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9.12.24

ANTONIO DIAS - OBRA

 Os restos do herói, 1966 / Antônio Dias




 
                  - Tais Luso de Carvalho



           Antônio Dias nasceu em Campina Grande, Paraíba/Brasil - em 1944. É um dos criadores essenciais da arte brasileira. Ao longo de 40 anos de carreira, sua postura aberta para novas correntes, nacionais ou internacionais, contribuiu para  a construção de uma obra vasta e diversa. Em 1962, quando começou precocemente a produzir, Antônio já morava no Rio de Janeiro. Pinturas em relevo, pontuadas por signos da arte indígena, marcaram sua fase inicial. Depois sua aproximação com o construtivismo e a arte pop revelou-se em criações estruturadas como histórias em quadrinhos ou em jogos de cartas.  

No início de sua carreira Antônio tentou entrosar-se com a turma da Escola de Belas-Artes, onde a maior parte dos alunos admirava o expressionismo, até chegou a fazer desenhos figurativos, mas não conseguia ficar satisfeito. Procurou uma saída usando um emaranhado de linhas fortes que ocupava toda uma placa de madeira, algo como um núcleo com muitas ramificações.


Em sua juventude, ele e alguns amigos uniam-se em torno do idealismo de lutar por um país sem ditadores e por uma renovação de linguagem visual, que parecia menos interessada em estética e mais voltada para a incorporação de sistemas de comunicação de massa. O objetivo básico, conta Antônio, era, naquele momento nacional, ter voz e abrir  espaço em galerias, salões, museus, onde fosse possível. Tudo que conseguiram fazer, no sentido coletivo, foi através de muita discussão. Era uma frente de luta em diversos sentidos, mas cada um preservando suas diferenças.


Antes de sua partida para a Europa seu trabalho era frequentemente vinculado ao de Rubens Gerchman, Roberto Magalhães, Carlos Vergara e Pedro Escosteguy.


Aos 21 anos uma bolsa de estudos obtida como prêmio da Bienal de Paris permitiu-lhe viver na capital francesa. Sua propensão nômade reforçou-se na Itália para onde transferiu-se posteriormente. 


Experimentou uma diversidade de técnicas e suportes para sustentar uma obra muitas vezes impregnada por questões sociais, mas sempre livre de categorizações.
Atualmente reside e trabalha na Europa.

Em 1958, foi estudar no Rio de Janeiro onde recebeu orientação de Osvaldo Goeldi, ao frequentar o Atelier Livre de Gravura ( Escola Nacional de Belas Artes). Em 1962 realizou sua primeira exposição individual no Brasil, na Galeria Sobradinho, Rio de Janeiro.  Em 1965 na Galeria Florence Houston-Brown, Paris. Nesse mesmo ano participou da Bienal de Paris onde recebeu seu primeiro prêmio Internacional e uma bolsa do governo francês, passando a morar em Paris. A partir de então residiu em diversas cidades até fixar-se, em 1989, em Colônia, Alemanha.


Com notável currículo Antônio Dias foi o primeiro artista brasileiro a participar ativamente de amostras e eventos artísticos nas mais importantes instituições internacionais.

Sua obra dos primeiros anos apresentou forte questionamento político, social, censura, violência, sexualidade e morte. A partir de 1965 ao estreitar o contato com a produção Europeia, adotou progressivamente, postura conceitual e mais reflexiva, buscando uma economia de meios, discutindo o suporte, questionando os mecanismos internos e o circuito da arte.

Seu trabalho mostra algumas pitadas de ironia. Antônio anotava tudo em seus cadernos: sonhos pensamentos, citações, analogias, cópias de discursos sobre filologia, filosofia, diagramas, desenhos, qualquer coisa. Eram coisas organizadas com o espírito livre sobre a vida, o trabalho, o lugar do trabalho etc. As anotações, segundo Antônio, não tinham linearidade, mas eram fundamentais para a sua produção dos anos 60-70. 

