17.3.24

VINCENT VAN GOGH - 1853 / 1890



- Tais Luso de Carvalho

Vincent van Gogh nasceu em 1853, em Groot-Zundert, no norte da Holanda, o primeiro dos seis filhos de um pastor reformista. Foi um pintor individualista e um verdadeiro autodidata, e como tal, um dos mais importantes precursores da pintura moderna.
Sentindo a miséria urbana, Vicent foi despertado pelo fervor religioso e o desejo de servir aos seus semelhantes. Preparou-se para o mesmo ofício do pai, começando como pastor adjunto, iniciando seus estudos de Teologia em Amesterdã, mas interrompendo pouco tempo depois, pois tinha dificuldades de estudar e medo de fracassar, tendo sido reprovado, também, na Escola Evangélica de Bruxelas.
No final de 1878, obteve autorização para trabalhar por sua conta como missionário voluntário na região mineira de Borinage, na Bélgica. Apesar do seu grande fervor religioso e social, não foi bem-sucedido nesse contato com os mineiros. Seu zelo excessivo causou desconfianças entre os mineiros e indisposição no consistório, que o acusou de interpretar a doutrina cristã de modo demasiadamente literal.
Destituído em julho de 1879, passou um período de vagabundagem pelas estradas de Borinage. Sem fé e na miséria passou a acreditar numa nova missão: ao de trazer consolo ao homem pela arte. E foi nessa altura que Vincent Van Gogh começou a desenhar, para superar as angústias que sentia.
Absorveu o Impressionismo, tornando-se um importante precursor do Expressionismo. A sua obra vigorosa, a sua vida infeliz, marcada por repetidos fracassos, por uma grande dúvida interior e uma incrível força criadora, quase obsessiva, chamou a atenção das gerações vindouras.
Seu primeiro desenho seguiu o modelo de Jean-François Millet, pelo qual sentia uma grande admiração. Depois partiu para aquarelas próprias em que retratava a vida miserável dos mineiros. Em 1880 inscreveu-se na Academia de Arte de Bruxelas, porém permaneceu um autodidata, copiando uma série de pinturas sócio- românticas. No ano seguinte voltou por algum tempo à casa dos pais, porém teve um amor infeliz por uma prima viúva, o qual rompeu com a família.
Foi no final de 1881 que Vincent entrou como aprendiz no atelier de seu primo, o pintor Anton Mauve, e esse o aconselhou a pintar com tintas a óleo.
Influenciado pelos romances de crítica social de Flaubert e Zola, Van Gogh decidiu ser pintor dos humildes, em especial da vida dos camponeses. Permaneceu na província por curto tempo devido à solidão que sentia, e regressou novamente à casa dos pais, em Nuenen, em finais de 1883, ficando por dois anos.
Em 1885, depois de numerosos estudos, nasceu o quadro Os Comedores de Batatas. O relacionamento intrínseco das cinco personagens, sentadas à mesa, é conseguido com a pobre refeição de batatas que partilham, e com a luz escassa da lâmpada de petróleo que ilumina. O quadro exprime um forte componente social e tomado de resignação. As figuras parecem abatidas, os rostos magros e mãos ossudas.
Nesse período, a pintura de Van Gogh é sombria e pesada, por isso foram designadas de Realismo atormentado e sombrio.
Em 1886, seu irmão Theo dirigia uma galeria de arte em Paris. Van Gogh entrou em contato com o grupo de impressionistas e entusiasmou-se com as cores, a luminosidade do sol, adotando uma palheta cada vez mais clara, aprendendo a usar cores mais puras e contrastes mais intensos. Nessa época pintou 23 auto-retratos.
Cansado da vida social, Van Gogh foi instalar-se em Arles – pequena cidade no sul da França, no ano de 1888. Foi viver na Casa Amarela, e entusiasmou-se com a ideia de fundar uma cooperativa de artistas em Arles e, no fim daquele ano associou-se a Gauguin, o único que se juntou a ele.
No entanto, dois meses de trabalho foram suficientes para que as relações se deteriorassem: as ideias opunham-se, os temperamentos incompatibilizavam-se e terminou com uma grande discussão. Com os nervos à flor da pele, Van Gogh cortou a orelha esquerda, episódio conhecido e retratado. Porém, depressivo, o artista não deixou de criar grandes obras o qual retratou famosos quadros como os Girassóis, árvores, pontes, as casas e seus interiores.
Tornou-se obcecado pelo valor simbólico e expressivo das cores, passou a empregá-las com esse propósito, não mais para a reprodução das aparências visuais como faziam os impressionistas.
Em vez de tentar reproduzir exatamente o que tenho à frente de meus olhos, uso a cor de modo mais arbitrário, a fim de expressar-me com mais vigor”.
Em Maio de 1889, Van Gogh foi para um hospital psiquiátrico de Saint-Remy, perto de Arles, onde após uns dias de sossego, voltou a pintar nesse lugar, onde lhe deram uma espécie de atelier. As alucinações, os pesadelos e sua grande preocupação com a morte caracterizaram sua estadia em tal Clínica. Porém, mesmo com essas alternâncias, a continuidade de seu trabalho se fazia presente.
A angústia e depressão em que vivia o levaram ao suicídio em 29 de julho de 1890. Esquecido, sem jamais ter alcançado o sucesso, morreu ao lado de seu irmão Theo. Seu caixão foi coberto por girassóis – a flor que mais amava. Ao lado do caixão, seus pincéis e seu cavalete.
De 1872 a 1890, Vincent e Theo trocaram extensa correspondência, hoje reunida em livro. Talvez seja o documento mais importante sobre a trajetória artística de Van Gogh, que narra desde as angústias pessoais e dúvidas sobre o ofício e questões de técnica de pintura. À medida em que ele adoece, as menções à saúde e à fragilidade da vida aparecem com maior frequência. Nas cartas a Theo, Vincent também se mostra extremamente religioso, apegado a valores de transcendência espiritual que acaba traduzindo em seus quadros. Ele parecia estar ciente de que vivia um grande momento da arte e afirmava sua condição de gênio incompreendido.
Pense no tempo em que vivemos como uma grande renascença da arte, com novos pintores solitários, pobres, tratados como loucos” – observou em julho de 1888.
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Fontes: 
 História da Pintura – Könemann 
100 Obras Essenciais da Pintura Mundial
Enciclopédia Abril

