12.6.23

FERNANDO BOTERO E AS 'DORES DA COLÔMBIA'

El Desfile / 2000
- Tais Luso de Carvalho



É impactante a exposição de Fernando Botero 'As Dores da Colômbia' que visitei em Porto Alegre no Centro Cultural Erico Verissimo. 
Fernando Botero (nasceu em Medellín, 19 de abril de 1932), é um dos artistas em atividade  mais prestigiados no mundo. Botero não é apenas o criador dos famosos, inconfundíveis e simpáticos gordinhos, representados nas suas pinturas, desenhos e esculturas; é mais; é um artista que se propôs a doar várias obras ao Museu Nacional da Colômbia para registrar as dores de seu país, dores que ninguém fica indiferente; a barbárie, a crueldade premeditada, a dor profunda do ser humano quando acossado e oprimido, quando é arrancada sua liberdade e seus direitos, sejam por guerrilhas, narcotráfico, manobras políticas ou pelos grupos paramilitares acontecidos na década de 1990.

'Não vou fazer negócio com a dor da Colômbia', declarou Botero ao anunciar, no ano de 2000, a sua decisão de doar esta coleção de obras ao Museu, Instituição que há muito tem sido objeto de sua generosidade. Com essa série de obras o artista não tem a pretensão de pôr fim ao conflito. O olhar do artista é compassivo e solidário, não almeja a mobilização, porque não acredita nela. Quer apenas chamar a atenção do mundo e 'dar seu testemunho' - como afirma.

'O material de sua triste leitura são massacres reais noticiados em todo o mundo. Aprisionamentos, corpos abatidos após o combate, lágrimas e sangue. O silêncio domina e o pesar é resignado. As cenas são como flagrantes individuais escolhidos em meio a uma tragédia que está por toda a parte e cuja extensão não é possível alcançar. Sobre suas vítimas Botero lança suas vibrantes cores, criando um contraditório e dramático material'. (Centro Cultural CEEE Erico Verissimo).

'Sou contra a arte como arma de combate. Mas em vista do drama que atinge a Colômbia senti a obrigação de deixar um registro sobre um momento irracional de nossa história'. (Botero)

Botero não tem a preocupação em pintar coisas especiais, mas de transformar a realidade em arte. E assim é. Estas obras expostas no Centro Cultural Erico Verissimo – que fica até 8 de março de 2012 -, mostram sob vários ângulos uma história impossível de ocultar e de esquecer. O mesmo se viu em obras de Goya (Desastres da Guerra) e Picasso (Guernica), o relato, para não esquecer do horror.

Apesar de Botero ter deixado sua terra natal há mais de 40 anos, mostra-se conectado ao seu país pintando não só seu lado agradável, mas também o que foi o lado terrível e violento. Cada quadro marca uma história, um lado peculiar e intimidador da violência que deságua na dor mais profunda do ser humano: perdas de filhos massacrados diante da mãe, esquartejamentos, fuzilamentos diante da família, atos no mais alto grau de violência e que a impiedade pode alcançar.

Esta exposição, que seguirá à outras cidades e países, é composta de 25 pinturas, 36 desenhos e 6 aquarelas. Todas as obras foram doadas em 2004 e 2005 e já percorreu cidades europeias e latino-americanas.

Esta exposição ficará em Porto Alegre até o dia 8 de março de 2012. Vale uma visita: além de vermos características plásticas próprias da obra de Botero, servirá para uma reflexão. E poder sentir, quem sabe, os horrores; a que ponto chegamos e o que somos capazes de fazer à nossa própria espécie.


Estes quadros são uma forma de repudiar a violência. (Botero)

Madre e hijo / 2000

Viva la Muerte / 2001

El Cazador / 1999

Matanza de los inocentes / 1999

El Masacre / 2000

Una Madre / 2001



Masacre en Colombia / 2000

Motosierra / 2004

Botero e as 'Dores da Colômbia'


Taís / painel de entrada
Mais sobre Botero:   aqui, neste blog.


Fontes:
Algumas fotos e material  me foram enviadas, gentilmente, pelo  jornalista Paulo Camargo do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. Meus agradecimentos.
Fotos: Reprodução / divulgação do Museu Nacional da Colômbia
Patrocínios:
Grupo Bradesco Seguros
Aori Produções Culturais
Museu Nacional da Colômbia