(...) Para Antônio Dias, a arte é prática social, abrangendo sua produção e circulação como mercadoria, e a crítica social do processo de institucionalização, como na série 'The Illustration of Art' (1971-78). O inconformismo político encontra seu diagrama na reavaliação crítica do sentido da própria forma, portanto da linguagem enquanto campo social. São signos da resistência e de uma produção que recusa os parâmetros idealistas da mera 'arte engajada'. (Paulo Herkenhoff)





'Hoje, trabalho de vez em quando. Não me interessa o ato de pintar em si. Pintar me chateia. Só pinto por necessidade de dizer. Considero a pintura uma profissão. Mas se quiserem afirmar a pintura como um trabalho diário, então não sou profissional.'
fonte: Antônio Dias / palavra do artista - sec. cultura do Rio de Janeiro

O Sans Titre / 1964


Any where Is My Land, 1968

Morte imprevista / 1965

Asas do Povo / 1988

Fornalha / 2006

Campo e anima - 1989

Autonomias / 2000


Folhas te cobre e ouro sobre tela - 1988


Arte Pública/ 1967
Focalizando, em seus ateliês, os artistas plásticos Abrahan Palatnik, Antônio Dias, Carlos Vergara, Glauco Rodrigues, Helio Oiticica, Ligia Pape, Lygia Clark, Pedro Escosteguy, Rubens Gerchman, Tomoshige Kusuno, Wesley Duke Lee, e a 9ª Bienal de São Paulo.





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12.12.23

A MULHER ATRAVÉS DA PINTURA




     - Tais Luso de Carvalho


ATRAVÉS DOS TEMPOS...  

Há milhares de anos o homem faz arte olhando o mundo ao seu redor: paisagem, animais, outros homens. E tira para si algo que tenha significado ou possa transmitir uma ideia ou sentimento. Um livro de arte é como um livro do tempo, pois nos mostra o mundo, o homem através de muitos milheiros.

O homem das cavernas não pintava paisagens, e na arte egípcia e romana elas pouco apareciam. Só no renascimento as paisagens surgem na pintura. Temas e interesses, formas e conteúdos vão se modificando ao longo do tempo, assim como o próprio homem.

Em arte tudo é transformação, porém um tema, o único que sempre esteve presente, desde o período pré-histórico, é a mulher – presente e sempre passando por transformações.

Vênus de Willendorf - Escultura de pedra.

A primeira mulher foi esculpida por um caçador primitivo no período pré-histórico / paleolítico superior há 40.000 anos. Atualmente se encontra no Museu de História Natural de Viena. Tem 11 cm de altura e foi esculpida em calcário Oolítico. Foi encontrada em 1908 na Áustria.



Deusa das Serpentes / Creta 1800 a.C.

Com o passar dos séculos surge a mulher de vestido longo e seios à mostra, a figura esguia da Vênus pré-histórica – Deusa da Serpente. Como é uma deusa, embora tenha corpo humano, é distante e severa na postura e no olhar. Mede 29.5 cm de altura e encontra-se no Museu Arqueológico de Heraclião / Grécia.



Retrato da Esposa / 1350 a.C - Fig Egípcia

As figuras egípcias são de uma elegância aristocrática. Essa mulher é leve, magra e com roupa. O olho de frente e o rosto de perfil; o corpo de frente, as pernas e braços de lado. Durante séculos o Egito representou dessa maneira as figuras humanas por força de uma tradição ligada a valores religiosos. Durante muito tempo a arte do Egito foi esquecida da Europa. A partir do século XIX é que a arte dos egípcios foi descoberta, passou a inspirar os artistas e ser admirada.



Vênus de Milo / séc II a.C. - Grecia

A Grécia nos deixou um mundo povoado por mulheres ideais e homens perfeitos. Na exaltação de Afrodite, a Deusa do amor e da beleza, o artista buscou a harmonia formal: graça na postura, suavidade nos contornos, proporção nas formas: livre, solta e bela. Por isso encantou gerações de artistas, inspirando o Renascimento no século XV e o Neoclassicismo no século XIX.



Flagellato e la Baccanti / séc I - Roma

A pintura romana chegou até nós graças a um terrível acontecimento: as cidades de veraneio Pompéia e Herculano ficaram por muitos séculos soterradas sob as lavas de um vulcão. Só no século XVIII é que foram descobertas as ruínas das duas cidades que guardavam, pelas lavas ressecadas, grandes exemplos da pintura romana. A arte de Pompéia guardou um caráter misterioso e particular por estar ligada a uma série de ritual que só as mulheres tinham acesso. Através dessas obras encontradas é possível imaginar como seriam as pinturas gregas e dos povos sob sua influência que se perderam no tempo e não pudemos conhecer. Embora mais realista, suas figuras são mais pesadas, as mulheres mais volumosas e menos preocupadas com os deuses.



