2.1.15

POLLOCK - O EXPRESSIONISTA ABSTRATO

Convergence 1952 / uma enorme e multicolorida 'pintura de ação'.

Jackson Pollock, pintor americano, nasceu em Cody – perto de Nova Iorque em 1912. Era filho de um granjeiro, tinha parte de sua origem irlandesa e parte escocesa. Inicialmente viveu em contato com solo americano, nos Estados de Wyoming, Arizona e California. Sua vocação artística revelou-se a partir de 1925 quando se inscreveu na Manual Art School de Los Angeles. Em 1929 foi estudar em Nova Iorque no Atelier de Thomas Hart Beton, pintor folclórico.

Descobriu em seguida a pintura em areia dos índios americanos e os pintores mexicanos de afrescos. Todavia, seu desenho inspirou-se nos mestres do barroco europeu. Em 1936 pintou telas violentamente expressionistas. Em 1940 executou trabalhos mitológicos, um pouco influenciados por Picasso, onde as formas se deslocam no espaço: Pasiphaé - 1943 / Totem – 1944.

Desde então desenvolveu pinturas automáticas que resultaram, em 1947, no completo domínio de sua técnica. Inventou processos originais aplicando imensas telas contra a parede ou no chão. Em vez de usar pincel e paleta, praticava o dripping  passeando sobre a tela com latas furadas, de onde escorria tinta.

Ainda que Max Ernst tenha reivindicado a autoria desta técnica, foi Pollock quem a desenvolveu e dela tirou os resultados mais significativos: Catedrais - 1947, Verão – 1948, Bruma de Lavanda – 1950, Ritmos de Outono – 1950.

Estas telas gigantes apresentam um emaranhado de linhas, de espessura variada, que ocupam toda a superfície e com movimentos furiosos. Os últimos trabalhos desta série, pintados sobre vidro, misturam à tinta, conchas, pregos e pedaços de tela de arame.

Em 1950 a 1952 Pollock pintou em preto e branco, praticando um expressionismo abstrato delirante - Echo, 1951. Sua tela Abismo apresenta um buraco preto sobre um fundo branco. Depois voltou às formas circulares, onde alguns encontram analogia com os ritmos do Jazz: Oceano cinzento

Criador da Action Painting, Jackson Pollock encarna a fúria de uma raça embriagada por grandes espaços e o drama de uma civilização desencadeada. Sua obra deu consciência à pintura americana de sua autonomia e representa a afirmação da escola de Nova Iorque.

Embora alguns críticos europeus e norte-americanos tivessem ironizado a obra de Pollock como um exibicionismo vazio, a Pintura de Ação encontrou  na década de 1950 numerosos adeptos na Europa.

O exemplo de Pollock afetou não só os artista mais jovens; pintores contemporâneos e mais velhos, foram capazes de rechaçar as inibições convencionais e ingressar em terrenos semelhantes. 

Pollock travou uma grande batalha contra o alcoolismo e a depressão. Em 1937 internou-se por 4 meses num hospital psiquiátrico onde se submeteu à tratamento químico e  a uma análise. 

Em seguida numa guinada rumo à abstração, incorporou em sua pintura elementos dos modernistas Picasso e Miró, assim como técnicas aprendidas com Siqueiros. Sua primeira obra de grande dimensão foi Mural – 1943 / 1944.

Entre 1947 a 1951 criou a série que abalaria o mundo das artes. Alguns viam nele apenas um criador de peças caóticas e isentas de qualquer sentido – a Revista Time chegou a apelidá-lo de Jack, o Gotejador. Outros, como Greemberg aclamavam-no como o mais vigoroso pintor da América Contemporânea. Mas, contudo, deixou seu nome como um marco nas artes do século XX. 

Levado por um processo criador devorante, Pollock, de temperamento frenético, passou por períodos de angústia e inércia, terminando por morrer tragicamente em um acidente de carro, com velocidade acima do normal. Faleceu em 1956, Estados Unidos com 44 anos neste acidente.

