19.3.14

LYGIA CLARK

 
 
      
                  
- Tais luso de Carvalho

Para Lygia Clark, uma mineira de Belo Horizonte, nascida em 1920, a obra de arte fundamentava-se na realidade.
A alegoria, disse ela, em vez de comunicar alguma coisa, retira da comunicação o que ela tem de mais vivo. Assim o real era mais importante. Se alguma coisa é, tentar colocar-lhe um sentido simbólico, é enfraquecê-la.

A partir desse raciocínio lógico, Lygia construiu toda a sua obra. Iniciou seus estudos com Burle Marx em 1947 e Zélia Salgado. Em 1952 fez sua primeira exposição individual em Paris, no Institut Endoplastique.

Voltando ao Brasil, no mesmo ano, interessou-se pela Arte Concreta onde é incluída em diversas mostras de artistas brasileiros no exterior. Dois anos mais tarde adere ao movimento Neoconcretista, participando de várias exposições, organizadas pelo novo grupo artístico.

De seus primeiros trabalhos, telas em tons acinzentados, partiu para novas pesquisas, abolindo a moldura e partindo para o tridimensional. Entre as obras dessa época (1956-1958) estão as superfícies moduladas – placas pretas e brancas de madeira pintada com tinta líquida a pistola, e os contra-relevos - placas superpostas que guardam entre si independência individual.

Do prosseguimento dessa atividade nasceu uma experiência que acabou de ser uma criação mais conhecida: peças com chapas metálicas móveis, com dobradiças e que deram o nome de bichos – exibidos pela primeira vez em 1960.

Lygia Clark expôs da II à VII Bienal e depois da IX, em São Paulo recebendo o prêmio de Melhor Escultor Nacional em 1961 e Sala Especial em 1963. Também participou da XX, XXXI e XXXIV bienais de Veneza, com uma retrospectiva de 10 anos de trabalho em sala especial, no ano de 1968.

As pesquisas continuaram e nasceu trabalhos de máscaras sensoriais, macacões para o público vestir, casas com painéis que corriam, e labirintos a serem percorridos.

Vivendo na Europa desde 1969, veio à São Paulo em fins de 1971 para novas demonstrações de suas obras que cada vez mais interagiam com o público. E assim continuou.


'No ano de 1972, Lygia Clark foi convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Universidade de Sorbone. Suas aulas eram verdadeiras experiências coletivas apoiadas na manipulação dos sentidos, transformando estes jovens em objetos de suas próprias sensações. São dessa época as obras:
Arquiteturas biológicas, Rede de Elástico, Baba Antropofágica, Relaxação. Tratava de integrar arte e vida'.

Para ela, a obra não existia se o expectador não se propusesse a experimentá-la.

A beleza para Lygia estava em fazer uma obra de arte que fosse compreensível a todos, com o emprego de materiais industriais, no caso o alumínio, e também por poder ser múltipla, uma obra com vários exemplares. Dessa forma a obra seria socializada, manuseada, transformando-se em cada instante com a vontade da pessoa, e até entrando no processo criativo do artista. Passado o período em que o público podia manusear as obras os bichos, as séries foram recolhidas em museus ou adquiridas por colecionadores.

Lygia faleceu no Rio de Janeiro em abril de 1988.

 
  Composição                                   Cabeça de Cristo / carvão
                                    
Planos - tinta industrial sobre madeira / 1957

Caminhando

Série Bicho - metal dourado /1962

Plano de moldura


Série Bichos invertebrados - 1960 / metal com dobradiças



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Referências de pesquisa:
Pintura no Brasil: arte nos Séculos
Arte Brasileira – Companhia editora Nacional



10.12.13

GLÊNIO BIANCHETTI

Ciranda

Nascido em 1928, Bagé, Rio Grande do Sul, Glênio Bianchetti se apaixonou pela arte sem saber direito o que realmente significava. Pintor, escultor, ilustrador, professor e gravador, O artista aprimorou seus dons artísticos no decorrer dos anos, em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. Hoje ele é reconhecido no país e afora pelas suas obras contemporâneas de sucesso mundial. Via Sacra, sua atual exposição é bela, diferente, contemporânea. Bianchetti focaliza os instantes que precederam a crucificação.