20.2.24

ANITA MALFATTI

O Homem amarelo / 1915


                       - Tais Luso de Carvalho


          Anita Malfatti nasceu em São Paulo em 2 de dezembro 1889. Seu pai era de origem italiana e engenheiro, Samuel Malfatti. Sua mãe, Elisabete, de nacionalidade americana, era pintora, desenhista, mulher de boa cultura, cuidava pessoalmente da educação de Anita. Com a ajuda de um tio e de seu padrinho, Anita foi estudar pintura na Alemanha, pois já era visto ser possuidora de grande talento.

Após cursar a Academia Real de Belas Artes, aproximou-se de um grupo de artistas que haviam se desligado do academismo, cuja pintura era livre. Mas foi em 1914, regressando ao Brasil, que resolveu ir para a terra de sua mãe, Estados Unidos. Matriculou-se na 'Art Students League', que proporcionava aos alunos total liberdade de criação. Foi nesse período que Anita teve sua fase criativa mais brilhante, surgindo Mulher de Cabelos Verdes , O homem amarelo, O Japonês, e outros trabalhos voltados para o Expressionismo.

De volta ao Brasil, Anita fez uma Exposição no Mappin Stores, em 12 de dezembro de 1917. Ninguém poderia prever que os trabalhos de Anita seriam tão mal comentados e que provocariam uma enorme polêmica entre os adeptos da arte acadêmica.

Entre estas obras estava O Torso – obra do corpo de um atleta, destacado pela força e movimento dos músculos. O corpo ganhara volume, embora estivesse representado em uma superfície de apenas duas dimensões – largura e altura. Realmente o torso é o destaque, pois a cabeça, pés e mãos são apenas sugeridas.

E estes comentários viriam com maior força de um escritor considerado renovador - Monteiro Lobato no jornal 'O Estado de São Paulo', com o título 'A propósito da Exposição Malfatti', na edição de 20 de dezembro de 1917. Lobato não gostou. Bombardeou as obras da artista com muita agressividade. Anita entrou em depressão vivendo um período de sofrimento e desorientação, pois era tímida e indecisa. Sua primeira reação foi de abandonar a arte.

Monteiro Lobato, preso aos princípios conservadores, dizia na época que 'todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude'.
E foi mais longe em suas críticas à Malfatti, criticando, também, os novos movimentos artísticos.

Anos mais tarde, em contraponto às críticas de Monteiro Lobato, Mario de Andrade entra em cena expondo suas ideias no prefácio de sua obra 'Paulicéia Desvairada', publicada em 1922.