Algumas obras primas:

Macho e Fêmea - 1942
A mulher-lua corta o círculo - 1943
A Loba - 1943
Mural - 1943,1944
Névoa Noturna - 1945
The Key - 1946
Full Fathom Five - 1947
Catedral - 1947
Verão:número 9A - 1948
Mastros azuis - 1952
Convergência - 1952

'Quando estou na minha pintura não tenho consciência do que estou fazendo. Só depois de uma espécie de período para 'travar conhecimento' é que me dou conta daquilo em que estive me envolvendo'.


Jackson Pollock
Mural / 1943
The Key 1946
One number 31

The She Wolf  1943 (A loba) - MOMA - Nova York


Filme:
A saga do pintor do expressionismo abstrato 


24.11.14

DJANIRA E SUA OBRA BRASILEIRA


Três Orixás - 1966 / Pinacoteca do Estado de SP

Djanira da Mota e Silva nasceu em Avaré – São Paulo em 1914. Foi pintora, desenhista, ilustradora, cartazista e cenógrafa brasileira. Ainda fez desenhos para tapeçaria e azulejaria. Aos 23 anos, contraiu tuberculose e foi internada no Sanatório Dória, em São José dos Campos.

Djanira retratava o brasileiro, que pescava, que moia farinha, que colhia cana, chá, mate, café. Era o Brasil de outrora, o campo, as casas coloniais, as montanhas, as paisagens. O mundo pictórico de Djanira era a consequência do que ela via. O cenário que a cercava era sempre um tema: foi assim que visitou os índios Canela, no interior do Maranhão, e percorreu o Brasil do norte ao sul para desvendar os diferentes aspectos. Essa peregrinação iniciou-se na sua infância, seguindo o pai nas suas sucessivas mudanças pelo interior.

Emeric Marcier e Milton Dacosta ensinaram-lhe os princípios básicos da técnica, da mistura das cores, do uso da paleta. Mas foi vendo e sentindo, tentando e analisando que sua formação artística se completou.

A Ascensão de Djanira no cenário artístico nacional foi rápida. Não tinham passado três anos desde sua primeira exposição em 1942 e já participava das maiores mostras coletivas de artistas brasileiros no exterior ao lado de Portinari, Guignard, Di Cavalcanti e outros.

Mas já em 1942 mostrava sua vocação pelo passado e pela província. Ainda em 1945 viajou aos Estados Unidos onde expôs em Washington, Boston e Nova York e onde foi influenciada pela pintura de Pieter Brueghel. Nesta mesma época, conheceu Fernand Léger, Joan Miró e Marc Chagall. Contudo, até 1950, foram as crianças numerosas e contornadas por um traço escuro que dominaram suas telas.

Gradativamente o traço do contorno foi desaparecendo, juntamente com os volumes. A pintura tornou-se chapada, de cores vivas e distribuídas em campos bem determinados. À medida que sua obra se transformava, Djanira conquistava inúmeros prêmios nas exposições realizadas pelo país, como a grande medalha de prata no Salão do Distrito Federal (1950) e a medalha de ouro do Salão de Arte Moderna de São Paulo (1951).

Os temas regionais apareciam cada vez com mais frequência, como no mural para o Liceu Municipal de Petrópolis. Em 1958 foram realizadas duas grandes retrospectivas: na Galeria das Fôlhas, SP e no Museu de Arte Moderna no Rio de janeiro.

Totalmente aceite pela crítica e pelo público, a obra de Djanira representa uma maneira sincera de ver e de sentir que marcou profundamente a arte brasileira. Em janeiro de 1971, após um ano de trabalho, publicou uma obra artesanal: Oratório, livro todo feito a mão, com dez iluminuras, editado por Júlio Pacello.

Como apontou o crítico de arte Mário Pedrosa (1900 - 1981), Djanira era uma artista que não improvisava, não se deixava arrebatar, e, embora seus trabalhos possuíssem uma aparência ingênua e instintiva, seus trabalhos eram consequência de cuidadosa elaboração para chegar à solução final.

