28.12.16

CÂNDIDO PORTINARI

Os Retirantes - 1944

Portinari nasceu em 1903 numa fazenda de café, em Santa Rosa, interior de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, era o segundo dos doze filhos do casal Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato. De família humilde, Cândido cursou apenas o primário. Porém desde criança mostrou sua inclinação às artes. Aos 9 anos desenhou o retrato de Carlos Gomes, como viu numa caixa de cigarros.

Em 1920, aluno da Escola Nacional de Belas Artes, aprendeu a técnica acadêmica, conservadora. Em 1928 ganhou como prêmio, uma viagem ao exterior ficando 2 anos na Europa convivendo com os renascentistas italianos.

De volta ao Brasil, em 1930, começou a desenvolver sua própria técnica, aplicada aos murais, obras por demais conhecidas: mural do Ministério de Educação e Saúde e os da sala da Fundação Hispânica na Biblioteca do Congresso em Washington, Via-Crúcis (Igreja da Pampulha, Belo Horizonte) e o painel Guerra e Paz para a sede da ONU.

Após sua volta, em sua primeira exposição mostra a versatilidade que será a característica de sua obra. Mostra influência direta de Modigliani. Em seguida deriva para os temas regionais e folclóricos. E, após, sente-se atraído pelos muralistas mexicanos, em particular por Diego Rivera. Ao mesmo tempo executa as duas primeiras obras abstratas em nosso país.
 
O lavrador de café
Com a obra O Lavrador de Café – onde conquistou o prêmio Carnegie, 1934, projeta internacionalmente seu nome tornando-se a figura de maior prestígio na pintura contemporânea brasileira.
Portinari retratou pessoas, em suas relações de amizade, nas cenas dos retirantes nordestinos e nos tipos populares, retratando sua história social 

Foi um pintor social, tocado de doloroso e revoltado humanitarismo em face da miséria, da fome e da ignorância. Seus numerosos retratos, aristocráticos e elegantes não contam na sua obra. Era o seu ganha-pão e, por outro lado, o preço inevitável de sua notoriedade. Finalmente, ninguém poderá lhe recusar o título vanguardeiro do primeiro e autêntico muralista da pintura brasileira.


O Mestiço / 1934
A figura do lavrador mestiço, com braços cruzados, lembra aquelas composições italianas. Aqui Portinari foi buscar referências em seus tempos de infância, quando trabalhava nos cafezais paulistas. 

As mãos e a cabeça agigantadas conferem eloquência à narrativa e monumentalidade para glorificar o trabalho das classes operárias. As tonalidades do marrom e o roxo dos campos cultivados expressam a vitalidade da terra. 

As pequeninas pedras à direita e o tronco à esquerda também lembram as lições de pintores italianos que usavam esses elementos para dar profundidade ao quadro. 

O fundo, com o muro do bananal à direita e a cerca do cafezal à esquerda, também recorda a perspectiva geométrica característica do Renascimento, confirmada pelo sólido formado pela casa, que se contrapõe, ao morro à esquerda. 

Algumas das pinturas conhecidas de Portinari: Meio Ambiente – Colhedores de Café – Mestiço – O Labrador de Café – O Sapateiro de Brodósqui – Menino com Pião – Lavadeiras – Grupos de Meninas Brincando – Menino com Carneiro – Cena Rural – A Primeira Missa no Brasil – São Francisco de Assis – Tiradentes – Os Retirantes – Futebol – O Sofrimento de Laio – Retirantes e Criança Morta. 

Em janeiro de 1962 sofreu nova intoxicação por chumbo, que já o atacara em 1954 e não mais se recuperou vindo a falecer em 6 de fevereiro, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

Colheita de Café

O estivador
O sapateiro de Brodowski / 1941

Meu primeiro trabalho / 1920



Cândido Portinari / Dias de tristeza aqui.



