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Tais Luso de Carvalho
No
princípio do século XV, no norte da Europa,
na região de Flandres (hoje, aproximadamente Bélgica e Luxemburgo), haviam
indícios que apontavam para o começo de uma nova era, mesmo os
flamengos não
absorvendo
as
inovações no campo das artes comparando-se ao que sucedeu no
Renascimento. A
pintura ficou
por mais
tempo
ligada
à tradição medieval. Paulatinamente é que despontou
a arte da velha Flandres, terra dos Flamengos na Europa, de grande
importância cultural e econômica desde a Idade Média.
Os primeiros sinais de mudança surgiram inicialmente no campo da escultura, com Claus Sluter (1350-1405).
Aos
poucos os temas religiosos foram cedendo lugar aos temas mundanos. Os
pintores flamengos transferiam as cenas religiosas para um ambiente
profano, tentando representar o espaço, a cor, os corpos e a luz, de
maneira mais natural o possível.
O
povo via os conflitos sociais, fruto das bruscas mudanças
econômicas, as guerras, os surtos da peste e o flagelo da fome, que
no século 15 se abateram sob os países baixos. A insegurança gerou
o fanatismo religioso; procissões intermináveis de fiéis que se
autoflagelavam, enquanto os seus pecados percorriam o país, levando
a religião católica a uma profunda crise. A necessidade de uma
orientação determinante de reforma, era óbvia.
Enquanto
que a arte italiana do século XV tinha por base a perspectiva
linear, calculada matematicamente, os pintores flamengos utilizavam a
chamada perspectiva intuitiva. Ao contrário dos artistas do
Renascimento italiano, que se esforçavam por representar o mundo de
forma científica e racional, construindo os quadros a partir do
interior, os artistas flamengos tentavam desvendar os segredos do
mundo por meio do olhar exterior, observador e exato. Os pintores
aprendiam com sua própria experiência de visão, assim como pelo
conhecimento sobre as características dos objetos.
Pintavam
o que viam, e dessa maneira os artistas conseguiam aproximar-se
bastante do efeito da perspectiva central. Com essa forma de
percepção, baseada no olhar e na experiência, os artistas
descobriam ainda que com o aumento da distância, as formas vão
perdendo cada vez mais os contornos e que a intensidade das cores
diminui, mudando para tons azulados.
Os
artistas flamengos se deleitavam com as oportunidades que a pintura a
óleo lhes oferecia. Retratavam o mundo em que viviam com uma
originalidade genuína, como se estivessem vendo tudo pela primeira
vez.
BOSCH
/ 1450-1516
As
obras de Hieronymus Bosch são a imagem desse sentimento geral. Ele
transforma o inferno em algo terrestre, pois representa os abismos da
humanidade, os seus vícios e os seus erros com extrema
minuciosidade. O fantástico das suas obras, que já no seu tempo se
tornou famoso, consiste no fato de Bosch conseguir unir num todo, o
realismo (na forma de pintar) e o simbolismo (no que se refere ao
sentido), mas sem querer representar os abismos
da
alma humana; as suas visões aflitivas tinham uma intenção moral.
Os seus mundos pictóricos eram advertências para os sofrimentos
infernais que esperariam o homem, devido aos seus delitos profanos no
seu dia a dia.
BRUEGHEL
/ 1525
- 1569
Os
quadros de Pieter Brueghel, o pintor flamengo mais importante do
século 16, tem um cunho pedagógico e moral comparável. Ele
executava pinturas que, como as de Bosch também eram exemplificadas.
No entanto, esse pintor extremamente culto não representava visões
dos infernos ou temas religiosos, mas sim os temas atuais de sua
época. A sua obra A Construção da Torre de Babel, pode ser
vista de acordo com a moral bíblica – como um aviso à presunção
humana, um fenômeno que o pintor deve ter observado nos seus
contemporâneos.
JAN
VAN EYCK / 1395
- 1441
Este
quadro - Retrato
do Noivado Arnolfini 1434
-
representa de forma naturalista um casal num interior burguês. Marca
a viragem da arte sacra para a arte profana. Esposa e esposo
encontram-se no quarto do casal, suntuosamente vestidos a fim de
contrair matrimônio. A seus pés, vê-se um pequeno cão como
símbolo da fidelidade conjugal. No candelabro reluzente, uma única
vela acesa simboliza a presença de Cristo.
OUTROS:
Petrus
Christus - Joris van der Paele - Mestre do Frémalle - Melchior
Broederlam -
Van
der Weyden - Hans Memling - Gerard David entre
tantos outros.