7.3.10

JOSÉ FRANZ SERAPH LUTZENBERGER

Conversa de comadres

José Franz S. Lutzenberger  nasceu na cidade de Altoettg / Baviera em 1882. Aos 38 anos - em 1920 - transferiu – se para Porto Alegre / Brasil. Sua naturalização – brasileira - foi oficializada somente após sua morte, em 1951. Formou-se em engenheiro-arquiteto (1906) em Munique. Desde jovem desenhava e pintava, mas concluindo os estudos trabalhou com projetos em várias prefeituras da Alemanha: Rixford, Dresden e Wiesbaden. Também trabalhou no atelier de Polivka (1910), em Praga, e no atelier dos professores Reinhardt e Sessenguth (1911), em Berlim.

Em 1926, já em Porto Alegre, casou-se, teve 3 filhos, trabalhou como arquiteto e dedicou-se, também, à vida acadêmica na UFRGS, como professor de Geometria Descritiva, Perspectiva e Sombras, a partir de 1938.

Homem culto, sempre pintou e desenhou por prazer, recusando a denominação de artista e esquivando-se de exposições – a exceção foi a exposição da série de aquarelas sobre o centenário da Revolução Farroupilha, em 1935 – obras mostradas em 1985 pelo Museu Universitário da UFRGS. Tanto que a primeira individual em galeria de arte foi realizada somente em 1977, pela extinta Oficina de Arte, embora sua obra tenha sido mostrada no ICBNA em 1955, na SEC em 1960, no Instituto dos Arquitetos em 1966, pelo Círculo Militar em 1972 e na Galeria de Arte do Clube do Comércio em 1981.

Mais dados de José Lutzenberger – aqui.
Parte do texto extraído do Catálogo da Exposição "José Lutzenberger
– O Universal no Particular", no Espaço Cultural BFB, 1990, Porto Alegre/RS


Obra da coleção Paisagens da Europa / I Guerra 1914


Descanso do soldado


Ponte e catedral
Obras da coleção 'Porto Alegre antiga'

Operários de calçamento


Conversa de lavadeiras

25.2.10

HIERONYMUS BOSCH




Bosch, como é conhecido, pertence ao período do Renascimento simplesmente porque nasceu e trabalhou nesse período, mas foi um pintor fora de seu tempo. Nasceu por volta de 1450 no sul da Holanda. 

Foi perseguido pela Inquisição sob acusação de pertencer a uma das seitas que na época, se dedicavam às ciências ocultas, reunindo conhecimentos sobre alquimia e sonhos. 

O certo é que em suas obras aparecem as influências do Apocalipse, em decorrência dos excessos cometidos pela humanidade, surgidos ao redor de 1500, séc. XVII. 

Serviu-se de todas as técnicas de cor, luz e sombra do Renascimento, mas sua temática foi baseada na mente e comportamentos humanos. Sua pintura mergulhou na alma humana. Esses temas só foram abordados por outros pintores muito mais tarde, no início do século XX. 

Bosch criou uma série de composições, fantásticas e diabólicas em que apresentou, um tom satírico e moralizante, os pecados e os medos de cunho religioso da época, do homem da idade média. 

Muitas de suas obras são meio-humanas, meio-animais, demônios mesclados com figuras humanas num ambiente imaginário. Suas figuras representam o mal, as tentações, obras alegóricas de textos bíblicos, a cobiça do ser humano e suas conseqüências. Seu Universo era habitado por monstros, mulheres deformadas, padres tarados, massas delirantes e descontentes. 

A exuberância fantasiosa de Bosch fez com que os surrealistas aclamassem Bosch como um dos precursores do surrealismo. Há quem diga que Bosch era louco, com imagens do inconsciente altamente demoníaca. Nada disso, foi um mestre das tintas que só pintou o inconsciente humano, tal qual ainda é. 

Muitas de suas obras foram destruídas e queimadas por motivos religiosos, porém cerca de 40 obras genuínas ainda sobrevivem, mas poucas datadas, e não há como estabelecer uma cronologia precisa. 

O Jardim das Delícias, obra em três painéis (tríptico), descreve a criação do mundo; as abas laterais representam o céu e o inferno, enquanto a central mostra homens e mulheres nus numa enorme luxúria, deleitando-se em prazeres eróticos.

Faleceu em sua cidade natal em 1516.




Juizo Final


Algumas obras:

- A Tentação de Santo Antão
- O Jardim das Delícias
- O Carro de Feno
- A Nave dos Loucos
- A Epifania
- O último Julgamento
- Mesa dos Pecados Capitais
- A Extração da Pedra da Loucura
- São Judas Batista no Deserto.
- A Crucificação
- Selos flamengos
e outros.