Na verdade, a agressividade de Monteiro Lobato seria dirigida aos modernistas, com quem Lobato tinha umas rusgas. Mas suas críticas atingiram Anita 'de cheio'. Passado algum tempo, Anita foi ter aulas com o mestre Alexandrino Borges - Natureza morta -, e lá conheceu Tarsila do Amaral tornando-se sua amiga.

Certamente havia os defensores de uma estética conservadora e outros que primavam pela renovação, que atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo.

Convencida por amigos, Anita entrou na Semana de Arte Moderna de 1922. As raízes brasileiras deveriam ser o ponto de partida, ser o foco de maior valorização dos artistas nacionais. Depois desta participação viajou para a Europa onde se encontrou com os amigos Tarsila, Oswald, Brecheret e Di Cavalcanti.

Mas no interior do teatro foram apresentados concertos e conferências, enquanto no saguão foram montadas as exposições de artes plásticas. Eram eles os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vitor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, J. F. de Almeida Prado, Inácio da Costa Ferreira e Vicente do Rego Monteiro.

Porém, após a exposição de 1917, Anita não conseguiu total recuperação, e já com idade mais avançada mudou-se com sua irmã para Diadema (SP), onde morreu em 6 de novembro de 1964, onde preferiu cuidar do jardim e esquecer de tudo.

A importância desse evento, da 'Semana da Arte Moderna' foi o marco para se fazer e compreender, um novo amanhecer da Arte.

'O grandioso e o majestoso, assim como a glória e o mágico sucesso me deixam calada, triste, mas as coisas fáceis de pintar, simples de se compreender, onde mora a ternura e o amor do nosso povo, isso me consola, isto me comove.' (Anita Malfatti)


O Torso / 1917
Mulher de cabelos verdes / 1917
O Japonês / 1916
A Boba / 1917
Estudante Russa -1915
Baby de Almeida - 1922


Le Rentrée - 1927


12.12.23

A MULHER ATRAVÉS DA PINTURA




     - Tais Luso de Carvalho


ATRAVÉS DOS TEMPOS...  

Há milhares de anos o homem faz arte olhando o mundo ao seu redor: paisagem, animais, outros homens. E tira para si algo que tenha significado ou possa transmitir uma ideia ou sentimento. Um livro de arte é como um livro do tempo, pois nos mostra o mundo, o homem através de muitos milheiros.

O homem das cavernas não pintava paisagens, e na arte egípcia e romana elas pouco apareciam. Só no renascimento as paisagens surgem na pintura. Temas e interesses, formas e conteúdos vão se modificando ao longo do tempo, assim como o próprio homem.

Em arte tudo é transformação, porém um tema, o único que sempre esteve presente, desde o período pré-histórico, é a mulher – presente e sempre passando por transformações.

Vênus de Willendorf - Escultura de pedra.

A primeira mulher foi esculpida por um caçador primitivo no período pré-histórico / paleolítico superior há 40.000 anos. Atualmente se encontra no Museu de História Natural de Viena. Tem 11 cm de altura e foi esculpida em calcário Oolítico. Foi encontrada em 1908 na Áustria.



Deusa das Serpentes / Creta 1800 a.C.

Com o passar dos séculos surge a mulher de vestido longo e seios à mostra, a figura esguia da Vênus pré-histórica – Deusa da Serpente. Como é uma deusa, embora tenha corpo humano, é distante e severa na postura e no olhar. Mede 29.5 cm de altura e encontra-se no Museu Arqueológico de Heraclião / Grécia.



Retrato da Esposa / 1350 a.C - Fig Egípcia

As figuras egípcias são de uma elegância aristocrática. Essa mulher é leve, magra e com roupa. O olho de frente e o rosto de perfil; o corpo de frente, as pernas e braços de lado. Durante séculos o Egito representou dessa maneira as figuras humanas por força de uma tradição ligada a valores religiosos. Durante muito tempo a arte do Egito foi esquecida da Europa. A partir do século XIX é que a arte dos egípcios foi descoberta, passou a inspirar os artistas e ser admirada.



Vênus de Milo / séc II a.C. - Grecia

A Grécia nos deixou um mundo povoado por mulheres ideais e homens perfeitos. Na exaltação de Afrodite, a Deusa do amor e da beleza, o artista buscou a harmonia formal: graça na postura, suavidade nos contornos, proporção nas formas: livre, solta e bela. Por isso encantou gerações de artistas, inspirando o Renascimento no século XV e o Neoclassicismo no século XIX.