Após sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 31 de maio de 1979 aos 64 anos, suas obras figuraram nas mostras importantes do país.

Não poderia deixar de transcrever aqui a palavra do crítico de arte Jayme Maurício (Correio da manhã em 9 de maio de 1967) acerca do talento dessa artista:
Grande e magnífica Djanira, pintora da alma pura que transforma banalidades em grandes emoções, e de um nada exterior cria uma imensa riqueza interior, pintora de anjos e santos, de negros e brancos, de plantas e cafezais sem fim, das ruas da velha parati e da paisagem carioca, dama ilustre desse Brasil subdesenvolvido, capaz, entretanto de uma Djanira.
 Clique nas fotos para ver maior
 
Os Orixás - Palácio do Planalto
Mercado de Peixe - 1957 / Acervo Itaú SP
Casa de Farinha - 1963

Fazenda de chá no Itacolomi - 1958 / Museu Arte Moderna RJ
Oficina de Trabalho - 1962
Djanira

   Figuras com Galo - Acervo Itaú SP                                   O Violoncelista - 1944

22.9.14

WILLEM DE KOONING

Mulher 1

Willem De Kooning, pintor expressionista holandês, nasceu em 24 de abril de 1904 em Roterdam. Estudou na Rotterdan Academy of Finr Arts and Techniques. No ano de 1926, foi para os Estados Unidos, onde viveu como clandestino e onde passou um período de muita pobreza. 

Mais tarde, já em Nova York, tornou-se amigo de D. Grahan e Ashile Gorky com quem dividiu o atelier em Manhattan e teve bastante influência  em seu trabalho. Pintou diversos murais para o Federal Arts Project. Em 1936 já pode dedicar-se totalmente às artes onde suas telas abstratas e figurativas sofreram influência do cubismo e do surrealismo de Picasso, como também pela obra de Gorky em 1938, com uma série de figuras masculinas e outras abstrações.

Tornou-se um dos principais nomes do abstracionismo americano e seu tema predileto foi a mulher. Sua obra revela a angústia de viver num mundo contemporâneo. 

Em 1942 tornou-se amigo de Pollock em Nova Iorque. Oito anos mais tarde criou a pintura de grande formato Escavação, que alguns críticos consideraram a mais importante obra do artista.

A tinta jogada sobre a tela, a justaposição de várias cores que destoavam entre si, a manipulação dos tons e a herança expressionista foram o que De Kooning usava para desintegrar a realidade – que nunca se apagou totalmente. Suas obras primavam pela emoção e movimento.

Sua obra, Mulher 1, a mais conhecida de Willem De Kooning, é um mosaico de cores fortes, densa, e que estuda a mulher. O rosto anguloso os olhos repuxados, dentes ferozes, curvas destituídas de sensualidade, apresenta uma mulher que se posta entre o abstrato e o figurativo. Parecem representar tanto a reverência quanto o medo que o poder feminino infundia  no inconsciente do artista. Mas eram telas meticulosamente planejadas. Sua pintura não se diferenciava tanto de seu contemporâneo Pollock.

De Kooning chocou não só os críticos, mas colegas e o público em geral. O público estranhou o aspecto grotesco das representações femininas e a crítica reprovou a inclusão de elementos figurativos na arte abstrata. Contudo, De Kooning trabalhou formas angulosas e bruscas, oferecendo um berrante contraste com a representação sensual e deificada na arte tradicional da figura feminina. Contudo, De Kooning não abandonou totalmente o figurativo e, em 1953 causou polêmica com sua série MulheresE justificou-se:

"Alguns artistas atacaram-me por pintar mulheres, mas eu acho que isso era problema deles, não meu. Não me sinto nada com um pintor não-objetivo."


Em 1963 De Kooning mudou-se para Long Island onde houve seu declínio criativo. No entanto, o artista não abandonou a pintura, mas começou a trabalhar com escultura, em 1969/ Roma, executou suas primeiras figuras trabalhadas com argila e fundidas em bronze. 