Imperatriz Teodora / séc. I – Bizâncio


Os deuses e nobres estão distantes dos homens comuns. A lição grega aprendida pelos romanos já não interessava mais. É outra gente, outra época em contato mais estreito com o oriente. As obras desse período são frias, distantes, sagradas. Brilha mais o ouro no mosaico que o olhar dos santos. No luxo das roupas, um símbolo do poder.



Período Românico – séc XII

São raras as figuras femininas no período românico. A própria vida da mulher na sociedade medieval é apagada e reclusa, pois valores da religião cristã impregnaram todos os aspectos da vida medieval. A igreja como representante de Deus na terra tinha poderes ilimitados e assim glorifica mais o Cristo do que a Virgem. A noção do mal e do bem orienta a arte e predomina a ideia de que a mulher representa o pecado. Invariavelmente numa manifestação românica, ela é santa ou pecadora e tem o corpo maltratado. Santa ou pecadora –, mas nunca uma simples mulher.




Virgem com o Menino e os anjos / séc XIV 
Período Gótico

Lentamente vão surgindo o sorriso e a 'mulher'. Aparece aqui nesse período a riqueza das roupas, a harmonia da postura, a graça e elegância dos contornos. Nesse período a imagem da Virgem é exaltada, reabilitando a mulher que não é mais pecado e pode ser bela.
Essa obra é do artista italiano Cimabue. (afresco da igreja S. Francisco de Assisi - 1280)



O Nascimento de Vênus / séc XV - Renascimento

Em imagens religiosas ou profanas a beleza da mulher é outra vez enaltecida. Os artistas retomam a lição dos gregos. Fatores de ordem econômica e social contribuíram para uma nova visão do mundo. Dominando o conhecimento científico o homem se coloca no centro do Universo. Desvinculando-se dos laços que a atavam à religião, a arte respira um ar de liberdade e a natureza passa a ser o foco das atenções. Procura-se a harmonia, a proporção das formas. A pintura consegue dar às figuras uma ilusão de vida, de volume. E as paisagens um sentido de profundidade, graças à perspectiva. E o artista modela os rostos e os corpos femininos, buscando outra vez uma beleza ideal, a perfeição absoluta. 



Escultura Africana  / séc XX 

Aqui, já são outras as proporções e significados. É visto na arte africana, que a obra tem de corpo magro e cabeça grande demais em relação aos padrões Ocidentais. Mas isso pouco importava diante da coerência e da força expressiva que impressionava na obra. Há muito tempo a arte africana era conhecida, embora desprezada pelos europeus. Apenas no início do séc. XX, artista como Picasso buscou inspiração na África, reabilitando essa arte.




Barroco – O rapto das filhas de Leucipo 
séc. XVII - Rubens

Aqui as mulheres são loiras, gordas e sensuais, aparecendo entre espirais e arabescos. Pintura explosiva, sensual que fala ao sentido com suas figuras tão distantes das imagens sagradas de Bizâncio. E das formas do Românico. Os nus de Rubens são exuberantes.



Condessa de Howe / Gainsborough - séc XVIII

Aqui nas obras de Gainsborough, as mulheres são de uma síntese inglesa de elegância, requinte e boas maneiras. As figuras se mostram sóbrias, calmas e recatadas. Até na cor há sutileza com tonalidades de outono. O artista criou uma delicada harmonia. Nada é exaltação. Se existe alguma é no capricho das rendas. Uma graça discreta.



Mulher puxando as meias / Toulouse Lautrec – 1894

Lautrec cria uma mulher mais humana do que bela; não é mais cantada a beleza da modelo. Está muito distante dos nus de Ingrés ou da exaltação renascentista. A mulher também não é mais um símbolo religioso. Agora é focalizada sua intimidade. Um desenho forte, marcante e ágil, por vezes até caricatural, define a figura. A cor e o modelo tem menos importância. A mulher pode ser fria e triste, mas sempre vista naquilo que tem de mais humano e sofrido.



Mulher ao espelho / Picasso – 1932

Para Picasso a mulher importa pouco, a realidade também. Ambas são pretexto para uma fantasia de formas e cores. Olhando-se essa obra se procurarmos simplesmente pela mulher, não teremos resposta. Mas se procurarmos a pintura, encontraremos a riqueza das formas, a força das cores, a emoção oferecida por um desenho fluído que descreve mil espirais. É também a mulher, mas pretexto para uma festa colorida de Picasso.