Flagellato e la Baccanti / séc I - Roma

A pintura romana chegou até nós graças a um terrível acontecimento: as cidades de veraneio Pompéia e Herculano ficaram por muitos séculos soterradas sob as lavas de um vulcão. Só no século XVIII é que foram descobertas as ruínas das duas cidades que guardavam, pelas lavas ressecadas, grandes exemplos da pintura romana. A arte de Pompéia guardou um caráter misterioso e particular por estar ligada a uma série de ritual que só as mulheres tinham acesso. Através dessas obras encontradas é possível imaginar como seriam as pinturas gregas e dos povos sob sua influência que se perderam no tempo e não pudemos conhecer. Embora mais realista, suas figuras são mais pesadas, as mulheres mais volumosas e menos preocupadas com os deuses.



Imperatriz Teodora / séc. I – Bizâncio


Os deuses e nobres estão distantes dos homens comuns. A lição grega aprendida pelos romanos já não interessava mais. É outra gente, outra época em contato mais estreito com o oriente. As obras desse período são frias, distantes, sagradas. Brilha mais o ouro no mosaico que o olhar dos santos. No luxo das roupas, um símbolo do poder.



Período Românico – séc XII

São raras as figuras femininas no período românico. A própria vida da mulher na sociedade medieval é apagada e reclusa, pois valores da religião cristã impregnaram todos os aspectos da vida medieval. A igreja como representante de Deus na terra tinha poderes ilimitados e assim glorifica mais o Cristo do que a Virgem. A noção do mal e do bem orienta a arte e predomina a ideia de que a mulher representa o pecado. Invariavelmente numa manifestação românica, ela é santa ou pecadora e tem o corpo maltratado. Santa ou pecadora –, mas nunca uma simples mulher.




Virgem com o Menino e os anjos / séc XIV 
Período Gótico

Lentamente vão surgindo o sorriso e a 'mulher'. Aparece aqui nesse período a riqueza das roupas, a harmonia da postura, a graça e elegância dos contornos. Nesse período a imagem da Virgem é exaltada, reabilitando a mulher que não é mais pecado e pode ser bela.
Essa obra é do artista italiano Cimabue. (afresco da igreja S. Francisco de Assisi - 1280)



O Nascimento de Vênus / séc XV - Renascimento

Em imagens religiosas ou profanas a beleza da mulher é outra vez enaltecida. Os artistas retomam a lição dos gregos. Fatores de ordem econômica e social contribuíram para uma nova visão do mundo. Dominando o conhecimento científico o homem se coloca no centro do Universo. Desvinculando-se dos laços que a atavam à religião, a arte respira um ar de liberdade e a natureza passa a ser o foco das atenções. Procura-se a harmonia, a proporção das formas. A pintura consegue dar às figuras uma ilusão de vida, de volume. E as paisagens um sentido de profundidade, graças à perspectiva. E o artista modela os rostos e os corpos femininos, buscando outra vez uma beleza ideal, a perfeição absoluta. 



Escultura Africana  / séc XX 

Aqui, já são outras as proporções e significados. É visto na arte africana, que a obra tem de corpo magro e cabeça grande demais em relação aos padrões Ocidentais. Mas isso pouco importava diante da coerência e da força expressiva que impressionava na obra. Há muito tempo a arte africana era conhecida, embora desprezada pelos europeus. Apenas no início do séc. XX, artista como Picasso buscou inspiração na África, reabilitando essa arte.




Barroco – O rapto das filhas de Leucipo 
séc. XVII - Rubens

Aqui as mulheres são loiras, gordas e sensuais, aparecendo entre espirais e arabescos. Pintura explosiva, sensual que fala ao sentido com suas figuras tão distantes das imagens sagradas de Bizâncio. E das formas do Românico. Os nus de Rubens são exuberantes.



Condessa de Howe / Gainsborough - séc XVIII

Aqui nas obras de Gainsborough, as mulheres são de uma síntese inglesa de elegância, requinte e boas maneiras. As figuras se mostram sóbrias, calmas e recatadas. Até na cor há sutileza com tonalidades de outono. O artista criou uma delicada harmonia. Nada é exaltação. Se existe alguma é no capricho das rendas. Uma graça discreta.



Mulher puxando as meias / Toulouse Lautrec – 1894

Lautrec cria uma mulher mais humana do que bela; não é mais cantada a beleza da modelo. Está muito distante dos nus de Ingrés ou da exaltação renascentista. A mulher também não é mais um símbolo religioso. Agora é focalizada sua intimidade. Um desenho forte, marcante e ágil, por vezes até caricatural, define a figura. A cor e o modelo tem menos importância. A mulher pode ser fria e triste, mas sempre vista naquilo que tem de mais humano e sofrido.