Feita sob encomenda, Imagens Sacras consumiu meio ano de trabalho.

'O tema é hiper batido. Desde a Renascença até agora serviu de matéria-prima. Como fazer? Tenho que repetir. Para mim a Via-Sacra é Cristo, sozinho, caminhando para a morte. Mas não tem sangue nem violência'.


É considerado pelos críticos como um dos pintores expressionistas e figurativos de maior talento e originalidade dos últimos tempos. A pintura se confunde com a própria vida do artista gaúcho.


Bianchetti mantém atelier em Brasília e Nova Viçosa – Bahia. De vez em quando volta à Porto Alegre para rever os amigos. Apaixonado pela pintura, só pensa em dar continuidade ao seu trabalho. Está com vários projetos para expor em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro no próximo ano. Até dia 3 de outubro está com exposição na Casa Arte, em Porto Alegre.


Aos 79 anos, ele reúne cerca de 2000 obras de pinturas, gravuras e tapeçarias.

Via Sacra                                      Lázaro - 1959

'Glênio Bianchetti iniciou seus estudos artísticos na década de 1940 sob orientação de José Moraes. Em 1949, ingressou no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, onde foi aluno de Iberê Camargo. Três anos depois, fundou o Clube de Gravura de Bagé, ao lado de Glauco Rodrigues e Danúbio Gonçalves. O grupo defendia a popularização da arte por meio da abordagem de temas sociais e regionais em um estilo figurativo realista com traços expressionistas. Com os amigos Carlos Scliar e Vasco Prado, Glênio fundou o Clube de Gravura de Porto Alegre. Em 1953, dirigiu o setor gráfico da Divisão de Cultura e Educação da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. Nesse período, ele ilustrou obras literárias e realizou seus primeiros painéis em espaços públicos. Em 1962, transferiu-se para Brasília, onde ajudou a construir a Universidade de Brasília. Na instituição, lecionou disciplinas de desenho no Instituto de Artes Visuais. No início da década de 1970, colaborou na criação do Museu de Arte de Brasília. Participou de exposições no Brasil e no exterior e, em 1999, no Palácio Itamaraty, foi homenageado com a retrospectiva dos seus 50 anos de carreira. Em 2009, a vida de Glênio ganhou as telas em um documentário de 52 minutos dirigido por Renato Barbieri.'
(Correio Braziliense - Marcela Ulhoa).

São Francisco
Garotos
Canto de sala - 1988
Casal na praia




O filme  'BIANCHETTI' -

de Renato Barbieri, transcende qualquer aspecto de sua

narrativa e de sua técnica para alcançar os níveis de uma linguagemnotável e exala, plena de vida e poesia. O documentário cria um tempo múltiplo, não cronológico, de intensa beleza, e há momentos em que quase invertem-se os papéis quando, pelo uso da cor e do enquadramento, transforma os paisagens filmadas em algo mágico, tão semelhante à paleta do pintor, que termina tudo virando pintura: o filme e o seu objeto. Parece que aí penetramos como numa espécie de “terceira dimensão” que só as virtualidades do cinema podem no propiciar. (texto do cineasta Wladimir Carvalho).



DVD  BIANCHETTI

Direção Renato Barbieri
Roteiro de Victor Leonard e Paulo Eduardo Barbosa
Está à venda na LIVRARIA CULTURA e pode ser comprado  no site da livraria