7.2.10

O PAI DO PINTOR SALVADOR DALI

óleo sobre tela


Dom Salvador Dali, advogado e tabelião de Figueras, era um homem de personalidade forte que influenciou profundamente o filho pintor, em particular por despertar no jovem Dali uma intensa e eterna reação contra tudo que ele defendia.
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A presença dominadora de Dom Salvador e o impotente ressentimento de Dali podem ser sentidos nesse e em outros estudos. Na infância, Dali se rebelava fazendo xixi na cama, tendo acessos de raiva e tirando más notas na escola. Mais tarde, deliberadamente, fracassou nos exames finais na escola de arte que frequentava deixando de receber as qualificações que lhe garantiriam um futuro ‘respeitável’. Depois de um total afastamento, entre 1929 e 1934, Dali e seu pai se reconciliaram, mas o relacionamento continuou difícil.


ESTA É A IRMÃ DE DALÍ
- Moça de pé na janela -

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A moça desta conhecida pintura é a irmã de Dali, Ana Maria, que posou para vários quadros no verão de 1925. Como em outras obras igualmente conhecidas, 'Moça sentada' e 'Mulher na janela em Figueras', ela aparece de costas, portanto não se vê rostos; uma excentricidade de Dalí, numa época em que foram dadas várias interpretações psicológicas. A anulação do elemento humano cria um efeito curiosamente em desacordo com o espírito de férias que a vista do rio, com sua luminosidade e clareza, sugere.

Ana Maria serviu de mãe para o irremediavelmente intratável e sexualmente tímido Dali, e foi na verdade o seu único modelo feminino até ele encontrar sua futura esposa Gala Eluard; Gala assumiu o papel de modelo exclusivo, conquistando a eterna inimizade de Ana Maria.

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fonte: vida e obra de Dalí / Nathaniel Harris

10.1.10

A ARTE DO MOSAICO

Batistério em Florença

- Tais Luso de Carvalho

Mosaico são pequenas peças multicolores – de mármore, terracota, cerâmica, pedras preciosas ou semipreciosas – justapostas de modo a formar um desenho, incrustadas numa base de cimento, argamassa ou material aderente. Depois a superfície é banhada com uma solução de cal, areia e óleo, que preenche os espaços vazios existentes entre as peças favorecendo a aderência. Entre essa, outras técnicas naturalmente surgiram.

A arte do mosaico teve início mais ou menos no ano 3000 AC. na antiga Mesopotâmia. Mas foi na era bizantina que o mosaico tornou-se rico, inovador e luminoso decorando as igrejas bizantinas.



Na Grécia foi encontrado um dos documentos mais antigos relativo à arte do mosaico (meados do século III a.C).

O ‘Estandarte de Ur’ (acima - 3500 a.C), é considerado pela maioria dos historiadores como o mosaico mais antigo. Foi encontrado na Suméria (antiga Mesopotâmia), atual Iraque. Um dos murais narra cenas de guerra; no outro, cenas domésticas.

No apogeu do Império Romano a arquitetura utilizou-se muito dos mosaicos como elemento decorativo, sobretudo nos pavimentos onde eram representadas composições ornamentais, cenas familiares, paisagens e alegorias.

As ruínas de Pompéia e de Roma ainda conservam muitos exemplos dessa arte. Embora conhecido desde a antiguidade, o Mosaico como expressão artística , está particularmente associado à cultura bizantina, que o disseminou. No início do século XIII era grande a influência da civilização bizantina no mundo. E, com a tomada de Constantinopla (1203) pelos cruzados, o mosaico espalhou-se mais, devido à fuga dos artistas para outros lugares.

Na Grécia três igrejas comprovam o esplendor desta arte: Hosios Lukas, Nea Moni e o Mosteiro de Dafne, na estrada de Atenas.

A igreja de São Marcos, em Veneza, também sofreu influência bizantina, assim como a igreja de Santa Sofia - em Kiev.

Essa arte era conhecida, também, na América pré-colombiana, principalmente pelos Maias e pelos Astecas. Os materiais mais usados eram o quartzo, a malachita, o jade e outros minerais, havendo preferência pela turquesa.

As incrustações eram feitas em madeira, ouro, cerâmica e couro, coladas em vegetais pegajosos (resina das plantas), como uma espécie de cimento.

Os mosaicistas sempre desconheceram a perspectiva – embora sem a rigidez dos egípcios, obedeceram a lei da frontalidade. As figuras eram vistas de frente e tinham simetria total. Os rostos apresentavam olhares fixos, acentuados por uma forte arcada de cílios, muito sombreados, que encaravam friamente o observados.