Mulher ao espelho / Picasso – 1932

Para Picasso a mulher importa pouco, a realidade também. Ambas são pretexto para uma fantasia de formas e cores. Olhando-se essa obra se procurarmos simplesmente pela mulher, não teremos resposta. Mas se procurarmos a pintura, encontraremos a riqueza das formas, a força das cores, a emoção oferecida por um desenho fluído que descreve mil espirais. É também a mulher, mas pretexto para uma festa colorida de Picasso.



Marilyn / Pop-art – Andy Warhol

Com várias nuances de cor, Marilyn virou coqueluche. A pop art começou com a apropriação de objetos que, para surtir efeito precisava multiplicar-se, nos mesmos moldes da publicidade, da imprensa e da indústria das celebridades. Este era um dos segredos. Ainda mulher, mas esquematizada, transformada em símbolo gráfico. A cultura das massas, contemporânea, a partir de 1950. Embora simplificada para facilitar a repetição e a reprodução em larga escala, essa mulher ainda é capaz de transmitir sentimentos e ideias. O que de fato muda no passo rápido da evolução e do progresso é a maneira de representá-la com as mãos da arte, universal e terna e com os olhos de cada época.



A obra depois de criada se liberta do seu autor, do lugar onde surgiu, e passa a viver autônoma no mundo da arte.







25.11.23

O QUE É ARTE PARA VOCÊ?



- Tais Luso de Carvalho


Quando me deparo com uma obra de arte, vejo seu lado estético, sua linguagem e a mensagem que está inserida nessa obra. Vejo suas cores e seus traços.

Admiro obras que retratam a nossa história, o nosso cotidiano, as injustiças sociais, a brutalidade e a miséria. Cumprem, aí, a sua mais nobre missão: a de retratar os fatos, de protestar e de clamar por mudanças. Através da arte o artista manifesta suas próprias emoções, que não deixam de ter seu lado belo.

Também vejo a Arte que alegra o espírito e prima pela beleza: são as paisagens, cenas de bar, marinhas, festas, flores, retratos, cenas familiares. Ou outras imagens que levam paz, como a arte Sacra, por exemplo. Tudo entre belas e coloridas nuances.

Através da arte a humanidade relatou sua história. O homem deixou suas pinturas nas cavernas, importantes para o estudo da nossa espécie.

Gostar de uma obra é um sentimento pessoal, e depende da sensibilidade de cada um. Não são todos que gostam do Barroco, do Romantismo, Cubismo, Realismo, Impressionismo, Surrealismo, Pop Arte. E o artista é aquele ser especial dotado de técnica, de espírito crítico, de criatividade.

Mas o triste é o que se vê em algumas exposições ou em Bienais:

Uma porção de tijolos empilhados: é arte. Tocos de madeira cercados de arame, é arte. Uma montanha de pneus acompanhados de uma placa qualquer: é arte. Paralelepípedos colocados em sequência, é arte. Palitos de fósforos colados numa placa, é arte. E o sofrimento de animais, com fome, numa exposição, será arte? Pois é, aplaudir o sofrimento em nome da arte! Então fica difícil de entender e de captar certas mensagens. Fica difícil rotular isso de arte.

Vejo arte em vários museus, galerias, residências, oficinas e igrejas. Vejo obras dos grandes mestres, de todas as épocas, de todos os movimentos e depois dou de cara com algumas coisas inéditas e que minha sensibilidade tem de se amoldar rapidamente. Impossível.

Não tem como eu achar que uma tripa de ferro velho é um avião, e que as asas ficam para minha imaginação. A proposta para que o observador solte sua imaginação, deve, ao menos, partir de um princípio: dar um indício para poder se chegar a algum ponto.

E a liberdade, de gostar ou não da obra, é um direito indiscutível de quem a vê.
Arte, para mim, é quando ela tem a capacidade de emocionar ou quando dá prazer em olhar e descobrir detalhes, técnica e transmitir alguma mensagem dentro de uma lógica. Enfim, ver uma obra inteligente.

E quem quer interagir precisa ser um pouco mais claro. É a lógica que se espera. Essa comunicação existe desde a antiguidade, existe na pintura clássica, moderna, contemporânea, enfim. Em todas os períodos e movimentos.

A arte tem de ser uma manifestação democrática. Mas não é por ser democrática que pode exceder limites.  Cabe aos que a veem, compartilhar ou não; gostar ou não.