Marilyn / Pop-art – Andy Warhol

Com várias nuances de cor, Marilyn virou coqueluche. A pop art começou com a apropriação de objetos que, para surtir efeito precisava multiplicar-se, nos mesmos moldes da publicidade, da imprensa e da indústria das celebridades. Este era um dos segredos. Ainda mulher, mas esquematizada, transformada em símbolo gráfico. A cultura das massas, contemporânea, a partir de 1950. Embora simplificada para facilitar a repetição e a reprodução em larga escala, essa mulher ainda é capaz de transmitir sentimentos e ideias. O que de fato muda no passo rápido da evolução e do progresso é a maneira de representá-la com as mãos da arte, universal e terna e com os olhos de cada época.



A obra depois de criada se liberta do seu autor, do lugar onde surgiu, e passa a viver autônoma no mundo da arte.







24.9.20

BEATRIZ MILHAZES E SUA OBRA CONTEMPORÂNEA

Sinfonia Nordestina - 2008


       - Tais Luso de Carvalho


Beatriz Milhazes, nasceu no Rio de Janeiro em 1960. É pintora, gravadora e ilustradora e professora. Iniciou-se em artes plásticas em 1980, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), fundada por Rubens Gerchman, em 1975. A Escola é referência nacional no ensino das artes, localizada em um parque nacional de mata Atlântica, numa casa de estilo eclético construída em 1920. Este espaço pertence à Secretaria de Estado de Cultura.
No período de 1984, no Parque Lage, aos 24 anos, participou do movimento Como vai você, Geração 80? - onde mais de 100 artistas questionaram a ditadura militar, e como um desabafo expressaram-se de diversas maneiras. Lá, Beatriz lecionou após ser aluna.
A cor tornou-se um elemento da maior importância na obra de Beatriz Milhazes, acompanhada de círculos – onde é a ideia central de suas obras, por onde tudo começa, interagindo com geométricos, quadrados, flores, arabescos e listras, onde a composição torna-se alegre e bela.
Vê-se em suas obras um comprometimento com a arte popular brasileira, a arte aplicada; também com o construtivismo, um movimento do início do séc. XX que baseava-se na ideia de que a arte deveria ser construída com elementos geométricos e materiais modernos, em vez de imitações.
Suas obras se impõem em qualquer ambiente, por serem muito coloridas, muitos cortes, muitos preenchimentos, muitos acontecimentos que ocorrem na trajetória de seu trabalho. É uma mistura de fauna e flora, de carnaval, de modernismo, de ornamentos, de arquitetura barroca a objetos de art-déco, lembrando intensamente os trópicos. Tudo se encontra alegremente misturados em suas colagens e conta, a artista, que sua inspiração veio muito de Mondrian, Matisse, Tarsila do Amaral e Burle Marx.
Num trabalho minucioso, Beatriz Milhazes trabalha no máximo dez obras por ano, onde a lista de espera por suas obras é grande.
Ao longo dos anos participou de Bienais em São Paulo e Veneza. Seu currículo apresenta obras nos acervos dos museus Moma, Guggrnheim e Metropolitan em Nova York; também na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) e na Fondation Cartier (Paris), Century Museum of Contemporary Art (Kanazawa, Japão), além de dezenas de coletivas desde 1983 nos Estados Unidos e em diversos países da América do Sul e Europa, como tantas outras exposições individuais em vários países.
Sua obra O Mágico, pintada em 2001, foi vendida em um leilão da Sotheby’s, em Nova York (2009), por cerca de R$ 1,6 milhão; sua tela O Moderno foi comprada em Londres por R$ 1,8 milhão pela Phillips de Pury & Company. E, em 2012, a obra Meu Limão foi vendida por 2 milhões de dólares na Galeria Sotheby's.