6.12.13

CAMILLE PISSARRO



- Tais Luso de Carvalho

Camille Pissarro nasceu em Saint'-Tomas, nas Antilhas, no ano de 1830 e estabeleceu-se em Paris em 1855. Filho de um comerciante israelita e de mãe crioula, depois de ter estudado em Paris, foi, inicialmente, forçado por seu pai a se associar em seus negócios.
Mas tendo conhecido o pintor dinamarquês Fritz Melbye, seguiu com ele para a Venezuela. Enfim, em 1885 foi para Paris e entusiasmou-se por Carot, que orientou sua vocação para a paisagem.
No início foi muito influenciado pela pintura de Carot, Millet e Daubygny.
Não levou muito tempo para romper com a pintura acadêmica e expôr no Salon des Refusés, em 1863.
Mas foi em 1870, enquanto a França se envolvia na Guerra desastrosa com a Prússia, que Pissarro se encontrava com seu amigo Monet em Londres. Também foi durante esta estadia na capital inglesa que conheceu o galerista Paul Durand-Ruel.
Camille Pissarro foi o mais velho incentivador do grupo dos impressionistas. Exerceu uma enorme influência no grupo dos pintores jovens, aconselhava com benevolência e energia, e teve seu lugar de importância na arte do século 20. Foi o único membro do grupo que não faltou a nenhuma das exposições do movimento. Foi o primeiro a eliminar da paleta, o betume, o preto e a cor terra de siena, alterando assim a gama de cores para tonalidades mais claras.
Nas suas obras, das mais impressionistas, conseguiu unir um vivo sentido da cor com o equilíbrio geral da composição.
Pissarro mostra em suas obras o grau de refinamento que alcançou na pintura de paisagens. Foi capaz de representar os matizes de cores e a variedade de luz que se pode observar na natureza, seja iluminada, seja num bosque.
De regresso à França em 1871, Pissarro trabalhou em Pantoise e Eragny . Após 1885 demonstrou interesse pelas teorias neo-impressionistas de Seurat e Signac, mas o entusiasmo por esse estilo durou pouco, voltando a uma pintura mais livre.
A obra de Pissarro mostra uma evolução regular desde o realismo do meio do século 19 até o divisionismo livremente interpretado, sempre baseado numa profunda preocupação com a natureza. Foi um dos pintores que melhor soube expressar a atmosfera profunda e particular do campo francês. Dizia ele - a seu filho - que era de temperamento rústico, melancólico, de aspecto grosseiro e selvagem.
Segundo Cézanne, Pissarro foi o pintor que mais se aproximou da natureza: Ele traduziu especialmente as casinhas camponesas no fundo dos valões profundos, envolvidas de verdura ondulante, com um sentimento direto da verdade das coisas da terra. Preconizando sem se cansar a humildade diante da natureza, o humilde e colossal Pissarro – como dizia Cézanne – aparece como um dos mais autênticos pintores franceses.

Veio a falecer em 1903.













27.11.13

DAVID – JACQUES LOUIS



- Tais Luso de Carvalho


David - Jacques Louis, grande mestre do classicismo francês, nasceu em Paris no ano de 1748. Para conhecermos a obra de David, vale a pena entrar um pouco no período político-histórico da época. Filho de uma próspera família burguesa, aos 18 anos tornou-se aluno da Academia Real de Paris.

Ali teve como professor Joseph Vien, que inspirado no que vira em Pompéia, dera início a um movimento artístico denominado Moda Pompeiana, cujas ruínas haviam sido recém-descobertas e que caberia a David desenvolver e afirmar o novo movimento artístico - o Neoclassicismo.

Acreditando na superioridade da cultura antiga, David viajou com Vien para a Itália, onde a atuação dos papas (reabrindo as galerias de arte antigas), mais o interesse por Pompéia e o retorno ao gosto clássico haviam reconduzido Roma à posição do mais importante centro artístico europeu. David dedicou-se a copiar baixos-relevos e estátuas para aperfeiçoar sua técnica. O escultou Giraud ensinou-lhe a observar os modelos vivos sob o prisma da arte helênica. David permaneceu na Itália por cinco anos formando um contato direto com a antiguidade. Em 1780 voltou à França.

Participava ativamente dos acontecimentos políticos de seu país, tornando-se rapidamente o representante principal de um classicismo revolucionário.
O lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade não era integralmente seguido na França. A Revolução Francesa trazia, contudo, mudanças radicais para a sociedade. A monarquia foi substituída pela república democrática; criou-se a Convenção eleita por votos representativos de todas as classes sociais e surgiram duas alas de pensamentos políticos: uma defendia a ordem burguesa, e a outra as ideias populares. Essa divergência causava várias crises que só seriam solucionadas com a ascensão de Napoleão ao poder.