Nos séculos XIV e XV, devido ao alto custo e laboriosidade, o mosaico foi sendo substituído pelo afresco. Ressurgiu em Roma, na Renascença, na Basílica de São Pedro e de outros templos italianos, mas não mais com o caráter monumental do período bizantino.



Alexandre Magno montado no seu cavalo Bucéfalo na batalha de Isso, encontrado em Pompéia.


Mosaico bizantino



Mesquita de Damasco / Síria
Um belíssimo monumento incluindo as tesselas de ouro.


Esse grandioso mosaico do período bizantino médio está localizado na abside principal, acima do altar-mor da Basílica Ortodoxa de Monreale, na Sicília. Essa imagem dominante é do Cristo Pantocrator, o 'Rei de Todos', rico em significados. Um Cristo onipotente, que tudo rege.
1180-1190 / autor desconhecido


23.10.09

O ESPANHOL GOYA



O espanhol Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em Fuendetodos, no ano de 1746. Pintor e artista gráfico, é considerado por muitos como o artista europeu mais original de sua época. Porém só aos 30 anos começou a sobressair-se de outros artistas, seus contemporâneos.

Seus temas vão de cenas campestres a incidentes realistas da vida cotidiana, com um espírito alegre e romântico. Sua vida, no entanto, tomou um rumo dramático. O artista tinha profundo conhecimento das manifestações, emoções, idéias de justiça, assim como a crueldade e a injustiça. Suas obras falam de paixões e agressões desatinadas num mundo de extrema ironia.


Na obra ‘Os Fuzilamentos na Montanha do Príncipe Pio’ - 1814, seis anos após o episódio de 3 de maio de 1808, perguntaram a Goya, o porquê de uma obra de tamanha crueldade: ‘ para ter o gosto de dizer eternamente aos homens que não sejam bárbaros’. Juntamente com Guernica, de Picasso, essa tela ‘Dois de Maio de 1808’ ficoomo uma das maiores retratações de horror. Os conflitos com a guerra o atormentaram tanto que Goya chegou a ser considerado louco.

Nesse período a cor é aplicada de uma forma mais discreta, dando mais luminosidade ao personagem com os braços abertos. São retratadas, nessa obra, as expressões humanas, a impotência, o poder irracional, a barbárie, o desespero.


Deixou-nos, também, uma produção de temas religiosos no qual cooperou para seu prestígio. Eleito para a Academia de São Fernando (1780), veio a tornar-se diretor-assistente 5 anos mais tarde. Em 1789 foi nomeado pintor da corte do novo rei Carlos IV (1748-1819).

O mais importante para o desenvolvimento de seu trabalho se deu por uma doença misteriosa que o atingiu, deixando-o surdo. Mesmo assim, na sua convalescença, Goya pintou uma série de pequenos trabalhos ‘fantasias e invenção’, mostrando todo um sofrimento, dando início o seu interesse pelo mórbido, pelo bizarro e pelo ameaçador aparecendo na série de gravuras ‘Los Caprichos’ em 1799.


Entre 1793 e 1798 trabalhou em 82 pranchas em água-forte cujo senso de humor perde-se em pesadelo. Sofre a influência de Rembrandt, revelando costumes sociais e abusos por parte da Igreja. Em 1975 sucede Bayeu como diretor da Academia de São Francisco; em 1799 foi nomeado primeiro pintor da Corte, trabalhando em seu mais importante retrato de grupo, a família de Carlos IV, revelando toda a fraqueza da família Imperial, ainda que sem interesse de satirizá-la.

O par de obras Maja Vestida e Maja Nua, levaram Goya aos tribunais da Inquisição. Segundo algumas lendas as pinturas representam a duquesa de Alba, a viúva, cujo relacionamento com Goya causou escândalo em Madri.


Durante a ocupação francesa da Espanha (1808- 1814) sua atividade como pintor da Corte decresceu; ficou entre sua natureza liberal, dando boas-vindas ao novo regime e sua indignação como patriota pelo domínio estrangeiro do país. Após a restauração de Fernando VII ao trono (1814) Goya foi absolvido da acusação de ter ‘aceitado emprego do usurpador’. Pintou, então, as famosas cenas da sangrenta revolta dos cidadãos de Madri contra as forças ocupantes, ‘O Segundo de Maio’ e o ‘Terceiro de Maio’ – 1808.


Mais violentes são as 65 águas-fortes ‘Los Desastres de la Guerra’ – 1810/1814.
Após 1814 Goya passou a trabalhar para si e para os amigos. Em finais de 1819 veio a adoecer novamente pintando seu auto-retrato junto ao médico que o tratou.

A série de 14 ‘Pinturas Negras’, hoje no Prado, foram pintadas em preto, branco e marrom, mostram cenas de pesadelo, como ‘Saturno devorando um de seus filhos’.



