- Tais Luso
de Carvalho
David - Jacques Louis, grande mestre do classicismo francês, nasceu em Paris
no ano de 1748. Para conhecermos a obra de David, vale a pena entrar
um pouco no período político-histórico da época. Filho de uma
próspera família burguesa, aos 18 anos tornou-se aluno da Academia
Real de Paris.
Ali teve
como professor Joseph Vien, que inspirado no que vira em Pompéia,
dera início a um movimento artístico denominado Moda Pompeiana,
cujas ruínas haviam sido recém-descobertas e que caberia a David
desenvolver e afirmar o novo movimento artístico - o Neoclassicismo.
Acreditando
na superioridade da cultura antiga, David viajou com Vien para a
Itália, onde a atuação dos papas (reabrindo as galerias de arte
antigas), mais o interesse por Pompéia e o retorno ao gosto clássico
haviam reconduzido Roma à posição do mais importante centro
artístico europeu. David dedicou-se a copiar baixos-relevos e
estátuas para aperfeiçoar sua técnica. O escultou Giraud
ensinou-lhe a observar os modelos vivos sob o prisma da arte
helênica. David permaneceu na Itália por cinco anos formando um
contato direto com a antiguidade. Em 1780 voltou à França.
Participava
ativamente dos acontecimentos políticos de seu país, tornando-se
rapidamente o representante principal de um classicismo
revolucionário.
O lema
Liberdade, Igualdade, Fraternidade não era integralmente seguido na
França. A Revolução Francesa trazia, contudo, mudanças radicais
para a sociedade. A monarquia foi substituída pela república
democrática; criou-se a Convenção eleita por votos representativos
de todas as classes sociais e surgiram duas alas de pensamentos
políticos: uma defendia a ordem burguesa, e a outra as ideias
populares. Essa divergência causava várias crises que só seriam
solucionadas com a ascensão de Napoleão ao poder.
A burguesia
tentava implantar os ideais revolucionários apoiando-se no
pensamento iluminista, em busca de uma verdade universal. E através
dos filósofos Montesquieu, Voltaire, Pascal, Diderot e Rosseau, com
suas ideias iluministas, atingiram a arte: ela deveria ser
moralizadora, pregando a virtude e exaltando o caráter heroico da
Revolução. Os volteios do Rococó já não serviam para exprimir o
momento que se vivia.
Era preciso
encontrar uma forma de retratar o mundo, que dispensassem
subterfúgios e enfeites e que criasse uma atmosfera heroica: o
belo ideal da Antiguidade romana
trazia em si a perfeição e
a objetividade das linhas acadêmicas além do heroísmo que os
defensores da Revolução desejavam transmitir. Em suma:
inspirando-se num passado clássico, os artistas do fim do século 18
e começo do século 19 criaram um estilo – o Neoclassicismo.
O
Neoclassicismo tornou-se, na
época, o Movimento
oficial da Revolução Francesa. David fez parte da Convenção
nacional e Membro do Comité de Arte e Instrução Pública.
Manteve-se como um ditador nas artes francesas até a queda de
Napoleão.
Nesse período sua obra voltou-se para os temas revolucionários,
como em A Morte de Marat (1793), mas durante o império napoleônico,
começou a perder a sobriedade neoclássica, influenciado pelo fausto
da corte. Assim o luxo e a riqueza de detalhes aparecem com destaque
na Coroação de Napoleão
em Notre-Dame.
David
foi unanimemente reconhecido como o pintor da Revolução.
Tomou parte ativa na fundação
do novo Instituto que substituiu a Academia e tornou-se defensor
ardente de Napoleão mantendo-se sempre no topo. Entre 1802 e 1807
pintou uma série de obras exaltando os feitos do Imperador. Essas
pinturas marcaram uma mudança técnica e estilística em relação
às pinturas da época republicana. As cores frias e a composição
severa das pinturas heroicas cederam lugar novamente à suntuosidade
e ao romantismo de outrora – embora David sempre tenha se colocado
em oposição a essa escola.
Com
a queda de Napoleão David retirou-se para Bruxelas e suas obras
enfraqueceram no sentido de não exercer mais uma influência moral e
social.
Sua
obra exerceu muita influência sobre o desenvolvimento da pintura
francesa, ou mesmo europeia, e entre seus alunos estavam Gérard,
Gros e Ingres.
Como pintor
patriótico oficial, praticamente renunciou ao estilo anterior, mesmo
nas obras desligadas da política. É o caso do Rapto das Sabinas,
tela em que os três princípios básicos dos clássicos –
sobriedade, simplicidade e dignidade – já ficaram inteiramente
renegados.
Exerceu
influência considerável junto ao governo da França como porta-voz
de todos os assuntos relacionados à arte e à propaganda política.
Lógico, através da própria arte.
Com a queda
de Napoleão e a restauração monárquica, David cai em desgraça
(ele votara pela condenação de Luis XVI durante a Convenção) e
passa os anos restantes de sua vida exilado em Bruxelas, onde morre
em 29 de dezembro de 1825.
Com
o Juramento dos Horácios começou a trilhar seu caminho de glórias
em Roma. Aplaudido pelos mais famosos artistas do ambiente romano,
recebia centenas de visitantes em seu atelier. Artistas e amantes da
arte enviavam cumprimentos e flores. Exposto no Salão de 1785, em
Paris, O Juramento dos Horácios causou muito sucesso. E foi
considerado o mais belo quadro do século - e David um
revolucionário.
O
choque provocado pela célebre e discutida tela, deveu-se à
comparação com o trabalho de outro mestre da época, Fragonard. O
contraste entre a pintura galante de Fragonard e o vigor e a força
dos quadros de David, saltava aos olhos dos franceses.
O
amor pela razão e o repúdio a qualquer tipo de religiosidade
ressuscitaram o estudo da anatomia do corpo humano. A musculatura é
minuciosamente descrita no quadro de David; as formas das pernas e
dos braços são o resultado da observação fiel da realidade.
Antes
do aparecimento de David o neoclassicismo era apenas mais uma moda,
disputando a supremacia com o rococó cortesão. Após o sucesso do
Juramento, ele se define e triunfa, passando a ser considerado o
estilo oficial da França.
'Minha
intenção é pintar os ambientes antigos com tal exatidão que os
gregos e romanos, vendo meus quadros, não me considerariam estranho
aos seus costumes'.
A Morte de Marat / 1793 – Museu Royal de Belas Artes, Bélgica.
Homenagem de David a Jean Paul Marat que foi assassinado. David o retrata com dignidade e a ternura de um santo martirizado.
O Juramento dos Horácios /1785 - Museu do Louvre
A Morte de Marat / 1793 – Museu Royal de Belas Artes, Bélgica
A Morte de Marat / 1793 – Museu Royal de Belas Artes, Bélgica
Monsieur Lavoisier and his wife – 1788 Metropolitan Museum of Art
A Morte de Sócrates / 1787 – Metropolitan Museum of Art – Nova York
Napoleão cruzando os Alpes - 1801 - Chateau National de Malmaison / França