Temos de expressar - sem medo - nosso gosto, como fazemos em diversas outras artes. Por que é aceitável não gostar de uma obra literária, de jazz, de música clássica... e o mesmo não se dá com a Arte em si?

Por que 'o não gostar de uma obra de Arte ou de um Movimento' torna-se quase uma agressão e gera discussões intermináveis? Há algo de errado; há uma paixão acima da razão. E fica difícil quando alguém é dominado pelo medo e pelo constrangimento.

Portanto, é direito legítimo de cada um manifestar-se contra ou a favor;  gostar ou não gostar.

















12.11.23

ARNOLD BÖCKLIN - A Ilha dos Mortos

- 1880 - (em cinco versões)

- Tais Luso de Carvalho

Nascido na Suíça, em Basiléia / 1827, Arnold Böcklin aparece junto com Ferdinand Hodler, como o mais importante pintor suíço do século 19. Nas décadas de 1980 e 1890 foi o artista mais influente do mundo germânico ainda que, desde 1850 tenha passado a maior parte de seu tempo na Itália.

Logo enquadrou-se no Movimento Simbolista, da época, porém não se deixou influenciar pelos artistas franceses. Começou a pintar paisagens românticas. Depois suas obras inspiraram-se muito em figuras mitológicas, porém sua obsessão era com a morte; era ignorar a realidade e realçar a fantasia. Consolidou sua reputação com a obra 'Pan entre os Juncos' (1857), que marcou o momento que voltou ao mundo das ninfas, dos sátiros náiades e dos tritões, obtendo por vezes resultados absurdos.

Para ele o mundo era um sonho alucinatório, povoado dessas ninfas, sereias e faunos que traduzia a inquietude do homem. Sua tendência ao fantástico acentuou-se ainda mais após uma visita à Roma onde entrou em contato com as lendas e as mitologias locais dos quais extraiu o repertório para suas produções.

Posteriormente seu estilo tornou-se mais sombrio e carregado de sentimento místico como expressa em sua obra mais conhecida, A Ilha dos Mortos, perto de seu estúdio e onde enterrou sua pequena filha Maria. Essa obra, de 1880, encontra-se, atualmente, no Metropolitan Museun de Nova York. Ao todo são 5 versões - no qual o barqueiro dos infernos, Caronte, transportava as almas para outro mundo. Suas imagens mórbidas instigaram os surrealistas. O artista descreveu a primeira versão da obra A Ilha dos Mortos de uma maneira muito peculiar:

Aqui têm, como desejaram, um quadro para sonhar. Ele terá de parecer tão silencioso que nos assustamos se alguém bater à porta. - Böcklin.

O próprio Böcklin tinha intitulado seu quadro como Um Quadro Para Sonhar. Seu negociante de arte,  Gurlitt, que conhecia o gosto da época, interferiu e lhe deu o nome de A Ilha dos Mortos. É uma obra dramática e, na sua quinta versão aparecem trovoadas que tornam a cena mais clara e pesada. Mesmo assim a Ilha apresenta uma calma misteriosa e inquietante. Será um lugar de culto ou  jazigo? Vemos fantasia, tranquilidade, despedida e nostalgia.

Intensamente criativo, Böcklin transformou-se no decorrer de sua carreira, num pintor extremamente preocupado com os detalhes. Foi como se quisesse, através desses cuidados, dar uma consistência mais objetiva às suas inquietantes fantasias.

Trabalhou em Dusseldorf, Roma, Weimar, Basiléia, Zurique, Munique e Florença. Exerceu influência sobre Max Ernest, Salvador Dali e Giorgio De Chirico. A melhor coleção de Böcklin está em Kunstmuuseum da Basiléia, sua cidade natal. O atelier mostrado abaixo é em Zurique.
Veio a falecer em 1901 - em Fiesole.

Algumas Obras:

Despontar da Primavera 1880 - Jovem com Flores 1866 - Auto-retrato - Brincando nas Ondas 1883 -Triton e Nereida - Ulisses e Calipso 1883 - Mar Calmo  1887 - A Ilha dos Mortos (em 4 versões) - Pan entre os Juncos  1858 - Ataque de Piratas 1886 - Medusa - Santo Bosque - Capela - Ruínas do Mar, entre tantas outras.

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Outra versão de A Ilha dos Mortos


Fontes:
Dicionário Oxford
Arte nos séculos – abril cultural
História da Pintura - Könemann

Arnold Böcklin