte.

Monteiro Lobato, preso aos princípios conservadores, dizia na época que 'todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude'.
E foi mais longe em suas críticas à Malfatti, criticando, também, os novos movimentos artísticos.

Anos mais tarde, em contraponto às críticas de Monteiro Lobato, Mario de Andrade entra em cena expondo suas ideias no prefácio de sua obra 'Paulicéia Desvairada', publicada em 1922.

Na verdade, a agressividade de Monteiro Lobato seria dirigida aos modernistas, com quem Lobato tinha umas rusgas. Mas suas críticas atingiram Anita 'de cheio'. Passado algum tempo, Anita foi ter aulas com o mestre Alexandrino Borges - Natureza morta -, e lá conheceu Tarsila do Amaral tornando-se sua amiga.

Certamente havia os defensores de uma estética conservadora e outros que primavam pela renovação, que atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo.

Convencida por amigos, Anita entrou na Semana de Arte Moderna de 1922. As raízes brasileiras deveriam ser o ponto de partida, ser o foco de maior valorização dos artistas nacionais. Depois desta participação viajou para a Europa onde se encontrou com os amigos Tarsila, Oswald, Brecheret e Di Cavalcanti.

Mas no interior do teatro foram apresentados concertos e conferências, enquanto no saguão foram montadas as exposições de artes plásticas. Eram eles os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vitor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, J. F. de Almeida Prado, Inácio da Costa Ferreira e Vicente do Rego Monteiro.

Porém, após a exposição de 1917, Anita não conseguiu total recuperação, e já com idade mais avançada mudou-se com sua irmã para Diadema (SP), onde morreu em 6 de novembro de 1964, onde preferiu cuidar do jardim e esquecer de tudo.

A importância desse evento, da 'Semana da Arte Moderna' foi o marco para se fazer e compreender, um novo amanhecer da Arte.

'O grandioso e o majestoso, assim como a glória e o mágico sucesso me deixam calada, triste, mas as coisas fáceis de pintar, simples de se compreender, onde mora a ternura e o amor do nosso povo, isso me consola, isto me comove.' (Anita Malfatti)


O Torso / 1917
Mulher de cabelos verdes / 1917
O Japonês / 1916
A Boba / 1917
Estudante Russa -1915
Baby de Almeida - 1922


Le Rentrée - 1927


12.12.23

A MULHER ATRAVÉS DA PINTURA




     - Tais Luso de Carvalho


ATRAVÉS DOS TEMPOS...  

Há milhares de anos o homem faz arte olhando o mundo ao seu redor: paisagem, animais, outros homens. E tira para si algo que tenha significado ou possa transmitir uma ideia ou sentimento. Um livro de arte é como um livro do tempo, pois nos mostra o mundo, o homem através de muitos milheiros.

O homem das cavernas não pintava paisagens, e na arte egípcia e romana elas pouco apareciam. Só no renascimento as paisagens surgem na pintura. Temas e interesses, formas e conteúdos vão se modificando ao longo do tempo, assim como o próprio homem.

Em arte tudo é transformação, porém um tema, o único que sempre esteve presente, desde o período pré-histórico, é a mulher – presente e sempre passando por transformações.

Vênus de Willendorf - Escultura de pedra.

A primeira mulher foi esculpida por um caçador primitivo no período pré-histórico / paleolítico superior há 40.000 anos. Atualmente se encontra no Museu de História Natural de Viena. Tem 11 cm de altura e foi esculpida em calcário Oolítico. Foi encontrada em 1908 na Áustria.



Deusa das Serpentes / Creta 1800 a.C.

Com o passar dos séculos surge a mulher de vestido longo e seios à mostra, a figura esguia da Vênus pré-histórica – Deusa da Serpente. Como é uma deusa, embora tenha corpo humano, é distante e severa na postura e no olhar. Mede 29.5 cm de altura e encontra-se no Museu Arqueológico de Heraclião / Grécia.



Retrato da Esposa / 1350 a.C - Fig Egípcia

As figuras egípcias são de uma elegância aristocrática. Essa mulher é leve, magra e com roupa. O olho de frente e o rosto de perfil; o corpo de frente, as pernas e braços de lado. Durante séculos o Egito representou dessa maneira as figuras humanas por força de uma tradição ligada a valores religiosos. Durante muito tempo a arte do Egito foi esquecida da Europa. A partir do século XIX é que a arte dos egípcios foi descoberta, passou a inspirar os artistas e ser admirada.



Vênus de Milo / séc II a.C. - Grecia

A Grécia nos deixou um mundo povoado por mulheres ideais e homens perfeitos. Na exaltação de Afrodite, a Deusa do amor e da beleza, o artista buscou a harmonia formal: graça na postura, suavidade nos contornos, proporção nas formas: livre, solta e bela. Por isso encantou gerações de artistas, inspirando o Renascimento no século XV e o Neoclassicismo no século XIX.



Flagellato e la Baccanti / séc I - Roma

A pintura romana chegou até nós graças a um terrível acontecimento: as cidades de veraneio Pompéia e Herculano ficaram por muitos séculos soterradas sob as lavas de um vulcão. Só no século XVIII é que foram descobertas as ruínas das duas cidades que guardavam, pelas lavas ressecadas, grandes exemplos da pintura romana. A arte de Pompéia guardou um caráter misterioso e particular por estar ligada a uma série de ritual que só as mulheres tinham acesso. Através dessas obras encontradas é possível imaginar como seriam as pinturas gregas e dos povos sob sua influência que se perderam no tempo e não pudemos conhecer. Embora mais realista, suas figuras são mais pesadas, as mulheres mais volumosas e menos preocupadas com os deuses.