23.11.16

SALVADOR DALI / A ÚLTIMA CEIA


A Última Ceia - 1955 / Salvador Dalí

Como outros quadros religiosos de Dalí, A Última Ceia provoca amplas reações: alguns críticos a denunciaram como fútil e banal, enquanto outros acreditam que Dalí conseguiu revitalizar a imagem tradicional da devoção.
As controvérsias se complicaram pela consciência pública de Dali como uma personalidade aparentemente mais interessada em jogos intelectuais e emocionais do que na expressão de convicções autênticas.
Jesus e seus doze apóstolos estão reunidos numa sala modernista envidraçada. Os apóstolos com as cabeças baixas, ajoelham em torno de uma grande mesa de pedra, suas formas sólidas contrastando com a transparência de Cristo.
Dois pedaços de pão e meio copo de vinho representam a refeição sacramental.
Dalí construiu esse quadro de acordo com os princípios matemáticos derivados do seu estudo do Renascimento, e Leonardo da Vinci (que pintou a mais famosa das Santas Ceias) é uma influência particularmente forte.
Com um gesto bem parecido com o de Leonardo, Jesus aponta para o céu e para a figura (talvez o Espírito Santo) cujos braços se estendem para abraçar o grupo.

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Ano: 1955
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 166,7 x 267 cm
Localização: National Art Gallery - Washington, EUA

In Vida e Obra de Dali / Nathaniel Harris ed.Ediouro 1997 RJ


7.7.16

ALMEIDA JÚNIOR - 1850 / 1899

Moça com livro - 1879 / Almeida Júnior

- Tais Luso de Carvalho


José Ferraz de Almeida Júnior nasceu em 8 de maio de 1850 na cidade de Itu / São Paulo. Um dos mais representativos precursores do modernismo no Brasil morreu tragicamente assassinado nos braços de sua amante, mulher de seu assassino (seu primo), no Largo da Matriz de Piracicaba/São Paulo, diante da família, de crianças e de alguns estranhos. Aspectos da vida particular de Almeida Júnior tornam-se curiosos à medida que sua morte foi ocultada por dezenas de anos pelas famílias envolvidas na tragédia

Sua obra Saudade foi pintada meses antes de sua morte. Trata-se de uma moça, de luto, que chora a morte do marido enquanto contempla sua fotografia. Premonição?

A linguagem acadêmica e a visão quase fotográfica que se revelavam nos quadros do artista, situam-no como um pintor convencional. Entretanto a originalidade do tema, captando a realidade brasileira de cenas caipiras, mostram um certo espírito renovador, antecipando o ideal dos modernistas, animando-os.

Portinari inspirou-se em Almeida Júnior para criar sua temática da pintura nacional. Cresceu como grafiteiro, inventando pinturas nos muros da cidade. Regionalista não aderiu ao movimento impressionista, mantinha-se dentro do atelier, com seu trabalho acadêmico realista.

Seus mestres foram Jules le Chefrel, Pedro Américo e Vitor Meireles. No Rio de Janeiro ingressou na Academia Imperial de Belas Artes. Porém, no ano de 1876, o Imperador D. Pedro II, fascinado com o seu trabalho, deu-lhe uma bolsa para a École Naturale Superieure des Beaux-arts, onde tornou-se aluno de Alexandre Cabanel, um dos mais renomados pintores da época, permanecendo em Paris até 1882. Em 1873 voltou ao Brasil abrindo seu atelier em São Paulo. E, em 1884 recebeu o prêmio concedido pelo governo Imperial, A Ordem da Rosa.

Em 1897 expõe em São Paulo a grandiosa Partida da Monção, obra que lhe custou dois anos de trabalho.
Seu nome permanece vivo no cenário artístico brasileiro, através de inúmeros trabalhos onde suas composições se desenvolveram em curvas amplas e superfícies imersas em luz, traduzindo o encantamento das paisagens do interior. 

Apaixonado pelas mulheres e pela pintura, a verdadeira história de sua morte foi desenhada e colorida na clandestinidade de amores e romances atormentados. Isso torna até compreensível sob o aspecto emocional, sua morte de aventureiro - assassinado em praça pública, no dia 13 de novembro no ano de 1899, aos 49 anos.