Faleceu em 1997, em East Hampton / Nova York, sendo diagnosticado com Alzheimer. Em 2012 teve uma retrospectiva no MOMA, em Nova York.

        Mulher 2 - 1940                                              Standing Man - 1942             
Sem título - 1958
Excavation - 1950 / uma de suas pinturas mais famosas
Torso de 2 mulheres - 1950
Série Mulheres - 1950 MOMA



28.8.14

VICTOR MEIRELLES – 1ª MISSA NO BRASIL




Victor Meirelles  nasceu em Nossa Senhora do Desterro, denominada hoje de Florianópolis / SC - Brasil, a 18 de agosto de 1832. Filho de pais humildes, Victor logo demonstrou sua vocação para o desenho, impressionando o pintor argentino Mariano Moreno, que orientou seu primeiro aprendizado. Graças aos amigos do pai, que contribuíram para pagar-lhe os estudos, Victor embarcou em 1846 para o Rio de janeiro, para a Academia Imperial de Belas Artes – que impressionou com sua obra sobre a capital catarinense. 

Foi um grande entusiasta dos pintores venezianos, principalmente Veroneze, pela sua cor. Sua obra acima, a Primeira Missa no Brasil, mostra que a cena principal é o grupo que fica no altar. A luz incide sobre o sacerdote, criando um ambiente místico, coerente e harmônico, entre os gestos do Frei Henrique e os dos ajudantes. Os personagens, bem distribuídos, os brancos com a fé e os índios, surpresos e curiosos. A paisagem é magnífica: à esquerda a montanha e à direita o mar.

A tela Moema, mostra toda a sensibilidade de Meirelles; mostra todo o sentimento poético., Moema era uma índia que revelou o espírito lírico de Meirelles e de sua humildade diante da natureza.

Estudou a fundo as técnicas do desenho e da pintura, ganhou o primeiro Prêmio de Viagem à Europa, onde visitando quase que diariamente o Louvre, se apaixonou pela pintura histórica de David. E foi lá que trabalhou uma de suas obras mais importantes: a Primeira Missa no Brasil – 1861 – aceita no Salão de Paris, fato inédito para um artista brasileiro. A obra da Primeira Missa foi apoiada na leitura da carta de Pero Vaz de Caminha, o que confirma o caráter narrativo e documental de sua obra.

Porém, foi com a Guerra do Paraguai, com os enormes quadros Passagem de Humaitá e o Combate Naval, que sua imaginação alcançou voos, sem dar ouvidos aos invejosos que o criticavam pela sua enorme criatividade. Sua obra histórica transformou-se num clássico á altura dos maiores mestres.

Talvez por ter sido condecorado por D. Pedro II, foi menosprezado pela República, tendo mesmo sido demitido da cátedra. O pintor do equilíbrio e do rigor técnico passou a ser ignorado. Mas foi ele quem deixou ao Brasil um dos maiores legados da história brasileira, num período que carecia de testemunhas oculares.

Com a proclamação da República em 1889, Victor Meirelles é afastado da cátedra e da vida artística, passando a levar uma vida de solidão e privações até fevereiro de 1903, quando morre totalmente esquecido.

A obra do gênio catarinense, hoje é reconhecida no mundo inteiro, como um dos pontos altos da arte americana.

O Museu Victor Meirelles/IBRAM/MinC foi inaugurado na cidade de Florianópolis em 1952, na casa onde nasceu o artista Victor Meirelles. O sobrado, tombado como patrimônio histórico nacional em 1950, foi construído por volta do final do século XVIII e início do XIX e abrigou o comércio da família Meirelles de Lima. O Museu possui duas coleções em seu acervo. A coleção Victor Meirelles é formada por obras de autoria do artista, de seus professores e alunos, a partir da cessão do Museu Nacional de Belas Artes na época da criação do Museu, bem como de aquisições e doações de instituições e particulares. A Coleção XX e XXI, por sua vez, é composta por trabalhos de artistas modernos e contemporâneos oriundos de doações realizadas ao Museu ao longo dos anos. (fonte folder do Museu)