Em 1824 Goya tem permissão para deixar o país devido a seus problemas de saúde e vai para Bordéus. Após 1826 renunciou ao cargo de pintor da Corte e passa a trabalhar com litogravura – na série Touros de Bordéus. Em seguida concluiu cerca de 500 obras a óleo, murais, 300 águas-fortes e várias centenas de desenhos.

Sua obra é universal na forma e no conteúdo. Desprezando os detalhes, sempre exaltou seu povo e teceu uma crítica implacável, na época não percebida, contra a nobreza global que governava a Europa. Faleceu em Bordéus em 1828.


26.9.09

ELIFAS ANDREATO / Designer gráfico

Elifas Andreato em seu atelier

Quando criei este blog, minha proposta foi de mostrar todos os tipos de arte; não mostrar apenas um segmento das artes plásticas, mas tudo que é considerado arte.


E hoje trago Elifas Andreato, considerado um expoente do designer brasileiro e requisitado há mais de 40 anos, quando começou como designer e ilustrador para vários artistas renomados da música popular brasileira, tais como: Pixinguinha, Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Vinícius de Morais, Zeca Pagodinho... Sempre produzindo uma arte reconhecida no país e no exterior pela sua alta qualidade.


O dom para desenho descobriu aos 14 anos, na Fiat Lux, em São Paulo. Foi lá que, com outros companheiros, aprendeu a ler. Nas charges que passou a fazer para o jornal dos operários da fábrica já se revelava um contestador.


Em seguida começou a retratar, em quadros, cenas de sua infância pobre. Descoberto pela crítica de arte Marli Medaglia, o ‘menino’ Elifas virou matéria de jornal e apareceu na televisão. Pelo cenário que fez para o cinqüentenário da fábrica que seria visitada pelos ingleses, Elifas ganhou dinheiro para estudar arte.


Em 1969 começou seu trabalho nas revistas Claudia, Quatro Rodas, Realidade e Veja, Revista Japonesa Latina e tantas outras, uma variedade de publicações tão diferentes entre si. Não era exatamente o que ele sonhava, mas quando se é pobre, segundo disse, não se tem escolha. Mas foi uma escola excepcional.


Em 1970 foi o responsável pelo projeto gráfico da coleção ‘História da Música Popular
Brasileira’, chamado por Victor Civita, da Editora Abril. Os LPs chamavam atenção pela sua capa e encartes arrojados. Conseguia retratar o espírito do artista, através de vários encontros que tinha com eles. Um bar e uma mesa de sinuca eram o suficiente para conhecer e tornar-se amigo dos artistas, e daí começar a ‘obra’. A coleção teve fascículos dedicados a Cartola, Nelson Cavaquinho, Lupicínio Rodrigues e Pixinguinha. Foi um dos trabalhos mais importantes de sua carreira.


Uma mera capa de disco transformava-se numa obra de arte quando assinada por Elifas. Entre o período de 1970 a 1984 suas capas de LPs e encartes atingiram por volta de 500 obras. Eram arrojadas e coloridas. Seus cartazes anunciando peças de teatro, shows e eventos são magníficos.


Elifas Andreato nasceu em Rolândia/Paraná em 1946. Foi militante político na época da ditadura militar. Oriundo de família pobre e alfabetizado só na adolescência, foi referência no meio intelectual e artístico do Brasil.


Sua luta, como pessoa, foi a favor da união e solidariedade do povo, contra um indivíduo induzido pelo sistema. Implementou em seu trabalho a idéia de construir, de fato, uma perspectiva nova para o país.


“Fiz do papel meu confidente. Nele, contei os dias e as noites do País. As vitórias e derrotas do povo, minha admiração pela infância. E é sempre bom lembrar: não há desgraça maior para uma nação do que matar os sonhos de suas crianças”.
Agora, insisto e persisto. Pois nunca mais terei 40 anos”.

cartaz Morte do Caxeiro / Arthur Miller


cartaz / Quem tem medo de Virginia Woolf




19.8.09

ESCOLA FRANCESA DE BARBIZON

As respingadeiras / Millet


A REVOLUÇÃO DA ESTÉTICA

Na segunda metade do século XIX, Paris assumiu a posição como centro dinâmico da arte moderna, situação que conservou até pouco depois da 2ª Guerra Mundial. Concentrados em alguns dos seus lugares mais típicos, como os bairros de Montmartre e de Montparnasse, artistas, pintores, escultores, gravuristas, escritores de todas as nacionalidades se reuniam para aspirar o clima criativo que emanava daquele excitante convívio.