A burguesia tentava implantar os ideais revolucionários apoiando-se no pensamento iluminista, em busca de uma verdade universal. E através dos filósofos Montesquieu, Voltaire, Pascal, Diderot e Rosseau, com suas ideias iluministas, atingiram a arte: ela deveria ser moralizadora, pregando a virtude e exaltando o caráter heroico da Revolução. Os volteios do Rococó já não serviam para exprimir o momento que se vivia.

Era preciso encontrar uma forma de retratar o mundo, que dispensassem subterfúgios e enfeites e que criasse uma atmosfera heroica: o belo ideal da Antiguidade romana trazia em si a perfeição e a objetividade das linhas acadêmicas além do heroísmo que os defensores da Revolução desejavam transmitir. Em suma: inspirando-se num passado clássico, os artistas do fim do século 18 e começo do século 19 criaram um estilo – o Neoclassicismo.

O Neoclassicismo tornou-se, na época, o Movimento oficial da Revolução Francesa. David fez parte da Convenção nacional e Membro do Comité de Arte e Instrução Pública. Manteve-se como um ditador nas artes francesas até a queda de Napoleão. Nesse período sua obra voltou-se para os temas revolucionários, como em A Morte de Marat (1793), mas durante o império napoleônico, começou a perder a sobriedade neoclássica, influenciado pelo fausto da corte. Assim o luxo e a riqueza de detalhes aparecem com destaque na Coroação de Napoleão em Notre-Dame.

David foi unanimemente reconhecido como o pintor da Revolução. Tomou parte ativa na fundação do novo Instituto que substituiu a Academia e tornou-se defensor ardente de Napoleão mantendo-se sempre no topo. Entre 1802 e 1807 pintou uma série de obras exaltando os feitos do Imperador. Essas pinturas marcaram uma mudança técnica e estilística em relação às pinturas da época republicana. As cores frias e a composição severa das pinturas heroicas cederam lugar novamente à suntuosidade e ao romantismo de outrora – embora David sempre tenha se colocado em oposição a essa escola.

Com a queda de Napoleão David retirou-se para Bruxelas e suas obras enfraqueceram no sentido de não exercer mais uma influência moral e social.

Sua obra exerceu muita influência sobre o desenvolvimento da pintura francesa, ou mesmo europeia, e entre seus alunos estavam Gérard, Gros e Ingres.

Como pintor patriótico oficial, praticamente renunciou ao estilo anterior, mesmo nas obras desligadas da política. É o caso do Rapto das Sabinas, tela em que os três princípios básicos dos clássicos – sobriedade, simplicidade e dignidade – já ficaram inteiramente renegados.

Exerceu influência considerável junto ao governo da França como porta-voz de todos os assuntos relacionados à arte e à propaganda política. Lógico, através da própria arte.

Com a queda de Napoleão e a restauração monárquica, David cai em desgraça (ele votara pela condenação de Luis XVI durante a Convenção) e passa os anos restantes de sua vida exilado em Bruxelas, onde morre em 29 de dezembro de 1825.

Com o Juramento dos Horácios começou a trilhar seu caminho de glórias em Roma. Aplaudido pelos mais famosos artistas do ambiente romano, recebia centenas de visitantes em seu atelier. Artistas e amantes da arte enviavam cumprimentos e flores. Exposto no Salão de 1785, em Paris, O Juramento dos Horácios causou muito sucesso. E foi considerado o mais belo quadro do século - e David um revolucionário.

O choque provocado pela célebre e discutida tela, deveu-se à comparação com o trabalho de outro mestre da época, Fragonard. O contraste entre a pintura galante de Fragonard e o vigor e a força dos quadros de David, saltava aos olhos dos franceses.

O amor pela razão e o repúdio a qualquer tipo de religiosidade ressuscitaram o estudo da anatomia do corpo humano. A musculatura é minuciosamente descrita no quadro de David; as formas das pernas e dos braços são o resultado da observação fiel da realidade.

Antes do aparecimento de David o neoclassicismo era apenas mais uma moda, disputando a supremacia com o rococó cortesão. Após o sucesso do Juramento, ele se define e triunfa, passando a ser considerado o estilo oficial da França.


'Minha intenção é pintar os ambientes antigos com tal exatidão que os gregos e romanos, vendo meus quadros, não me considerariam estranho aos seus costumes'.