Clique nas fotos para aumentá-las
    Picando o fumo / 1893                                      Saudade / 1899
Leitura / 1892 
 Descanso do modelo / 1882
O Violeiro / 1899
O derrubador brasileiro / 1879

Referências e fotos / Pintura no Brasil / Abril Cultural /  Dicionário Oxford / Das Artes / Artes visuais em revista.


21.5.16

MARK ROTHKO – Pintor Expressionista Abstrato




Mark Rothko, um dos maiores coloristas do mundo, afetou diretamente o futuro da arte moderna e abstrata. Nascido em 1903, na Rússia, onde hoje é a Letônia, filho de pais judeus, sua família emigrou para os Estados Unidos em 1913. 
 Foi um dos personagens mais ilustres da Escola de Nova York e, em particular, um dos criadores da colour field paitings.  Estudou na Universidade de Yale e, no campo artístico, foi em grande parte um autodidata e afetou 
Nas décadas de 30 e 40 foi influenciado pelo expressionismo e pelo surrealismo, mas por volta de 1947 começou a desenvolver seu estilo maduro e característico.
Suas pinturas consistem tipicamente em grandes faixas retangulares de cor, dispostas em paralelo, geralmente em formato vertical.
As arestas de tais retângulos são suavemente imprecisas o que lhes confere uma quantidade brumosa.
Em 1928 ele fez sua primeira exposição, mas a fama demorou a chegar e durante muito tempo Rothko ganhou a vida ensinando arte.
Suas obras foram influenciadas pela ousadia no uso da cor de Milton Avery, que rothko levou a níveis mais profundos e intensos.
Em 1935 ajudou a fundar o Grupo Dez, com artistas expressionistas abstracionistas.
Com medo da influência crescente dos nazistas na Europa, em 1938 Rothko se tornou cidadão americano e em 1940 mudou seu nome Marcus Rothkomitz para Mark Rothko. No mesmo ano ajudou a fundar a Federação dos Pintores e Escultores Modernistas, cuja intenção era manter a arte livre da propaganda política.
No fim da década de 1940 ele se aproximou de um estilo cada vez mais abstrato, eliminando todos os elementos descritivos de sua obra. No mesmo ano ajudou a fundar a Federação dos Pintores e Escultores Modernistas, cuja intenção era manter a arte livre da propaganda política.
Em 1961, alcançou o sucesso, sendo tema de uma grande mostra retrospectiva organizada pelo Museum of Modern Art of Nova York.
Suas obras mais tardias tendem a tonalidades mais sombrias, talvez refletindo o estado de depressão que o levou ao suicídio.
Rothko considerava como suas obras-primas a série de nove pinturas com Negro sobre Marrom e Vermelho sobre marrom, feitas para decorar um restaurante no edifício Seagram / Nova York, no entanto doadas à Tate Gallery, por Rothko, pouco antes de sua morte, por suicídio, em 1970.



Clique nas obras + zoom



Referências: 
Dic.Oxford de Arte - Martins Fuentes, SP, 2007
Grandes Artistas - ed.  Sextante, Rio de Janeiro - 2009

1.5.16

REALISMO: COMO TRABALHA UM PINTOR REALISTA?



GUSTAVE COUBERT NESTE BLOG: aqui

Segundo a concepção realista, a pintura destina-se a representar as coisas concretas e existentes. Os temas abstratos ou imaginados não pertencem ao domínio da pintura. O pintor realista só representa aquilo que vê. Não poderá representar, por ex um episódio da mitologia grega ou da Bíblia, pela simples razão de não o ter visto ou de não o ver. A beleza está na própria realidade e o talento artístico consiste em descobri-la e acentuá-la, sem recursos e fórmulas históricas e ideias, como entre os neoclássicos, nem às efusões emocionais, como nos românticos.