Muitos resistiram prender-se à vida no ateliê, como também passaram a hostilizar o que era produzido pelas Academias de Belas Artes. Romperam com os ditames canônicos da arte, herdadas desde o tempo do Renascimento, impondo ao mundo ocidental a mais radical transformação estética que se conheceu.

Em 1824 o Salão de Paris exibiu uma exposição do pintor John Constable. Suas cenas rurais influenciaram alguns artistas jovens: tudo seria natural e também passaram a não pintar a natureza apenas como pano de fundo, servindo à cenas dramáticas ou mitológicas.

ESCOLA DE BARBIZON

Vários artistas, que integravam o realismo pictórico francês, começaram a se reunir no povoado de Barbizon e a seguir as idéias de Constable: eram Rosseau, Millet, Camille Carot, Daubigny, Narcisse, Virgilio Diaz, Troyon, Jules Dupré entre outros que, formando um grupo, reagiram ao formalismo romântico do Delacroix. Esse movimento deu-se entre 1830 a 1870, próximo ao povoado, no bosque de Fontainebleau.

O estilo continuava sendo o realismo, porém de entonação ligeiramente romântica, que se caracterizava por sua especialização quase que exclusiva em paisagens e o estudo direto do natural. Influenciou o resto da pintura francesa do século XIX, em especial o impressionismo.

Alguns desses pintores - como Milet - foram além da idéia original incluindo figuras em suas paisagens, como personagens da vida campestre e de seu trabalho. Para eles era mais importante o homem do que o cenário natural. Mas sem dramaticidade nem intenção de denúncia social. Tanto Millet como Russeau faleceram em Barbizon.

(fonte: historiador Voltaire Schilling, in A Revolução da Estética)

Catedral de Salisbury / John Constable

20.6.09

CÍCERO DIAS



- Tais Luso de Carvalho 

Cícero nasceu no Engenho Jundiá, em Pernambuco no ano de 1908. Sua pintura é sentida, e como se fossem as escalas da música nordestina; vibrante e popular, como era a princípio. Cícero dizia que lia poesias para pintar como se fosse um poeta, em ondas simbólicas, quase oníricas.
Saiu de Recife em 1920, rumo ao Rio de Janeiro, onde estudou na Academia de Belas Artes por uma curta temporada e, ainda no Rio fez sua primeira exposição individual.

Em 1928 fez sua primeira exposição no Brasil, num congresso psiquiátrico dentro de um hospício. E lá ouve o primeiro tumulto e revolta dos ‘conservadores’ contra a obra de Cícero.

Em 1929 voltou ao Recife onde apresentou sua obra e causou outro escândalo, como já havia acontecido no Rio de Janeiro. Era um artista de espírito inquieto, gostava de propostas inovadoras. Sua pintura não era aceita nos centros desenvolvidos, entrava em choque com o espírito acadêmico.

Em 1931, no Salão Revolucionário, organizado por Lúcio Costa, apresentou o painel ‘Eu vi o mundo, ele começa no Recife’ - painel de 13 metros de comprimento por 2 de altura - que causou um alvoroço a ponto de ser depredada.

Em 1937 foi morar em Paris e lá ficou por toda sua vida. Tornou-se amigo de Picasso, Bréton e Éluard e entrou em contato com o surrealismo.

Suas pinturas e desenhos são muito marcados pelas mulheres, que aparecem sempre como foco de desejo, frustração, conflito, humor, ironia. Vê-se, também, o menino criado no engenho, com banhos e brincadeiras. A presença da lavoura, do cangaço, das enchentes, escolas, professoras, colegas, casinhas e charretes também fazem parte do mundo pictórico do artista.

Segundo um crítico, suas imagens eram soltas e mal trabalhadas, beirando desenhos infantis. Muitos não entendiam o trabalho de Cícero, e violentas investidas contra suas obras aconteciam. Um ‘senhor’ que comprovadamente não gostou deles, tentou destruí-los com uma navalha.

Em 1940, na Segunda Guerra Mundial, tornou-se prisioneiro dos alemães, foi internado em Baden-Baden e, posteriormente, trocado por prisioneiros. Assim que conseguiu sua libertação, tratou de viajar para Portugal, onde ficou até o fim do conflito.

Em 1945, voltou à Paris onde trabalhou até o fim de seus dias. Aos poucos foi modificando sua maneira de pintar, apurando os traços, deixando o desenho infantil, buscando o aperfeiçoamento das cores, do traçado e deixando os temas regionais e a pintura popular dos anos 40. Sua característica forte, então, são os tons vibrantes.

Daí foi um salto para que seu trabalho ficasse conhecido, através de exposições, na Itália, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Bélgica e Brasil.