A Morte de Marat / 1793 – Museu Royal de Belas Artes, Bélgica.
Homenagem de David a Jean Paul Marat que foi assassinado. David o retrata com dignidade e a ternura de um santo martirizado.





O Juramento dos Horácios /1785 - Museu do Louvre
A Morte de Marat / 1793 – Museu Royal de Belas Artes, Bélgica
Monsieur Lavoisier and his wife – 1788 Metropolitan Museum of Art
A Morte de  Sócrates / 1787 – Metropolitan Museum of Art – Nova York
Napoleão cruzando os Alpes - 1801 - Chateau National de Malmaison / França





21.10.13

VICENTE DO REGO MONTEIRO




              – Tais Luso de Carvalho

Vicente do Rego Monteiro, nasceu em Recife – Brasil em 19 de dezembro de 1899. Com 12 anos de idade passou a dividir sua vida entre Recife e Paris na companhia de sua irmã Fédora, também pintora. De 1911 a 1914 residiu em Paris onde frequentou  a Academia Julien, e dois anos depois expôs suas esculturas e pinturas no Salon des Indépendants, em 1913 – Paris.

Em 1914 retornou ao Brasil, fixando-se no Rio de janeiro. Em 1920 expôs aquarelas em São Paulo e ligou-se aos modernistas Anita Malfatti, Brecheret e Di Cavalcanti e  conhecendo em São Paulo, Pedro Alexandrino.

Já adulto e sempre atuante como pensador, pintor, escultor, jornalista e editor, sua criatividade o conduziu à realizar-se nos mais diferentes campos,  desenvolvendo sua pintura inspirada na arte indígena, raiz de brasilidade que procurou manter através de sua obra.

Participou de várias mostras individuais em Recife, São Paulo, Rio de janeiro, Paris e, em 1922, integra a Semana de Arte Moderna deixando 8 obras aos cuidados do poeta Ronald de Carvalho que viriam a figurar na Semana de 22. Participou, ainda, de diversas coletivas nos EEUU, Holanda, Paris, Recife, Salvador, Olinda e São Paulo.

Sua segunda estada na França foi muito proveitosa: a editora Tolmer publica, com textos e ilustrações de sua autoria, o livro sobre lendas indígenas que projeta Vicente no ambiente literário.

Novamente de volta ao Brasil o artista fundou, no Recife, a revista Renovação – no ano de 1929. No ano seguinte promoveu uma série de Exposições trazendo do exterior telas de Braque, Léger, Picasso, Miró, Gino Severine, Fernand Léger, e outros artistas do cubismo e Surrealismo.

Continuando sua experiência editorial, Vicente publica em Paris (1947), a revista La Presse à Brás. Nesse período se dedica intensamente à poesia. Organiza o Mur des Poètes, O 1º Congresso Internacional de Poesia de Paris e o 1º Salão de Poesia - ambos em 1952. Coroando sua dedicação e talento recebe, com o livro 'Broussais – La Charité', o prêmio Apollinaire.

Porém, melhor sucedido na pintura do que nas letras, no ano de 1957 foi nomeado catedrático da Universidade Federal de Pernambuco. 

Museus do Brasil e da Europa expõem suas telas, onde o desenho forte, às vezes monumental, mostra a preocupação constante do artista: não abandonar os valores nacionais.

Faleceu repentinamente em 5 de junho de 1970, de enfarte, quando se preparava para viajar de Recife para Brasília. 

Já no ano seguinte, em novembro de 1971, o MAC organizou a primeira retrospectiva em sua sede, no Ibirapuera. 








Fontes:  Arte nos séculos / Abril cultural   -  D.Oxford de Arte

10.9.13

IMPRESSIONISMO

  

 


 
- Tais Luso de Carvalho

Na segunda metade do século 19 um grupo de artistas revolucionou a pintura na França. Eram eles Édouard Manet, Claude Monet, Auguste Renoir, Edgar Degas, Paul Cézanne, Camille Pissarro, Alfred Sisley, Coubert, Gustave Caillebotte, Berthe Morisot, Ernest-Lurent, Henri Martin, Le Sidaner, o alemão Fritz Von Uhde entre outros.

