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Tais Luso de Carvalho
O
holandês Rembrandt
Harmenszoon van Rijn,
o pintor da luz dramática,
nasceu em 15 de julho de 1606 em Leiden, no seio
de uma abastada família burguesa. Seu pai era dono de um moinho,
tendo conseguido juntar uma fortuna considerável; sua mãe era
descendente de uma família de padeiros, conceituada.
Ainda
jovem, em 1620, Rembrandt decidiu trocar os estudos de filosofia pela
carreira de pintor, tendo como seu primeiro professor o mestre Jacob
von Swanenburgh, que ao longo de três
anos lhe ensinou o básico do ofício.
Mais
tarde, Rembrandt mudou-se para Amsterdam onde foi aluno de
Pieter Lastman, pintor e
retratista, muito influenciado pelo caravaggismo.
Tinha, também, viajado pela Itália onde
descobrira a dramaticidade da luz e sombra para o seu trabalho.
Com
um pouco mais de 18 anos, começou com projetos
ambiciosos, mas não obteve o reconhecimento que
esperava do público.
Até
aí tinha feito uma série de autorretratos,
que demonstrava muito de sua autoconfiança artística. Desenvolveu
esses autorretratos
psicológicos, fruto
de suas observações e autorreflexões críticas. Esses
seus estudos lhe permitiam
visualizar um estado de alma.
É
com Rembrandt que se renova a pintura holandesa, principalmente no
gênero do retrato, que adquire grande dramaticidade, usando cores
com maestria, preocupava-se não com o pormenor das coisas, mas com a
organização das sombras e luzes, das massas e volumes num conjunto
harmonioso, revelando a perplexidade do homem diante da vida.
Em
1630 Rembrandt encontrava-se no início de sua fase mais produtiva,
intensificou a produção de gravuras que vendia em grandes
tiragens, conseguindo dessa forma que seu nome fosse bastante
divulgado. À medida em que sua fama crescia, sua fortuna aumentava.
Em
1631, Rembrandt, pintou seu primeiro retrato de grupo para a
influente associação dos cirurgiões: A lição de anatomia do Dr.Tulp. Esse
quadro mostra uma intensidade jamais vista. O pintor não escolheu o
motivo da aula de anatomia só como pretexto, só
para representar um grupo de membros da associação: ao colocar a
aula em primeiro plano e reproduzir a atenção concentrada dos
médicos, ele os retratou
individualmente no seu meio natural. Demonstra um
grande domínio da luz: os
rostos das pessoas estão banhados por uma luz extremamente clara que
as destaca em conjunto do escuro que circunda.
Após
a execução desse trabalho Rembrandt tornou-se famoso em poucos
meses, recebendo nos anos seguintes uma enchente de encomendas
da burguesia e mesmo da corte de Haia.
QUADROS
HISTÓRICOS
Seus
quadros históricos tem uma característica muito particular:
ilustram os acontecimentos e ao mesmo tempo mostram o homem e seus
sentimentos. Interpretava os temas de uma maneira peculiar: preferia
mostrar suas cenas no interior, dando à luz um tratamento muito
próprio.
Com
um claro-escuro acentuado, Rembrandt alcançava efeitos sugestivos e
emocionais. Não iluminava muito suas obras, deixava grandes
superfícies na obscuridade. As partes iluminadas, normalmente não
apresentam uma fonte de luz concreta – a luz parece vinda do
interior, tendo um caráter simbólico. Rembrandt trabalhava seguindo
a tradição de Caravaggio.
Em
1660 o município de Amsterdam procurava um pintor para retratar uma
história. Uma enorme tela deveria representar a conspiração de
Claudius Civilis, herói nacional contra o poderio romano. A obra,
porém, foi tão desnorteadora, tão selvagem que foi recusada.
Muitos anos depois essa obra foi reavaliada, sendo considerada hoje
como uma das mais impressionantes obras de Rembrandt.
Uma de suas principais obras foi A Ronda Noturna. Foi uma importante
encomenda que o artista recebeu para pintar o retrato de um grupo da
guarda-civil. Cercados pela escuridão e ao som de tambores este
grupo de milicianos se prepara para sair em marcha. O interessante
nessa composição de Rembrandt, é que ele criou uma cena
movimentada, como se fosse uma narrativa histórica, mostrando os
milicianos no preparo normal para entrarem em formação. A cena
aparece dramática, com áreas escuras e com focos de luzes que
destacam os rostos, capacetes e armas.
A Ronda Noturna (visão do tamanho)
FAMÍLIA
Seu
casamento com Saskia van Uylenburgh, filha de uma distinta família
de patrícios, em 1634, integrou Rembrandt na alta sociedade. Essa
ascensão social, a fortuna
de Saskia, seu ordenado de professor e a venda de quadros
o colocaram no patamar de um homem bem-sucedido.
Porém todo o dinheiro ganho era gasto nos leiloeiros; colecionava
vestes, armas, livros, gravuras em cobre e outros objetos que pintava
em seus quadros, ricos em adereços. Essas aquisições pesavam de
tal forma na sua fortuna que Rembrandt não
conseguiu pagar o sinal de uma casa na seleta rua Breestraat.
A
vida do pintor na capital da Holanda era
amena e feliz. O amor que dedicava à
sua esposa, transparece nos quadros que a retratam. Porém,
nessa época já se nota um aspecto inquietante na
sua pintura, e que se desenvolveu
com o tempo, terminando por afastar os clientes,
tal a crueza exposta e que chocava
seus contemporâneos.
Em
1642 Rembrandt começou a
sentir os primeiros dissabores. Morreu
a esposa, deixando-lhe o filho Titus. Marcado pelo sofrimento suas
pinceladas tornaram-se mais
violentas. Com lente de aumento observava
a degradação do próprio corpo e a transportava
para a tela.
O
abatimento que se revela no rosto da obra
Betsabá, a noiva Judia,
a degeneração no corpo do Boi Esquartejado,
e no Cristo
em Os Peregrinos de Emaús, acabaram
aparecendo no rosto do artista, tal como é fixado no seu último
autorretrato. Ao
todo, Rembrandt pintou ao longo de sua carreira 86 autorretratos, em
vários estilos diferentes, que eram colecionados por conhecedores e
que o ajudaram, posteriormente, a firmar sua reputação.
Na
miséria e
esquecido, Rembrandt continuou
a pintar, analisando cada vez em maior profundidade as paixões e a
decadência humanas.
Morreu no
dia 4 de outubro de 1669,
deixando em seu testamento algumas roupas de linho e lã, 'minhas
coisas de pintor'.
Fontes:
Arte
nos Séculos – Abril Cultural
História
da Pintura – ed. Könemann
Tudo
sobre arte – Stephen Farthing / Sextante