- clique nas fotos para aumentar -
Meu Limão
Serpentina - 2003
Surface and Surface
O Mágico
Painéis no metrô de Londres - 2005
Janelas da Pinacoteca São Paulo  2008 - obra de Beatriz Milhazes
Escola Parque Lage - Rio de Janeiro

Veja mais obras no vídeo  e a Exposição em Fortaleza até 24 de Maio de 2015



21.5.19

MICHELANGELO MERESI DA CARAVAGGIO


A cabeça de  Medusa / 1597  (Galeria Uffizi  - Florença)



    - por Tais Luso 

Michelangelo Merisi da Caravaggio nasceu em 1571, Caravaggio, Itália. Não era propriamente genial como pessoa; era um jovem de temperamento violento, arruaceiro, mente instável, de muitas bebedeiras, dívidas, amigos duvidosos, várias prisões, uma acusação de assassinato no jogo da péla. Era um frequentador do submundo.

Caravaggio foi o mais original e influente pintor italiano do século XVII. Recrutava seus modelos nas ruas e os pintava à noite, entre luzes e sombras. Eram telas com fortes contrastes, jovens com caras viciadas, bêbados, gente de toda a espécie se entrelaçando em suas telas.

Caravaggio era filho de um arquiteto, que morreu ainda quando o pintor era criança. Sua mãe morreu quando ele era ainda jovem. No início de sua carreira, ao viajar para Roma, Veneza, Roma, Cremona e Milão Caravaggio já era um órfão individado.

Seus primeiros trabalhos foram marcados por retratos inigmáticos. Seu autoretrato como Baco (1593/1594), também exibe um extraordinário talento para natureza morta.


Ressurreição de Lázaro (restaurada)

Pequeno Baco doente

Com muitos trabalhos em Roma, Caravaggio levou para as telas a vulgaridade humana, exibida nas suas figuras de vestes surradas e sujas e nos seus rostos maltratados.

Em seu quadro, A Morte da Virgem Maria pintou imagens sem gloria e sem o esperado explendor causando enorme desconforto e rejeição da igreja. Seria uma encomenda destinada a Igreja de Santa Maria de La Scalla. Cogitou-se que a modelo requisitada para a obra teria sido uma cortesã de vestido vermelho e que, pelo seu ventre inchado, já estaria morta.

Durante muito tempo foi considerado indigno para participar de exposições, igrejas e salões da nobreza. Era chamado pelos seus contemporâneos de anticristo da pintura, de artista pé sujo. Requisitava as prostitutas e mendigos para seus modelos de santos; os apóstolos em trajes velhos e sujos, ou ainda representar os momentos da história cristã como fato simples do cotidiano foram alguns dos pecados de Caravaggio. Assim mesmo sua obra foi tocada pela anormalidade do gênio, criativa e desesperada.

Caravaggio ainda trabalhou nas obras  O Sepultamento, A Virgem de Loreto, A Virgem dos Palafreneiros e A Morte da Virgem. As duas últimas recusadas, por incorreção teológica.

Ao romper com as representações sacras, deixa o caráter celestial, de personagens sagrados e volta a retratar o cotidiano mundano, com fundos escuros, valendo-se de sua técnica claro-escuro na qual foi mestre.

Duas fases se distinguem em sua carreira: um primeiro período experimental  1592 / 1599 e um período de maturidade (1599 / 1606). Suas primeiras obras foram pequenas figurações de temas não dramáticos, como naturezas-mortas, figuras de meio corpo como O rapaz com uma cesta de frutas, Florença, O jovem Baco. Mais tarde suas figuras tornaram-se mais articuladas, com cores mais ricas, com sombras acentuadas, como na Ceia de Emaús.

O segundo período, o da maturidade, Caravaggio iniciou com uma encomenda para a Capela de Contarelli. Na obra São Mateus e o Anjo, desenvolveu  uma ação dramática, com maestria no uso das tintas que com muito esforço foram conseguidas - vista num estudo através de raios-X. Porém, foi rejeitada por ser considerada indecorosa, mas comprada mais tarde pelo Marquês Vincenzo Giustiniani, um dos mais importantes mecenas de Roma, que também pagou pelo retábulo substituto.

No período em que fugiu de Roma - em 1606 -, passando os 4 últimos anos de sua vida perambulando de Nápoles para Malta e Sicília, continuou a pintar obras religiosas, mas com um novo estilo, buscando apenas o essencial: poucas cores, tinta aplicada em finas camadas e o drama das obras anteriores, substituídas por um silêncio contemplativo.

Sua atividade não foi longa, mas foi intensa. Caravaggio apareceu numa época em que o realismo não estava tão em moda, em que as figuras eram retratadas de acordo com as convenções e os costumes, mais romantismo e graciosidade do que as exigências da verdade, fazendo com que o belo perdesse seu valor.