Por oposição aos artistas franceses mais famosos da época, na qual suas obras apresentavam na maioria as temáticas religiosas, históricas ou mitológicas, esse grupo enveredou pela pintura ao ar livre ao invés do estúdio fechado. Usavam cores brilhantes e preocupavam-se mais com as matizes proporcionadas diretamente pela luz do sol do que pela precisão do  desenho em si.

Em 15 de abril de 1874 teve lugar a primeira exposição coletiva no estúdio que pertencia ao fotógrafo Nadar. Mostraram o que de melhor  havia nesse movimento, após um período de muita criatividade. E nessa exposição um jornalista os apelidou de Impressionistas, uma forma de dizer que suas obras eram apenas capazes de representar a primeira impressão. Os pintores adotaram esse nome e foi com ele que passaram para a história das Artes.


Porém, sofreram críticas e atos de indignação da maioria dos visitantes e da crítica, considerando-os falsos pintores. A exposição encerrou-se um mês depois. Eram chamados de selvagens obstinados e que não queriam terminar seus quadros, por preguiça ou incapacidade.

A exposição foi vista por 3500 visitantes, mas poucas pinturas foram vendidas, e a baixo preço. Alguns artistas  não venderam nenhum quadro. Muitas obras ficaram por vender e assim tiveram de organizar outra exposição, no ano seguinte, no Hotel Drout, no qual os trabalhos de Monet foram avaliados entre 150 e 300 francos e outros de Renoir abaixo de 100 francos. Eram cifras muito baixas, comparadas com salário semanal de um pedreiro que rondava os 50 francos.

Farsantes! Impressionistas! Gritavam muitos. A palavra Impressionista era gritada pejorativamente. Dois anos depois fizeram outra exposição e pregaram na porta da rua Lê Peletier, 11, uma tabuleta dizendo: Exposição dos Pintores Impressionistas. Deste modo sarcástico, nascia a nova pintura cujas características técnicas e expressivas se estenderiam a outras Artes, inclusive à musica, com Claude Debussy.

Entre restrições e ironias, combatidos sobretudo pela Escola de Belas Artes e pelo Salão Oficial, aos poucos os Impressionistas foram sendo compreendidos, quando, em 1886 o grupo se dispersou, cada um tomando seu rumo. A nova pintura tornou-se conhecida nos demais países europeus e suas obras admiradas e adquiridas por colecionadores nacionais e estrangeiros.

Os Impressionistas inovaram na técnica e na expressão da pintura. A realidade era vista de um modo original, diferente da pintura retratada até então.

Claude Monet – francês (1840-1926) foi o chefe da escola impressionista. O impressionismo foi o natural desenvolvimento do Realismo. Nasceu, elaborou-se e definiu-se dentro do Realismo.

Os Impressionistas se diferenciavam de outras Escolas.  Diziam eles...

1 – Que a cor não era uma qualidade permanente na natureza; as tonalidades estão mudando constantemente, ao contrário, estão mudando incessantemente, com sutilezas impermeáveis ao olhar embotado ou desatento.
2 – A linha não existe na natureza. A linha é uma abstração criada pelo espírito do homem, para representar as imagens visuais.
3 – As sombras não são pretas nem escuras. São luminosas e coloridas. São cores e luzes de outras tonalidades.
4 – A aplicação dos reflexos luminosos ou do contraste das cores se influenciam reciprocamente. Essas influências obedecem ao que se chama a lei das complementares, percebida pela sensibilidade de muitos pintores e depois formulada em bases científicas.
5 – A dissociação das tonalidades ou a mistura ótica das cores.

Na ânsia de obter a limpidez e transparência das cores naturais, os impressionistas resolveram produzi-las na pintura como as produz a natureza. Quando queriam representar o verde, por exemplo, em lugar de darem uma pincelada de verde, já preparado na paleta com a mistura do amarelo e azul, ou do próprio tubo, davam duas pinceladas bem juntinhas, uma azul e outra amarela, a fim de que a mistura das duas cores, produzindo o verde, se fizesse no nosso cristalino, no mesmo processo da natureza. Essas pinceladas, miudinhas, eram usadas por quase todos os impressionistas e denominavam de mistura ótica.