Ser realista, porém, não é ser exato e minucioso como uma fotografia. Ser realista é ser verdadeiro. Ser verdadeiro é selecionar, sintetizar e realçar os aspectos mais característicos, expressivos, e por isso mesmo, mais comunicáveis e inteligíveis das formas da realidade, não sendo necessário idealizá-las ou perturbá-las com a emoção.

Ao representar um tigre, por ex, o realista não precisa ser minucioso, descendo a descrição analítica dos detalhes; não precisa fazer as pestanas do tigre! Pode ser sintético, porque será verdadeiro desde que nos transmita o caráter do tigre, isto é, a sua ferocidade e poderosa força elástica.

No caso do retrato se o modelo tiver aquele queixo irregular, denunciador de sua personalidade, que o neoclássico esconderia em nome da forma idealmente bela, o realista não o corrigirá. Fixa-o com verdade, pois certamente o achará belo e rico de caráter. 

O realista não será eminentemente desenhista, como o neoclássico, nem veemente colorista como o romântico. Estabelecerá entre a linha e a cor, ou entre as faculdades intelectuais e as emocionais, no ato da criação artística. Não será documental como uma fotografia, porque será sintético, eliminando os elementos acessórios e insignificantes, sem força expressiva para definir o caráter do modelo e o ambiente que o cerca. Por último, poderá ainda enriquecer a sua obra de intenções políticas e sociais, refletindo tendência da época, que já havia nos românticos.


EDWARD HOPPER NESTE BLOG: aqui



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Referência: Como entender a pintura moderna / Carlos Cavalcanti 
- ed Civilização Brasileira


2.3.16

INSTITUTO RICARDO BRENNAND - RECIFE


Não deixe de ver o vídeo - Maravilhoso !


O Instituto Ricardo Brennand é uma instituição cultural brasileira localizada na cidade de Recife/Pernambuco, no bairro da VárzeaNa década de 1940, Ricardo Brennand iniciou sua coleção de armaria, sobretudo armas brancas, o que viria a ser um dos maiores acervos particulares do mundo.
Há mais de cinquenta anos o colecionador pernambucano Ricardo Brennand vem adquirindo obras de arte de diferentes procedências e épocas. Peças desde o século XV,   provenientes da Europa, Ásia, América e África. Pinturas brasileira e estrangeira, assim como Armaria, Tapeçaria, Artes Decorativas, Escultura e Mobiliário.
Quanto às armas brancas, é um dos maiores acervos do mundo, com mais de 3000 peças, produzidas entre os séculos XIV e XXI.
Pelo segundo ano consecutivo, o Instituto Ricardo Brennand foi eleito o melhor Museu da América Latina e o 19° melhor Museu do mundo, pelo Traveler’s Choice Museums, do TripAdvisor, considerado o maior site de viagens do mundo.

Biblioteca do Instituto Brennand desde o séc XVI (clique)










16.2.16

OSWALDO GOELDI


Abandono - 1930 (Goeldi)



Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro em 1895. Com apenas 1 ano de idade mudou-se com a família para Belém / Pará, onde viveu até 1905, quando sua família se transferiu para Berna / Suíça. Seu pai era um cientista suíço - Emília Augusto Goeldi.
Em 1917, matricula-se na Ecole des Arts et Métiers - Escola de Artes e Ofícios - em Genebra, mas não a concluiu por julgá-la muito acadêmica.
Oswaldo Goeldi integra, junto com Lívio Abramo e Carlos Oswald o trio de mestres e pioneiros da gravura brasileira. Sua obra tem o clima expressionista das grandes áreas em preto e linhas decisivas, que definem o desenho que emerge da escuridão. Toda a sua obra é muito coerente com os assuntos humanísticos, registrando pequenos fatos da vida social. Foi consciente em transmitir as técnicas da gravura para as gerações seguintes.
Em poucos traços aparecem sulcos feitos na madeira, com uma goiva em forma de V, criando perspectivas com as casas, postes, muros e ruas.
A figura humana emerge de raras linhas positivas. As cores são mínimas. O vermelho para o sol e os reflexos na roupa do homem; os marrons de dentro de casa e da rua são quase imperceptíveis, mas servem para conceituar a tarde – a meia tonalidade das sombras que contrasta com a vibração do disco de luz.
Oswaldo Goeldi estudou na Suíça, mas a partir de 1920 passou a viver, trabalhar e produzir no Brasil.
Além de gravador, entre 1895 e 1961 colaborou como ilustrador de jornais e revistas e ilustrou várias obras literárias, como Cobra Novato, de Raul Bopp, entre outras e, em 1941 trabalhou na ilustração das Obras Completas de Dostoievski, publicadas pela Editora José Olympio.
Em 1930, lançou o álbum 10 Gravuras em Madeira de Oswaldo Goeldi, com introdução de Manuel Bandeira. Em 1952, iniciou sua carreira de professor, na Escolinha de Arte do Brasil, e, em 1955, tornou-se professor da Escola Nacional de Belas Artes.
Participou da Bienal de São Paulo – 1º lugar em gravura; participou da 25ª Bienal de Veneza e de várias exposições nacionais e internacionais.
Em suas gravuras sempre predominou, inicialmente a cor escura, com poucos traços claros e quase uma fusão entre personagens de uma cena e o ambiente em que estão, como em Pescadores.
Com o tempo essa característica vai sendo superada, os personagens ganham mais destaque e o artista passa a empregar cores em algumas áreas de suas gravuras, como em O Ladrão.
Morreu no Rio de Janeiro em 1961.
Em 1995, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou exposição comemorativa do centenário do seu nascimento, no Rio de Janeiro.


A Vassoura - 1945
A Chuva - 1957
A Tarde - 1954
O Ladrão - 1955

Referências
Arte Brasileira / Percival Tirapele – ed Nacional
História da Arte / Graça Proença


10.11.15

ANTÔNIO HENRIQUE AMARAL




 - Tais Luso de Carvalho

 Antônio Henrique Amaral nasceu em São Paulo no ano de 1935. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Iniciou sua formação artística em 1952, na Escola do Museu de Arte de São Paulo, MASP, com Roberto Sambonet. Também estudou gravura com Lívio Abramo no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM/SP, em 1956.

 Pinto o meu hoje, uma coisa que está constantemente fugindo. Se eu fixar alguma coisa importante, minha pintura será importante; senão, azar meu, azar de minha vida. Não situo minha pintura em nenhuma vanguarda ou retaguarda, mas em minha época, em meu lugar, aqui.

Assim se expressou Henrique Amaral, depois de uma exposição em São Paulo em 1967, que reunira obras de um figurativismo estilizado, fantástico. Eram telas que apresentavam uma imagem subjetiva e racionalizada da realidade, marcando uma fase bem definida de sua pintura.

Realizando quase que exclusivamente 'gravuras', o artista fez sua primeira exposição individual em 1958, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. No mesmo ano viajou para a Argentina e Chile, expondo no Instituto de Arte Moderna de Santiago. Logo em seguida partiu para os Estados Unidos onde conseguiu uma Bolsa de Estudos na Tungram Merril Foundation, onde se especializa em gravura com MunaKata, no Pratt Institute de Nova York.

Exposições nacionais e internacionais se sucederam incluído a participação nas V, VI, VII e IX bienais da Bahia, conquistando muitos prêmios, admiração e prestígio.

Foi após o golpe militar de 1964, que sua obra transformou-se numa temática social e agressiva. Em 1967 lança seu livro O Meu e o Seu, na Galeria Mirante, com apresentação e texto de Ferreira Gullar e capa de Rubens Martins. Nesse ponto inicia seu trabalho em pintura.

Porém, em setembro de 1969, na Galeria do Copacabana Palace do Rio, um único tema apoderou-se de seus quadros: as conhecidas Bananas! Bananas isoladas, em cachos, maduras, verdes e apodrecidas, enfim, tudo funcionou como metáfora durante o golpe militar. Deu seu recado como sabia, através da sátira.