 Obras apresentadas no blog:
Combate Naval do Riachuelo - 1865
Passagem de Humaitá - 1886
Moema - 1866
Primeira Missa no Brasil – 1861
Retrato de D. Pedro II - 1864
Guerra dos Guararapes – 1879
Vista do Desterro - 1846

 - 1864 -
- 1879 -
- 1886 -
- 1846 -
- 1882 -
 - 1866 -

Referências:
Arte nos Séculos – Abril Cultural
Grandes Pintores – Paulo R. Derengoski


23.7.14

POR QUE UMA OBRA É BELA - Érico Santos

Mulheres e Flores - Érico Santos


 Posto aqui, na íntegra, um belo texto de Érico Santos, consagrado artista plástico,      um dos expoentes do mercado de arte no Rio Grande do Sul. Texto retirado de um de seus livros 'Arte: Emoção e Diálogo' - ed Uniprom - pag 13.  
'Erico debate neste livro questões atuais da arte, tecendo considerações sobre a evolução do gosto, dos estilos e principalmente dos suportes artísticos que tanto desconcertam o público.'


POR QUE UMA OBRA É BELA 

Toulouse-Lautrec dizia que não era a Gioconda que as pessoas iam admirar no Louvre, mas sua mística, seu autor, sua história, seu valor.
Tais influências existem. Basta o fato de que quando um artista é consagrado sua obra fica em segundo plano ou até inexistente na consideração de quem a adquire: eu tenho um Matisse... Fulano comprou um Degas... um Van Gogh foi arrematado por A estas alturas já não interessa mais a fruição intrínseca da obra, e sim as vantagens advindas de valores alheios a ela.
Uma obra de arte pode exercer nas pessoas diversos interesses. Alguns procuram incansavelmente a posse de um quadro sem sentir ou entender absolutamente nada sobre o mesmo. Basta ver o frisson que uma determinada pintura causa no mercado entre colecionadores, investidores, marchands, mídia, etc. Mais tarde se verifica que era falsa. Não me refiro às falsificações das obras de Vermeer, por exemplo, passadas pelo crivo dos maiores peritos, orgulhosamente ostentadas até em museus e somente descobertas graças à confissão do falsificador que ansiava pelo reconhecimento. Falo das falsificações grosseiras que qualquer conhecedor de pintura tem condições de constatar. Aqui, garranchos grotescos com a alcunha falsa de Di Cavalcanti, Portinari e outros mestres era disputado freneticamente em leilões e galerias. Como vê a pintura alguém que adquire um quadro destes?
As diferentes maneiras com que as pessoas apreciam as obras de arte muitas vezes estão diretamente relacionadas com suas convicções íntimas, suas necessidades de fruição, de vaidade, de pecúnia ou apenas porque tem uma pressuposição a respeito de uma determinada escola, ou de incontáveis formas de manifestação artística. É o belo da obra, transitando por fora dela mesma, dentro de cada cabeça que não sabe ver o seu belo real.
Alguns só querem a vanguarda. Existem os que só têm olhos para o cubismo. Outros só pensam nos impressionistas. Há os que só se interessam pelo resultado financeiro que lhes dará a obra, e muitos querem qualquer coisa, desde que seu decorador recomende, o que seja da cor do seu sofá.
Creio que para sentir a beleza das obras de arte é preciso neutralizar quaisquer influências exteriores, conhecer suas diversas manifestações e vê-las conforme o contexto em que se enquadram. Um ready-made duchampiano pode ser arte tanto quando um nenúfar de Monet. Entretanto, seus contextos são tão colidentes que um está para o outro como a música está para o teatro. Quem vai a um museu observar uma roda velha de bicicleta está movido por uma necessidade diversa de quem vai a uma galeria comercial. No primeiro caso, uma mentalização em cima de uma teoria. No segundo, prazer, sentimento... alma. Em cada caso há o belo que cada um procura. Basta saber separar os contextos.
- Cenas Urbanas -