A história dos Impressionistas teve lugar, principalmente em Paris. Representavam a vida das grandes metrópoles, pintavam a atmosfera das Vilas, da floresta de Fontainebleau, das pontes sobre o Sena, o Moulin de la Galette, o Louvre, os cafés, o Molin Rouge e o Palais de L' Industrie, das costas da Bretanha, da Normandia e da Provença. Os arredores de Paris constituíam um inesgotável repertório de temas. 
Contudo não ficaram confinados à França: a sua arte invadiu os mercados internacionais, sobretudo os de Londres e de Nova Iorque. 



Edouard Manet / A Amazona
Alfred Sisley - Cena de Desastre
Em 1876 o Sena inundou as margens de Marly-le-Roi. 
Sisley expressa a desolação depois do desastre.
   Monet / Boulevard des Capucines - Paris, 1873.
Foi considerado um dos trabalhos mais escandalosos devido ao modo sumário
como está pintada a multidão que passeia pela cidade.
Na 1ª Exposição em 1874.

Cézanne  - A casa do enforcado 1873
Na 1ª Exposição dos Impressionistas (1874)

Degas - As Engomadeiras 1884
Apesar de ser um aristocrata, Degas interessava-se constantemente pelo
 trabalho duro feminino. Esse é um dos muitos quadros que pintou sobre o tema.

O Camarote - Renoir / Exposição de 1874. 
Uma das primeiras obras impressionistas dedicadas à temática do teatro.

A Primeira Impressão: Sol Nascente - Monet
Esta obra pode não ser a primeira pintura de Monet, mas certamente é a que simboliza o nascimento do grupo dos Impressionistas.   
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Os Impressionistas - Porto ed. 2000 / Portugal


29.8.13

REMBRANDT – 1606/1669



- Tais Luso de Carvalho

O holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, o pintor da luz dramática, nasceu em 15 de julho de 1606 em Leiden, no seio de uma abastada família burguesa. Seu pai era dono de um moinho, tendo conseguido juntar uma fortuna considerável; sua mãe era descendente de uma família de padeiros, conceituada.

Ainda jovem, em 1620, Rembrandt decidiu trocar os estudos de filosofia pela carreira de pintor, tendo como seu primeiro professor o mestre Jacob von Swanenburgh, que ao longo de três anos lhe ensinou o básico do ofício.

Mais tarde, Rembrandt mudou-se para Amsterdam onde foi aluno de Pieter Lastman, pintor e retratista, muito influenciado pelo caravaggismo. Tinha, também, viajado pela Itália onde descobrira a dramaticidade da luz e sombra para o seu trabalho.

Com um pouco mais de 18 anos, começou com projetos ambiciosos, mas não obteve o reconhecimento que esperava do público.

Até aí tinha feito uma série de autorretratos, que demonstrava muito de sua autoconfiança artística. Desenvolveu esses autorretratos psicológicos, fruto de suas observações e autorreflexões críticas. Esses seus estudos lhe permitiam visualizar um estado de alma.

É com Rembrandt que se renova a pintura holandesa, principalmente no gênero do retrato, que adquire grande dramaticidade, usando cores com maestria, preocupava-se não com o pormenor das coisas, mas com a organização das sombras e luzes, das massas e volumes num conjunto harmonioso, revelando a perplexidade do homem diante da vida.

Em 1630 Rembrandt encontrava-se no início de sua fase mais produtiva, intensificou a produção de gravuras  que vendia em grandes tiragens, conseguindo dessa forma que seu nome fosse bastante divulgado. À medida em que sua fama crescia, sua fortuna aumentava.

Em 1631, Rembrandt, pintou seu primeiro retrato de grupo para a influente associação dos cirurgiões: A lição de anatomia do Dr.Tulp. Esse quadro mostra uma intensidade jamais vista. O pintor não escolheu o motivo da aula de anatomia só como pretexto, só para representar um grupo de membros da associação: ao colocar a aula em primeiro plano e reproduzir a atenção concentrada dos médicos, ele os retratou individualmente no seu meio natural. Demonstra um grande domínio da luz: os rostos das pessoas estão banhados por uma luz extremamente clara que as destaca em conjunto do escuro que circunda.