Imperatriz Teodora / séc. I – Bizâncio


Os deuses e nobres estão distantes dos homens comuns. A lição grega aprendida pelos romanos já não interessava mais. É outra gente, outra época em contato mais estreito com o oriente. As obras desse período são frias, distantes, sagradas. Brilha mais o ouro no mosaico que o olhar dos santos. No luxo das roupas, um símbolo do poder.



Período Românico – séc XII

São raras as figuras femininas no período românico. A própria vida da mulher na sociedade medieval é apagada e reclusa, pois valores da religião cristã impregnaram todos os aspectos da vida medieval. A igreja como representante de Deus na terra tinha poderes ilimitados e assim glorifica mais o Cristo do que a Virgem. A noção do mal e do bem orienta a arte e predomina a ideia de que a mulher representa o pecado. Invariavelmente numa manifestação românica, ela é santa ou pecadora e tem o corpo maltratado. Santa ou pecadora –, mas nunca uma simples mulher.




Virgem com o Menino e os anjos / séc XIV 
Período Gótico

Lentamente vão surgindo o sorriso e a 'mulher'. Aparece aqui nesse período a riqueza das roupas, a harmonia da postura, a graça e elegância dos contornos. Nesse período a imagem da Virgem é exaltada, reabilitando a mulher que não é mais pecado e pode ser bela.
Essa obra é do artista italiano Cimabue. (afresco da igreja S. Francisco de Assisi - 1280)



O Nascimento de Vênus / séc XV - Renascimento

Em imagens religiosas ou profanas a beleza da mulher é outra vez enaltecida. Os artistas retomam a lição dos gregos. Fatores de ordem econômica e social contribuíram para uma nova visão do mundo. Dominando o conhecimento científico o homem se coloca no centro do Universo. Desvinculando-se dos laços que a atavam à religião, a arte respira um ar de liberdade e a natureza passa a ser o foco das atenções. Procura-se a harmonia, a proporção das formas. A pintura consegue dar às figuras uma ilusão de vida, de volume. E as paisagens um sentido de profundidade, graças à perspectiva. E o artista modela os rostos e os corpos femininos, buscando outra vez uma beleza ideal, a perfeição absoluta. 



Escultura Africana  / séc XX 

Aqui, já são outras as proporções e significados. É visto na arte africana, que a obra tem de corpo magro e cabeça grande demais em relação aos padrões Ocidentais. Mas isso pouco importava diante da coerência e da força expressiva que impressionava na obra. Há muito tempo a arte africana era conhecida, embora desprezada pelos europeus. Apenas no início do séc. XX, artista como Picasso buscou inspiração na África, reabilitando essa arte.




Barroco – O rapto das filhas de Leucipo 
séc. XVII - Rubens

Aqui as mulheres são loiras, gordas e sensuais, aparecendo entre espirais e arabescos. Pintura explosiva, sensual que fala ao sentido com suas figuras tão distantes das imagens sagradas de Bizâncio. E das formas do Românico. Os nus de Rubens são exuberantes.



Condessa de Howe / Gainsborough - séc XVIII

Aqui nas obras de Gainsborough, as mulheres são de uma síntese inglesa de elegância, requinte e boas maneiras. As figuras se mostram sóbrias, calmas e recatadas. Até na cor há sutileza com tonalidades de outono. O artista criou uma delicada harmonia. Nada é exaltação. Se existe alguma é no capricho das rendas. Uma graça discreta.



Mulher puxando as meias / Toulouse Lautrec – 1894

Lautrec cria uma mulher mais humana do que bela; não é mais cantada a beleza da modelo. Está muito distante dos nus de Ingrés ou da exaltação renascentista. A mulher também não é mais um símbolo religioso. Agora é focalizada sua intimidade. Um desenho forte, marcante e ágil, por vezes até caricatural, define a figura. A cor e o modelo tem menos importância. A mulher pode ser fria e triste, mas sempre vista naquilo que tem de mais humano e sofrido.



Mulher ao espelho / Picasso – 1932

Para Picasso a mulher importa pouco, a realidade também. Ambas são pretexto para uma fantasia de formas e cores. Olhando-se essa obra se procurarmos simplesmente pela mulher, não teremos resposta. Mas se procurarmos a pintura, encontraremos a riqueza das formas, a força das cores, a emoção oferecida por um desenho fluído que descreve mil espirais. É também a mulher, mas pretexto para uma festa colorida de Picasso.



Marilyn / Pop-art – Andy Warhol

Com várias nuances de cor, Marilyn virou coqueluche. A pop art começou com a apropriação de objetos que, para surtir efeito precisava multiplicar-se, nos mesmos moldes da publicidade, da imprensa e da indústria das celebridades. Este era um dos segredos. Ainda mulher, mas esquematizada, transformada em símbolo gráfico. A cultura das massas, contemporânea, a partir de 1950. Embora simplificada para facilitar a repetição e a reprodução em larga escala, essa mulher ainda é capaz de transmitir sentimentos e ideias. O que de fato muda no passo rápido da evolução e do progresso é a maneira de representá-la com as mãos da arte, universal e terna e com os olhos de cada época.



A obra depois de criada se liberta do seu autor, do lugar onde surgiu, e passa a viver autônoma no mundo da arte.