18.6.14

RON MUECK, O HIPER-REALISTA


                  Tais Luso de carvalho -
Ron Mueck, escultor australiano, reside e trabalha em Londres - Grã-Bretanha. Incrivelmente realista em suas esculturas que reproduzem os detalhes do corpo humano com enorme precisão, e que, se não fosse pelo tamanho, poderiam passar por seres de carne e osso. O objetivo de Mueck é  criar esculturas  cada vez mais reais. Ele brinca com as escalas para produzir imagens visualmente exageradas, irreais no tamanho, mas absolutamente reais nos detalhes. Suas esculturas mais parecem vivas.
Filho de migrantes alemães, nasceu em 1958 - Melbourne, Austrália. Decidiu em 1996, trabalhar como escultor independente. Com a sua versão de Pinocchio, o arquétipo de uma marioneta, muito fiel à realidade, logo seria descoberto pela cena artística internacional.
A natureza implacável da representação vem desde as plantas dos pés até as unhas por cortar, a pele enrugada, o envelhecimento nos olhos, veias, pelos, elasticidade da pele e todos os sinais estão presentes tornando suas esculturas fantásticas e chocantes. Prestem atenção nos cabelos das esculturas, são colocados fio por fio. Suas obras são a expressão concentrada de estados emocionais específicos da vida. Do inevitável.
O trabalho em resina, fibra de vidro, acrílico e silicone  consome muito tempo. Uma razão específica é o fato de Mueck trabalhar nas esculturas com modelos vivos, e por vezes em barro e que Inicia trabalhando nas proporções corretas.
A precisão dos gestos, a aparência realista da carne, fazem as esculturas parecem totalmente reais. Essas obras descrevem situações imaginárias, mas sua obsessão com a verdade evidencia a busca de um artista pela perfeição, munido de uma incrível sensibilidade pela forma e material. 

Pressionando os limites da semelhança, Mueck cria obras que são secretas, meditativas e misteriosas. Pode passar uma hora e meia fazendo apenas o olho de uma escultura. E essa busca pelo perfeccionismo teve origem na sua infância, nas cobranças do pai, um alemão rigoroso.
"Quando era criança, ele já fazia os bonecos e as marionetes para vender no mercado. O pai ficava o tempo todo dizendo: não, muda, não está bom, faz de novo. Era uma exigência e daí essa extremada perfeição, esse detalhismo que ele tem para tudo", conta Carlos Alberto Chateubriand, presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Ron Mueck é um homem que gosta de estar só, trabalha sem pressa em seu atelier em Londres, onde revitalizou por completo a escultura figurativa contemporânea. Por onde passa, suas exposições têm sucesso enorme, batem recorde.
'Eu quero fazer algo a que uma fotografia não conseguiria fazer justiça. Embora passe muito tempo ocupado com a superfície, é a vida interior que quero captar'.
o homem grande
detalhe do rosto
Menina

casal com guarda-sol  2013
detalhe do corpo -  do casal com guarda sol 2013
Duas mulheres  2005
detalhe - rosto das duas mulheres
Women With Shopping 2013 (detalhe)

O homem no barco 2002 (observado pelos visitantes...)
Veja o vídeo!!
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Referências: 
Realismo - Kerstin Stremmel ed Taschen
100 Ideias Que Mudaram a Arte - Michaael Bird

20.5.14

PINTURA FLAMENGA / 1420 – 1580




               - Tais Luso de Carvalho

No princípio do século XV, no norte da Europa, na região de Flandres (hoje, aproximadamente Bélgica e Luxemburgo), haviam indícios que apontavam para o começo de uma nova era, mesmo os flamengos não absorvendo as inovações no campo das artes comparando-se ao que sucedeu no Renascimento. A pintura ficou por mais tempo ligada à tradição medieval. Paulatinamente é que despontou a arte da velha Flandres, terra dos Flamengos na Europa, de grande importância cultural e econômica desde a Idade Média.