Primeira fase aparecem as Aquarelas/óleos – 1927/1937
Segunda fase: Figuração/Abstração (1938-1960)
Terceira fase: Mulher símbolo Constante (1961 – 2000)

Ilustrou, em 1933, Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre; em 1948, finalizou o mural do da Secretaria das Finanças do Estado de Pernambuco, considerado o primeiro trabalho abstrato do gênero na América Latina; em 1991 inaugurou o painel de 20 metros, na Estação Brigadeiro do Metrô, em São Paulo. Em 1997 mostrou, no Rio de Janeiro, através da Casa França-Brasil, uma retrospectiva de sua obra, um trabalho brilhante e emblemático. E, em 1998 recebeu do governo francês a Ordem Nacional do Mérito da França. Morreu no ano de 2003, em Paris, aos 95 anos.




14.6.09

MANTEGNA


O Cristo Morto
- tais luso de carvalho


Andrea Mantegna nasceu muito pobre, numa vila perto de Vicenza, Isola di Carturo, norte da Itália, no ano de 1431.
Aos 17 anos deu uma indicação madura de sua personalidade levando o padrasto aos tribunais forçando-lhe em reconhecer sua independência. Aprendeu a pintura com um artista medíocre, desvinculando-se pouco depois.
Seu estilo sofreu muito pouco no decorrer de mais de 50 anos de atividade artística.

Casou-se com a irmã do grande Giovanni Bellini, e teve, então, as portas abertas no mundo das artes e logo foi convidado a decorar as igrejas, uma delas, a Capela Ovetari, em Pádua, não restando quase nada devido à Segunda Guerra Mundial.

A renovação da arte na Itália setetrional, foi criada por Donatello, Lippi, Andréa Del Castagno e Alberti, mas foi com Mantegna ( Mântua) e Giovanni, Bellini (Veneza), que se solidificou.

Em 1460 foi nomeado pintor da corte do marquês Ludovico Gonzaga, em Mântua, e lá permaneceu o resto da vida. Mantegna retratou a família e a corte dos Gonzaga, representada em várias cenas palacianas, preenchendo as paredes com medalhões e bustos, salientando que a família reinante era digna do império romano. A característica mais notável dos ambientes, é a representação ilusionista, que parece ampliar o espaço. Essa pintura de Mantegna serviu de 'fundação' para muitas pinturas decorativas posteriores.

Cristo in Scurto foi pintado por volta de 1470, quando Mantegna estava envolvido com a perspectiva, mas manteve esta obra em seu atelier com a intenção de mantê-la destinada ao seu próprio sepulcro. Seu desenho se prendia à minúcias e notava-se grande sentimentalismo.

Sua maior característica era a clareza de concepção, cor, iluminação, formas e uma maestria pela perspectiva e pelo 'escorço' - desenho ou pintura que representa objeto de três dimensões em forma reduzida ou encurtada, segundo as regras da perspectiva. A perspectiva ilusionista converteu-se no protótipo do 'tromp l'oeil', usada mais tarde no barroco e no rococó.

Ao ser convidado pelo Papa Inocêncio VIII, para trabalhar em Roma, entra em crise ao perceber que a capital dos Cristãos havia se transformado num centro de luxúria e vulgaridade. Seus trabalhos contam episódios pagãos, deixando transparecer um suposto afastamento da fé que até então seguira.
Deixou uma obra com concepções requintadas e amadurecidas.

Faleceu em 1506.

Retábulo de São Zeno


Câmera degli Sposi / Palácio ducal - afresco

18.5.09

EDVARD MUNCH

 O Grito - 1893,  representa uma figura torturada pelo horror. 
É seguramente a mais conhecida e a mais expressiva.

Munch, pintor norueguês, um dos precursores do expressionismo, nasceu na cidade de Löyten, no ano de 1863. Pintor, água-fortista, litógrafo, xilógrafo foi um dos poucos pintores escandinavos a ter sucesso mundial.

Teve uma infância traumática – o pai era exageradamente devoto, beirando a demência, e a mãe e irmã mais velha morreram de tuberculose, quando ainda pequeno.

Deixava a perspectiva social (fase naturalista, década 1880), para mergulhar numa profunda reflexão sobre a condição e o destino humanos. O resultado foram obras de um expressionismo especial, marcado pela condição de um artista atônito, angustiado, participante do sofrimento e do aviltamento das pessoas.

'Já é tempo de pararmos de pintar cenas de interiores, com pessoas lendo ou mulheres fazendo meias. Devemos criar pessoas vivas que respiram, sentem, sofrem e amam'. Essas palavras expressas em um diário do pintor, dão a medida da forma com que Edvard Munch encarava sua obra. Procurou pintar a vida sem falsos pudores.