O interesse por Caravaggio declinou no séc XVIII, mas voltou à baila na metade do séc XIX onde todos viam em sua pintura uma rejeição à beleza e a busca pelo horror, à feiura e ao pecado.

Teve uma morte prematura aos 39 anos e morreu tão miseravelmente quanto viveu, colocado numa cama, sem ajuda , sem amigos. Morreu de malária, em 1610, em Porto Ercóle, Itália.


CARAVAGGISTI

Era a denominação dada a pintores do início do séc XVII que imitaram o estilo de Caravaggio. O uso do claro e escuro para conseguirem mais dramaticidade e realismo. Estes exerceram muita influência em Roma no princípio do séc XVII. O Caravaggisti foi um fenômeno de grande importância, o mundo talvez não tivesse um Rembrandt, um Delacroix, um Manet, Rubens ou Velazquez se não fosse a influência de Caravaggio.

OBRAS PRIMAS:

Baco / Jovem com um Cesto de Frutas / Menino mordido por um Lagarto / Repouso na fuga para o Egito / A cabeça da Medusa / A Morte da Virgem / A Ceia de Emaús / O martírio de São Mateus / O Sepultamento / A Decapitação de São João Batista / A Ressurreição de Lázaro.

Ceia em Emaús        - clique foto -
Cesta de Frutas

Crucificação de São Pedro
O enterro de Cristo
A morte da Virgem
Baco / 1593 - 94
Os trapaceiros / 1594

São Francisco
Fontes:
Grandes Artistas - ed. Sextante
D.Oxford de Arte
501 Grandes Artistas 


10.11.15

ANTÔNIO HENRIQUE AMARAL




 - Tais Luso de Carvalho

 Antônio Henrique Amaral nasceu em São Paulo no ano de 1935. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Iniciou sua formação artística em 1952, na Escola do Museu de Arte de São Paulo, MASP, com Roberto Sambonet. Também estudou gravura com Lívio Abramo no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM/SP, em 1956.

 Pinto o meu hoje, uma coisa que está constantemente fugindo. Se eu fixar alguma coisa importante, minha pintura será importante; senão, azar meu, azar de minha vida. Não situo minha pintura em nenhuma vanguarda ou retaguarda, mas em minha época, em meu lugar, aqui.

Assim se expressou Henrique Amaral, depois de uma exposição em São Paulo em 1967, que reunira obras de um figurativismo estilizado, fantástico. Eram telas que apresentavam uma imagem subjetiva e racionalizada da realidade, marcando uma fase bem definida de sua pintura.

Realizando quase que exclusivamente 'gravuras', o artista fez sua primeira exposição individual em 1958, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. No mesmo ano viajou para a Argentina e Chile, expondo no Instituto de Arte Moderna de Santiago. Logo em seguida partiu para os Estados Unidos onde conseguiu uma Bolsa de Estudos na Tungram Merril Foundation, onde se especializa em gravura com MunaKata, no Pratt Institute de Nova York.

Exposições nacionais e internacionais se sucederam incluído a participação nas V, VI, VII e IX bienais da Bahia, conquistando muitos prêmios, admiração e prestígio.

Foi após o golpe militar de 1964, que sua obra transformou-se numa temática social e agressiva. Em 1967 lança seu livro O Meu e o Seu, na Galeria Mirante, com apresentação e texto de Ferreira Gullar e capa de Rubens Martins. Nesse ponto inicia seu trabalho em pintura.

Porém, em setembro de 1969, na Galeria do Copacabana Palace do Rio, um único tema apoderou-se de seus quadros: as conhecidas Bananas! Bananas isoladas, em cachos, maduras, verdes e apodrecidas, enfim, tudo funcionou como metáfora durante o golpe militar. Deu seu recado como sabia, através da sátira.

Em 1975 retorna ao Brasil após algumas exposições nos Estados Unidos e em outros países e revigora sua pintura partindo para o abstrato, com influências surrealistas e inspirado em artistas como Roberto Matta e Joan Miró.

Em 24 de abril de 2015 Henrique Amaral morre aos 80 anos, em São Paulo, de câncer de pulmão.





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 Vídeo com o artista - vários de seus períodos. TV Cultura 29/4/2015

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Documentários TV Cultura.
Pintura do Brasil - Abril Cultural