Os primeiros sinais de mudança surgiram inicialmente no campo da escultura, com  Claus Sluter (1350-1405).

Aos poucos os temas religiosos foram cedendo lugar aos temas mundanos. Os pintores flamengos transferiam as cenas religiosas para um ambiente profano, tentando representar o espaço, a cor, os corpos e a luz, de maneira mais natural o possível.

O povo via os conflitos sociais, fruto das bruscas mudanças econômicas, as guerras, os surtos da peste e o flagelo da fome, que no século 15 se abateram sob os países baixos. A insegurança gerou o fanatismo religioso; procissões intermináveis de fiéis que se autoflagelavam, enquanto os seus pecados percorriam o país, levando a religião católica a uma profunda crise. A necessidade de uma orientação determinante de reforma, era óbvia.

Enquanto que a arte italiana do século XV tinha por base a perspectiva linear, calculada matematicamente, os pintores flamengos utilizavam a chamada perspectiva intuitiva. Ao contrário dos artistas do Renascimento italiano, que se esforçavam por representar o mundo de forma científica e racional, construindo os quadros a partir do interior, os artistas flamengos tentavam desvendar os segredos do mundo por meio do olhar exterior, observador e exato. Os pintores aprendiam com sua própria experiência de visão, assim como pelo conhecimento sobre as características dos objetos.

Pintavam o que viam, e dessa maneira os artistas conseguiam aproximar-se bastante do efeito da perspectiva central. Com essa forma de percepção, baseada no olhar e na experiência, os artistas descobriam ainda que com o aumento da distância, as formas vão perdendo cada vez mais os contornos e que a intensidade das cores diminui, mudando para tons azulados.

Os artistas flamengos se deleitavam com as oportunidades que a pintura a óleo lhes oferecia. Retratavam o mundo em que viviam com uma originalidade genuína, como se estivessem vendo tudo pela primeira vez.

BOSCH / 1450-1516
As obras de Hieronymus Bosch são a imagem desse sentimento geral. Ele transforma o inferno em algo terrestre, pois representa os abismos da humanidade, os seus vícios e os seus erros com extrema minuciosidade. O fantástico das suas obras, que já no seu tempo se tornou famoso, consiste no fato de Bosch conseguir unir num todo, o realismo (na forma de pintar) e o simbolismo (no que se refere ao sentido), mas sem querer representar os abismos
da alma humana; as suas visões aflitivas tinham uma intenção moral. Os seus mundos pictóricos eram advertências para os sofrimentos infernais que esperariam o homem, devido aos seus delitos profanos no seu dia a dia.

BRUEGHEL / 1525 - 1569
Os quadros de Pieter Brueghel, o pintor flamengo mais importante do século 16, tem um cunho pedagógico e moral comparável. Ele executava pinturas que, como as de Bosch também eram exemplificadas. No entanto, esse pintor extremamente culto não representava visões dos infernos ou temas religiosos, mas sim os temas atuais de sua época. A sua obra A Construção da Torre de Babel, pode ser vista de acordo com a moral bíblica – como um aviso à presunção humana, um fenômeno que o pintor deve ter observado nos seus contemporâneos.

JAN VAN EYCK / 1395 - 1441
Este quadro - Retrato do Noivado Arnolfini 1434 - representa de forma naturalista um casal num interior burguês. Marca a viragem da arte sacra para a arte profana. Esposa e esposo encontram-se no quarto do casal, suntuosamente vestidos a fim de contrair matrimônio. A seus pés, vê-se um pequeno cão como símbolo da fidelidade conjugal. No candelabro reluzente, uma única vela acesa simboliza a presença de Cristo.

OUTROS:
Petrus Christus - Joris van der Paele - Mestre do Frémalle - Melchior Broederlam -
Van der Weyden - Hans Memling - Gerard David entre tantos outros.