Munch aprofundou-se na sordidez, no mundo dos degenerados, dos loucos, da miséria; viveu uma época trágica. Assistiu à ascensão e as primeiras vitórias do nazismo e foi perseguido preso e espancado. Denunciou, em seus quadros, o totalitarismo e a guerra.  Apesar de não podermos classificar a pintura de Edvard Munch num único movimento, ele é geralmente considerado um pioneiro do Expressionismo.

Foi influenciado por Bosch, Bruegel, El Greco, Van Gogh e Goya, tornando-se o gigante desse movimento - Expressionismo - estilo que representa as sensações subjetivas d’alma, as expressões e não expressões, transmitidas à realidade.

Certos temas como a inveja, a doença, o despertar do desejo sexual aparecem em suas pinturas com uma intensidade, muitas vezes, próximas do delírio.

Na década de 1890 trabalhou na série 'Friso da Vida' – um poema de vida, amor e morte, sendo a mais famosa pintura dessa série 'O Grito'.

Sobre sua mais importante obra 'O Grito', diria que é um trabalho de profundo desespero existencial, uma das mais importantes obras do expressionismo.

Em 1892 expôs mais de 50 pinturas na Kunstlerverein – União dos Artistas de Berlim -, causando tanta comoção que a exposição teve de ser suspensa. O conjunto de obras retratava as manifestações da vida humana, com rostos lineares, desesperados. Viveu em Berlim de 1892 a 1908.

'A doença, a loucura e a morte foram os anjos negros que vigiaram sobre meu berço'. Escrevia enquanto suas pinturas mostravam a neurose que o atormentava.  Para ele, a pintura consistia num ato de libertação individual. 

'Eu não me desfaria da minha doença, pois há muita coisa em minha arte que devo a ela.' 

Porém logo em seguida dedicou-se à sua cura abandonando o imaginário familiar. A angústia de sua obra desapareceu dando lugar a uma pintura mais extrovertida, como paisagens, retratos, figuras de trabalhadores na neve. Em suma, uma pintura mais calma, de colorido mais leve e claro.

Suas exposições sempre foram tumultuadas. Assim mesmo influenciou toda uma época, inclusive os brasileiros Oswaldo Goeldi e Lazar Segal. Suas telas, além de trágicas e depressivas, são misteriosas, vê-se isso nas telas ‘Puberdade’ – a dúvida de uma adolescente; 'O Dia Seguinte', onde mostra uma prostituta esmagada pela sociedade vendendo seu corpo desengonçado, entre tantas outras.

Entre tantas telas de igual importância cito: A menina doente, Amor e dor, Cinzas, Entre o relógio e a cama, O tronco amarelo, Madonna, Ansiedade, Morte na enfermaria, Vermelho e branco, Auto-retrato com garrafa de Vinho...

Em 1916 passou a levar uma vida solitária, mas criando vários auto-retratos. Veio a falecer em sua propriedade de Sköyen / 1944, aos 81 anos. Legou todas as obras, que ainda possuía à cidade de Oslo, hoje no Museu Munch.

Destacou-se como um dos mais importantes artistas europeus, Munch só obteve reconhecimento ao fim de sua vida e depois de sua morte. O expressionismo moderno desenvolveu-se, como escola definida, a partir dele e de Van Gogh.

Em 1908 sofreu um colapso mental, ocasionado pelo álcool, pelo excesso de trabalho e por um frustrado caso amoroso com uma mulher casada. Foi internado numa clínica de Copenhague. Saiu meses depois e voltou para Noruega onde morou até falecer.

Como Leonardo da Vinci estudou a anatomia humana e dissecou cadáveres, Munch procurou dissecar as almas. Em 23 de Janeiro de 1944 morreu tranquilamente em Ekely. Deixou  sua propriedade à cidade de Oslo, a qual abriu o Munch-Museum em 1963 para celebrar o centenário de seu nascimento.



Separação / 1896


Ansiedade / 1894
'Na verdade, a minha arte é uma confissão feita da minha própria e livre vontade, uma tentativa de tornar clara a minha própria noção de Vida…no fundo é uma espécie de egoísmo, mas não desistirei de ter esperança de que, com a sua intervenção, eu possa ser capaz de ajudar os outros a atingir a sua própria clareza.'

Auto-retrato / 1895




6.5.09

MARÍLIA CHARTUNE

Colheita de Flores / Marília Chartune

Após conversar com Marília, resolvi apresentá-la aqui, juntamente com parte de seu currículo e algumas de suas obras para que os amigos do ‘Das Artes’ conheçam mais desta artista. Sua pintura é leve, delicada, alegre e de apurada técnica, retratando momentos da vida cotidiana.