Após a execução desse trabalho Rembrandt tornou-se famoso em poucos meses, recebendo nos anos seguintes uma enchente de encomendas da burguesia e mesmo da corte de Haia.

QUADROS HISTÓRICOS

Seus quadros históricos tem uma característica muito particular: ilustram os acontecimentos e ao mesmo tempo mostram o homem e seus sentimentos. Interpretava os temas de uma maneira peculiar: preferia mostrar suas cenas no interior, dando à luz um tratamento muito próprio.

Com um claro-escuro acentuado, Rembrandt alcançava efeitos sugestivos e emocionais. Não iluminava muito suas obras, deixava grandes superfícies na obscuridade. As partes iluminadas, normalmente não apresentam uma fonte de luz concreta – a luz parece vinda do interior, tendo um caráter simbólico. Rembrandt trabalhava seguindo a tradição de Caravaggio.

Em 1660 o município de Amsterdam procurava um pintor para retratar uma história. Uma enorme tela deveria representar a conspiração de Claudius Civilis, herói nacional contra o poderio romano. A obra, porém, foi tão desnorteadora, tão selvagem que foi recusada. Muitos anos depois essa obra foi reavaliada, sendo considerada hoje como uma das mais impressionantes obras de Rembrandt.

Uma de suas principais obras foi A Ronda Noturna. Foi uma importante encomenda que o artista recebeu para pintar o retrato de um grupo da guarda-civil. Cercados pela escuridão e ao som de tambores este grupo de milicianos se prepara para sair em marcha. O interessante nessa composição de Rembrandt, é que ele criou uma cena movimentada, como se fosse uma narrativa histórica, mostrando os milicianos no preparo normal para entrarem em formação. A cena aparece dramática, com áreas escuras e com focos de luzes que destacam os rostos, capacetes e armas.


A Ronda Noturna (visão do tamanho)

FAMÍLIA

Seu casamento com Saskia van Uylenburgh, filha de uma distinta família de patrícios, em 1634, integrou Rembrandt na alta sociedade. Essa ascensão social, a fortuna de Saskia, seu ordenado de professor e a venda de quadros o colocaram no patamar de um homem bem-sucedido. Porém todo o dinheiro ganho era gasto nos leiloeiros; colecionava vestes, armas, livros, gravuras em cobre e outros objetos que pintava em seus quadros, ricos em adereços. Essas aquisições pesavam de tal forma na sua fortuna que Rembrandt não conseguiu pagar o sinal de uma casa na seleta rua Breestraat.

A vida do pintor na capital da Holanda era amena e feliz. O amor que dedicava à sua esposa, transparece nos quadros que a retratam. Porém, nessa época já se nota um aspecto inquietante na sua pintura, e que se desenvolveu com o tempo, terminando por afastar os clientes, tal a crueza exposta e que chocava seus contemporâneos.

Em 1642 Rembrandt começou a sentir os primeiros dissabores. Morreu a esposa, deixando-lhe o filho Titus. Marcado pelo sofrimento suas pinceladas tornaram-se mais violentas. Com lente de aumento observava a degradação do próprio corpo e a transportava para a tela.

O abatimento que se revela no rosto da obra Betsabá, a noiva Judia, a degeneração no corpo do Boi Esquartejado, e no Cristo em Os Peregrinos de Emaús, acabaram aparecendo no rosto do artista, tal como é fixado no seu último autorretrato. Ao todo, Rembrandt pintou ao longo de sua carreira 86 autorretratos, em vários estilos diferentes, que eram colecionados por conhecedores e que o ajudaram, posteriormente, a firmar sua reputação.

Na miséria e esquecido, Rembrandt continuou a pintar, analisando cada vez em maior profundidade as paixões e a decadência humanas.

Morreu no dia 4 de outubro de 1669, deixando em seu testamento algumas roupas de linho e lã, 'minhas coisas de pintor'.







Fontes:
Arte nos Séculos – Abril Cultural
História da Pintura – ed. Könemann
Tudo sobre arte – Stephen Farthing / Sextante