18.10.08

MARCEL DUCHAMP / A ANTIARTE

A Fonte / 1917 - Duchamp


- Tais Luso de Carvalho 


Marcel Duchamp nasceu na França 1887. Foi um dos precursores da arte conceitual e introduziu a idéia de ready-mades (objeto pronto) como obra de arte. Começou como pintor impressionista, expressionista e cubista. Nessa fase pintou o quadro 'Nu Descendo Escada', uma sobreposição de figuras que lembra algo de humano. Porém foi como escultor que Duchamp atingiu a fama, deixando a Europa e indo trabalhar nos Estados Unidos, onde encontrou campo fértil para desenvolver sua arte dadaísta (movimento de vanguarda iniciado em Zurique, 1915, por escritores e artistas).

O DADAÍSMO era um movimento de caráter anti-racional, em oposição a qualquer tipo de equilíbrio. Movimento de intensa revolta contra o conformismo, em que as forças da criação artística foram colocadas a serviço da antiarte. O movimento surgiu de um espírito de desilusão gerado pela Primeira Guerra Mundial, a qual alguns artistas reagiram com um misto de ironia, cinismo e niilismo anárquico. Os artistas usavam de gracejos grosseiros e de provocações, como mais tarde o próprio Duchamp veio a confessar.

Enfatizou o ilógico e o absurdo, exagerando-se a importância do acaso na produção artística. O objetivo era chocar o público que se alimentava dos valores tradicionais.

Antes do final da Primeira Guerra Mundial via-se já, o movimento em Barcelona, Berlim, Colônia, Hanover, Nova York e Paris. Juntaram-se a este movimento grupos da Áustria, Bélgica, Holanda e outros países. E Paris veio abrigar, em 1922, a primeira exposição internacional dadaísta.

No campo da pintura houve tentativas de desenvolvimento das técnicas cubistas, porém o que definiu o movimento foram os poemas aleatórios e o ready-made. Em Paris o movimento deu mais importância à literatura e sua inclinação para o absurdo e para o extravagante, isso deu suporte para o surrealismo. Suas técnicas de criação foram empregadas, também, pelos expressionistas abstratos. A arte conceitual também tem suas raízes neste movimento. O espírito dos Dadaístas não desapareceu inteiramente, suas características foram mantidas pela cultura junk e pela arte pop, que era conhecida nos Estados Unidos pelo nome de neodadá.

Em 1912, Duchamp monta uma roda de bicicleta, sobre um banquinho de cozinha, inventa o ready-mades; posteriormente traz, a público, uma caixa de garrafas comprada num armazém parisiense e um urinol - a este último, assinando R. Mutt, e deu o nome de 'Fonte'. Em outro de seus celebres gestos provocativos apossa-se da clássica obra de Mona Lisa e acrescenta-lhe um bigode, cavanhaque e uma inscrição obscena.

O conceito do ready-mades parece originar-se da convicção de Duchamp de que a vida é um absurdo, sem sentido. Segundo ele, qualquer objeto torna-se uma obra de arte se o retirarmos do limbo dos objetos indiferenciados, e o declararmos como tal. Duchamp, em outras ocasiões declarou que os ready-mades não eram arte, e sim antiarte, afirmando que nenhuma arte tinha valor.

Na década de 20, Duchamp combinou a idéia de máquina com a de futilidade, construindo elaboradas geringonças mecânicas que foram consideradas precursoras da arte cinética. Após deixar 'O Grande Vidro' - inacabado - abandonou a arte pelo xadrez. De seu casamento, ocorrido em 1927, seu amigo Man Ray escreveu: “Duchamp passou a maior parte da única semana que viveu com sua mulher estudando problemas de xadrez: ela, em desesperada retaliação, acordou certa noite e colou as peças no tabuleiro. Os dois divorciaram-se 3 meses depois”.

Duchamp tornou-se uma lenda ainda em vida. Tanto no cotidiano quanto em suas realizações artísticas, fez mais do que todos de seus colegas para modificar as concepções de arte no século XX. Tentou, sem sucesso, como ele mesmo reconheceu, destruir a mística do gosto ou desmontar o conceito de beleza estética, e em 1962 disse: "Quando descobri os ready-mades, pensei em desencorajar a estética... Joguei na cara de todos uma caixa de garrafas e um urinol, que são hoje admirados por sua beleza estética".

Também tenho curiosidade de ver a arte que não é arte, segundo Dechamp... Certos tipos de arte que apresentam nas bienais não conseguem, sequer, formar um elo de compreensão entre o criador e o expectador: fica um vazio. Gosto de todos os períodos da arte, de todas as escolas e de vários movimentos, porém, acho que o principal num artista é querer comunicar-se através de sua obra, é querer passar algo. E fica a dúvida: o artista quer apenas se expressar ou quer ser, também, compreendido? Daí o ‘vazio das bienais’ que fala Affonso Romano. (links abaixo)

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