Marília Chartune nasceu em Tocantins, Minas Gerais. De uma habilidade nata, com os lápis tintas e pincéis, aos 12 anos já recebia encomendas de retratos em grafite, copiando de fotos 3x4.


Cursou o primeiro ano de Engenharia Civil, mas como toda artista que se preze, desistiu para cursar pintura no Rio de Janeiro, participando, paralelamente, de mostras coletivas e oficinas de arte. Conviveu com muitos impressionistas, no Rio de Janeiro, que acrescentaram à Marília o gosto e a busca por um colorido luminoso e as sombras igualmente coloridas das paisagens cariocas.


Transferiu-se para o Rio de Janeiro onde estudou e se formou em Pintura e Restauração na Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ por cinco anos, e trabalhando, também, com Aquarela, Mosaico e Vitral na EBA. Participou de Cursos na UERJ sobre Educação Através da Arte com Décio Pignatari, Henfil, Ziraldo, Maurício de Souza e Fayga Ostrower, entre outros.


Participou em diversos Salões de Arte da Sociedade Brasileira de Belas Artes, ABD-ABI, Salões Nacionais, com premiações em todos, com Menções Honrosas, Medalhas de Bronze e Ouro no Salão Nacional. Participou, também, em duas Bienais Latino-Americanas em São Paulo com Prêmio Destaque de Seleção.


Em Copacabana, onde vivia, conseguiu produzir três mil quadros, entre eles as quinhentas aquarelas que foram distribuídas em um congresso da Revista Bolsa - da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.


Fez curso de extensão e especialização em História da Arte na Escola de Turismo de Baleares, Palma de Mallorca – Espanha, Processo Criativo com Charles Watson na UFSM.


Suas obras encontram-se em acervos oficiais e particulares em países como EUA, França, Japão, Canadá, Espanha, entre outros.


Mora há 21 na cidade de Santa Maria / RS , onde se casou e permanece até hoje produzindo obras de maior porte e orientando outros artistas em seu atelier. Marília participa intensamente da vida cultural de Santa Maria, sendo, também uma agente cultural em Associações e Conselhos de Cultura desde 1994. É Presidente da AAPSM em duas gestões passando a atuar em todas as diretorias desde 1992.

Cena de Bar

Vento Norte
Justiça
Mais obras da artista: aqui.

28.4.09

GIORGIO DE CHIRICO - Pintura Metafísica





   Giorgio De Chirico (1888 -1978). Nasceu em Vólos, Grécia e faleceu em Roma, Itália. Criador da pintura metafísica, estudou em Munique onde sofreu influência de Böcklin e Kliger. Esta pintura caracteriza-se por imagens misteriosas, ilógicas e sugestões de alucinações, conseguidas com efeitos de um uso típico da luz e da perspectiva. É a negação do real. As figuras são solitárias, misteriosas num ambiente sempre melancólico.
   A figura humana é meio homem, meio estátua. Colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas são obras que aparecem lá por 1909-1910, na Itália, criando inquietude e mostrando espaços vazios e sombras ilógicas.
     No ano de 1915, De Chirico foi convocado para as Forças Armadas e mandado à Ferrara, sofrendo um esgotamento nervoso. Em 1917 conheceu Carrá no hospital de campanha e fundaram, juntos, um movimento, o da pintura metafísica.
    Opondo-se a algumas tendências de vanguarda do século XX, De Chirico sofreu influência da arte do passado, principalmente o período do Renascimento Italiano. De Chirico passou sua juventude na Grécia e Itália. E, foi em Florença que foi influenciado pelas obras de Giotto (1267-1337) e pela pintura toscana clássica, criando perspectivas e arcos.
   O movimento não durou muito, embora De Chirico tenha sido aclamado como precursor pelos surrealistas. Não levou muito tempo para negar toda sua obra anterior e tomar posição contra a arte moderna.
    Na década de 20 pintou suas obras mais significativas, uma série de figuras de cavalos em praias irreais, porém tornou-se repetitivo e obcecado pelo refinamento da técnica.
    No Brasil, podemos notar influência De Chirico nas obras de Hugo Adami (1899-1999), Tarsila do Amaral (1886-1973), Di Cavalcanti (1897-1976), Candido Portinari (1903-1962) e Milton Dacosta (1915-1988). Ainda, na fase metafísica, Iberê Camargo (1914-1994), estuda com De Chirico.
    O quadro ‘O Enigma de um Dia’ – 1914 -, foi um referencial do surrealismo nos anos de 1924 a 1935. Este quadro esteve, durante esse período no apartamento de André Breton, o pai do movimento surrealista.


Hector and Andromache - 1917



Piazza d'Italia


Édipo e la Sfinge / 1968


Mais de Chirico, neste blog: aqui.






25.4.09

PINTANDO...

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