Em 1975 retorna ao Brasil após algumas exposições nos Estados Unidos e em outros países e revigora sua pintura partindo para o abstrato, com influências surrealistas e inspirado em artistas como Roberto Matta e Joan Miró.

Em 24 de abril de 2015 Henrique Amaral morre aos 80 anos, em São Paulo, de câncer de pulmão.





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 Vídeo com o artista - vários de seus períodos. TV Cultura 29/4/2015

Aguarde uns  'segundos' a propaganda do vídeo
  
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Documentários TV Cultura.
Pintura do Brasil - Abril Cultural



1.11.15

APENAS UM AMIGO - REFLEXÕES NO ATELIER

Abstrato - Tais Luso

     

                   - por Tais Luso de Carvalho

  Mais uma madrugada e mais outro amanhecer, sempre o mesmo ritual: a noite despedia-se enquanto surgia a tímida luminosidade do amanhecer.

   Mariana permanecia no sótão da casa entre telas e pincéis. Ali em seu atelier, ela dava vazão às suas emoções, colocando em cada pincelada um pouco de seu espírito, por vezes melancólico e solitário. Os suaves e disciplinados acordes uniam-se em melodias que lhe tocavam o coração: as Ave-Marias de Gounod, de Shubert, de Donati...

   Não demorou muito para que ela largasse as telas e desse descanso aos pincéis. Já cansada, debruçou sua cabeça sobre a mesa e passou a refletir sobre sua vida, seus encantos e desencantos, seus afetos, seus amigos, sua família.

  Simpatizante da filosofia budista questionava-se, também, sobre a reencarnação e outros tantos caminhos. Mas até aquele momento não chegara a um consenso. Ao mesmo tempo em que estava sintonizada com a estética, estava em dissonância com seus valores e com sua espiritualidade.
E ali viu-se só.

   A música inundava o atelier amenizando sua solidão. As tintas e os pincéis, antes deixados de lado, agora testemunhavam os abafados soluços de Mariana. O tempo foi cumprindo o seu percurso até que Mariana levantou a cabeça como se estivesse emergindo de profundezas. E fixou, ao acaso, seu olhar num quadro esquecido, dependurado e coberto num canto do atelier, quase diante de sua mesa, ao lado de objetos insignificantes.

  Com curiosidade, levantou-se e removeu um pano que encobria o quadro que havia pintado há muitos anos. Um pouco surpresa, ficou a olhar aquele rosto de expressão suave, olhos cheios de ternura e os cabelos castanhos caindo sobre o belo rosto, numa suave harmonia.

   Voltou à mesa e dali ficou a observar aquela expressão tão singular: um olhar que não recriminava e lábios que não acusavam. Talvez ela tivesse descoberto, em algum recanto de sua alma, sentimentos de generosidade e complacência. E pintara um retrato comprometido com esses sentimentos e com suas carências.

 Já menos amargurada, levantou-se e substituiu a música: colocou “Chanson d’enfance” e enterneceu-se como se buscasse um afago; queria sentir apenas a alegria do momento, e ter uma paz que não oscilasse. E assim ficou por bom tempo, recostada no sofá, deixando-se conduzir pelos suaves acordes.

   Mais tarde aproximou-se do quadro e fixou seus olhos na pintura:

   - E agora Amigo? Estamos aqui sozinhos, frente a frente... Mas nada ouso Te pedir, guardo na memória a tua Via-Sacra... Mas procuro apenas alguém que me escute, que retorne comigo à infância, e que compartilhe de meus projetos; ainda que pequenos projetos; e que na solidão de minhas madrugadas esteja presente...

  Sinuoso, o sol invadiu o atelier deixando uma sensação de conforto. Mariana caminhou em direção ao quadro, beijou o meigo rosto e encostou a porta...
- Até amanhã.


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( Conto publicado na Revista de Artes Dartis nº 24 )