- Tais Luso de Carvalho
Vincent van Gogh nasceu em
1853, em Groot-Zundert, no norte da Holanda, o primeiro dos seis
filhos de um pastor reformista. Foi um pintor individualista e um
verdadeiro autodidata, e como tal, um dos mais importantes
precursores da pintura moderna.
Sentindo a miséria urbana,
Vicent foi despertado pelo fervor religioso e o desejo de servir aos
seus semelhantes. Preparou-se para o mesmo ofício do pai, começando
como pastor adjunto, iniciando seus estudos de Teologia em Amesterdã,
mas interrompendo pouco tempo depois, pois tinha dificuldades de
estudar e medo de fracassar, tendo sido reprovado, também, na Escola
Evangélica de Bruxelas.
No final de 1878, obteve
autorização para trabalhar por sua conta como missionário
voluntário na região mineira de Borinage, na Bélgica. Apesar do
seu grande fervor religioso e social, não foi bem-sucedido nesse
contato com os mineiros. Seu zelo excessivo causou desconfianças
entre os mineiros e indisposição no consistório, que o acusou de
interpretar a doutrina cristã de modo demasiadamente literal.
Destituído em julho de
1879, passou um período de vagabundagem pelas estradas de Borinage.
Sem fé e na miséria passou a acreditar numa nova missão: ao de
trazer consolo ao homem pela arte. E foi nessa altura que Vincent Van
Gogh começou a desenhar, para superar as angústias que sentia.
Absorveu o Impressionismo,
tornando-se um importante precursor do Expressionismo. A sua obra
vigorosa, a sua vida infeliz, marcada por repetidos fracassos, por
uma grande dúvida interior e uma incrível força criadora, quase
obsessiva, chamou a atenção das gerações vindouras.
Seu primeiro desenho seguiu
o modelo de Jean-François Millet, pelo qual sentia uma grande
admiração. Depois partiu para aquarelas próprias em que retratava
a vida miserável dos mineiros. Em 1880 inscreveu-se na Academia de
Arte de Bruxelas, porém permaneceu um autodidata, copiando uma série
de pinturas sócio- românticas. No ano seguinte voltou por algum
tempo à casa dos pais, porém teve um amor infeliz por uma prima
viúva, o qual rompeu com a família.
Foi no final de 1881 que
Vincent entrou como aprendiz no atelier de seu primo, o pintor Anton
Mauve, e esse o aconselhou a pintar com tintas a óleo.
Influenciado pelos romances
de crítica social de Flaubert e Zola, Van Gogh decidiu ser pintor
dos humildes, em especial da vida dos camponeses. Permaneceu na
província por curto tempo devido à solidão que sentia, e regressou
novamente à casa dos pais, em Nuenen, em finais de 1883, ficando por
dois anos.
Em 1885, depois de numerosos
estudos, nasceu o quadro Os Comedores de Batatas. O
relacionamento intrínseco
das cinco personagens, sentadas à mesa, é conseguido com a pobre
refeição de
batatas que partilham, e com a luz escassa da lâmpada de petróleo
que ilumina. O quadro exprime
um forte componente social e tomado
de resignação. As figuras
parecem abatidas, os rostos magros
e mãos ossudas.
Nesse
período, a
pintura de Van Gogh é
sombria e
pesada,
por isso foram designadas
de Realismo atormentado e sombrio.
Em
1886, seu irmão Theo dirigia
uma galeria de arte em Paris. Van
Gogh entrou em contato com o grupo de impressionistas e
entusiasmou-se com as cores, a
luminosidade do sol, adotando uma palheta cada vez mais
clara, aprendendo a usar cores mais puras e contrastes mais intensos.
Nessa época pintou 23 auto-retratos.
Cansado
da vida social, Van Gogh foi instalar-se em Arles – pequena cidade
no sul da França, no ano de 1888. Foi viver na Casa
Amarela, e entusiasmou-se
com a ideia
de fundar uma cooperativa de artistas em Arles e, no fim daquele ano
associou-se a Gauguin, o único que se juntou a ele.
No
entanto, dois meses de trabalho foram suficientes para que as
relações se deteriorassem: as ideias opunham-se, os temperamentos
incompatibilizavam-se e
terminou com uma grande discussão. Com os nervos à flor da pele,
Van Gogh cortou a orelha esquerda,
episódio conhecido e retratado. Porém, depressivo, o artista não
deixou de criar grandes obras o qual retratou famosos quadros como os
Girassóis, árvores, pontes, as casas e seus interiores.
Tornou-se
obcecado pelo valor simbólico e expressivo das cores, passou a
empregá-las com esse propósito, não mais para a reprodução das
aparências visuais como faziam os impressionistas.
“Em
vez de tentar reproduzir exatamente o que tenho à frente de meus
olhos, uso a cor de modo mais arbitrário, a fim de expressar-me com
mais vigor”.
Em
Maio de 1889, Van Gogh foi para um hospital psiquiátrico de
Saint-Remy, perto de Arles, onde após uns dias de sossego, voltou a
pintar nesse lugar, onde lhe deram uma espécie de atelier. As
alucinações, os pesadelos e sua grande preocupação com a morte
caracterizaram sua estadia em tal Clínica. Porém, mesmo com essas
alternâncias, a continuidade de seu trabalho se fazia presente.
A
angústia e depressão em que vivia o levaram ao suicídio em 29 de
julho de 1890. Esquecido, sem jamais ter alcançado o sucesso, morreu
ao lado de seu irmão Theo. Seu
caixão foi coberto por girassóis – a
flor
que mais amava. Ao
lado do caixão, seus pincéis e seu cavalete.
De
1872 a 1890, Vincent e Theo trocaram extensa correspondência, hoje
reunida em livro. Talvez seja o documento mais importante sobre a
trajetória artística de Van Gogh, que narra desde as angústias
pessoais e dúvidas sobre o ofício e questões de técnica de
pintura. À medida em que ele adoece, as menções à saúde e à
fragilidade da vida aparecem com maior frequência. Nas cartas a
Theo, Vincent também se mostra extremamente religioso, apegado a
valores de transcendência espiritual que acaba traduzindo em seus
quadros. Ele parecia estar ciente de que vivia um grande momento da
arte e afirmava sua condição de gênio incompreendido.
“Pense
no tempo em que vivemos como uma grande renascença da arte, com
novos pintores solitários, pobres, tratados como loucos” –
observou em julho de 1888.
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