21.9.24

PEDRO ESCOSTEGUY / Obra de Vanguarda

Perigo Radioativo / P. Escosteguy


Pedro Geraldo Escosteguy nasceu em Santana do Livramento – RS/Brasil, no ano de 1916. Em 1938, já morando em Porto Alegre, concluiu o curso da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul.

Especializou-se em Gastroenterologia, inovou técnicas cirúrgicas, implantou e desenvolveu serviços sociais, publicou vários livros científicos e lecionou em cursos de aperfeiçoamento. Exerceu a profissão de médico por 42 anos, e sempre voltado para as questões sociais e políticas.

Paralelamente iniciou-se na poesia, migrou para o conto, ingressou nas artes plásticas. Criou uma obra própria de cunho vanguardista, veiculando através das palavras, pensamentos e imagens uma interação entre a sensibilidade e a necessidade de um posicionamento crítico.

O modernismo conscientizou e procurou trabalhar a tensão entre a produção de arte no Brasil e a sua ligação com a produção européia. Mas não era suficiente uma arte que fosse só brasileira e moderna; ela deveria ser também social, vinculada aos problemas do povo e destinada a ele.

Então surgiu um grupo de intelectuais e artistas que planejavam criar uma arte brasileira, atingindo os elementos pictóricos capazes de elaborar imagens cujo ineditismo fosse resultado da sua identidade com a cultura nacional.

É importante lembrar que por ocasião da mudança de Escosteguy para o Rio de Janeiro, e do relacionamento pessoal com Antônio Dias - seu genro na época -, Escosteguy estreitou sua convivência com Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Roberto Magalhães, Antônio Maia, Ruben Gerchman, Ângelo de Aquino e Lígia Clark, com quem se encontrava em salões, eventos, mostras e bienais, possibilitando importantes correntes e reflexões conjuntas ao discutir as correntes da arte contemporânea do pós-guerra.

Pedro Escosteguy trouxe uma valiosa contribuição teórica e prática para o desenvolvimento da vanguarda carioca que se articulou a partir de ‘Opinião 65’. Forneceu o apoio teórico e intelectual ao quarteto neo-realista: Antônio Dias, Ruben Gerchman, Carlos Vergara e Roberto Magalhães.

Pedro Escosteguy iniciou, pois, como neo-realista e concretista, um processo vanguardista que finalizou na Nova Objetividade Brasileira, participando dos significativos movimentos de vanguarda de sua época.

Sua obra denunciava o temor que rondava a geração pós-bomba atômica, com seus valores em decomposição diante da própria existência Sua preocupação era em ‘dizer’, por isso procurou caminhos mais sólidos, não se preocupando com a estética, puramente.

Encontrou, através de sua obra e de sua poética vanguardista, um espaço para opinar sobre a arte e a política, assumindo uma semântica social voltada para a natureza urbana imediata, contra o regime militar e ditatorial, através da palavra ou da frase, em busca de associações rápidas por parte do espectador.

O artista procurou técnicas e efeitos, utilizou os mais diversos materiais disponíveis em seu tempo, com o intuito de causar sensações no espectador não apenas através da visão como também do tato. Empregou o acrílico, a madeira, as resinas, fibras, tecidos, tinta acrílica, colas. Cria obras com profundidade e relevo.

Escosteguy conseguiu passar sua inquietação e marcou seu lugar como um dos principais artistas da vanguarda brasileira. Seu amor à arte, suas convicções, sua generosidade para com os seus semelhantes e sua personalidade cativante e forte não passaram despercebidos àqueles que tiveram o privilégio de compartilhar de seus ensinamentos e de sua vida. E eu tive, pelos laços de parentesco que nos unia.


Foi casado com Marília Tavares Utinguassú e tiveram duas filhas, Norma e Solange.

Até seu falecimento, no ano de 1989 - já de volta à Porto Alegre -, foi um criador compulsivo, na poesia e nas artes plásticas.


Mais sobre Pedro Escosteguy, ver nesse espaço aqui.


'Minhas construções de madeira se assentam numa semântica social onde revelo a perplexidade geral ante a corrida belicista. 
Em sua execução, mobilizo uma semântica acessível aos meus próprios conhecimentos e possibilidades, auxiliada com o uso da palavra ou da frase, em busca de associações rápidas.' 


Jogo (Roleta) 
XIII Salão de Arte Moderna, Rio de Janeiro - 1964



   Corpo Estranho 1965 / VII Bienal São Paulo

Neo-realismo carioca 

Cartaz / XVI S. Nacional Arte Moderna RJ - 1967


Psicodrama / 1965 - VII Bienal de São Paulo



Seven Days Milan / 1970


Estória / O fim da Idade do Chumbo - Museu Arte Moderna RJ 1965




 Fontes:
 
Escosteguy, Pedro Geraldo: poéticas visuais / Pedro Geraldo Escosteguy 
- Porto Alegre:

Ed. por Suzana Gastal, Ana Maria Albani de Carvalho e 
Soraya P. Rossi Bragança, 2003





28.8.24

CÂNDIDO PORTINARI: DIAS DE TRISTEZA...




         - Taís Luso de Carvalho

Os últimos anos de Portinari foram tristes: os críticos o atacavam e os artistas novos, para os quais ele abrira o caminho, julgavam-no superado. Sofria com as críticas, porém continuava a pintar no seu estilo, não poderia se transformar num pintor abstrato, contrariar sua natureza. Dizia ele que  o valor da pintura não estava em pertencer esta ou aquela corrente, que os ignorantes confundiam arte com futebol.

Em sua tristeza, Portinari escrevia poemas: pintava de dia e escrevia de noite. Gostava de pintar e dizia que não pretendia descobrir a pólvora, que nenhuma posição o preocupava, gastava seu tempo procurando cores que se ajustassem e com isso não sobrava tempo para outras divagações.

Em 1960 nasceu sua netinha Denise - filha de João Cândido -, o que veio a diminuir muito de sua tristeza e solidão. Porém, ainda passava muitas horas de seus dias fitando o mar, sozinho, pensando em seus poemas, pensando na morte... 'Como é difícil morrer...'

No ano de 1961 viajou pela última vez à Europa, e quando voltou ao Brasil perdera a vontade de viver. Em 1962, intoxicado pela segunda vez pelo chumbo das tintas que já o atacara em 1952, não se recuperou. Faleceu às 11:40 da noite em companhia de sua mulher Maria (retrato), suas irmãs e seu médico. Seu corpo foi para o Ministério da Educação, para o edifício ao qual ele dera seu talento e esforço, o lugar onde começara sua glória. Dali saiu em carro de Bombeiro para o cemitério. Lá, foram tocados a Marcha Fúnebre e o Hino Nacional o qual milhares de pessoas ouviram sobre forte emoção.

'O homem mais triste do mundo é aquele que não tem nenhuma reserva de poesia. É o homem que cresceu demais. A criança tem as reações do poeta; quando cresce, ou a poesia se concretiza e nasce um artista, ou fica latente. O artista é o homem que nunca deixou de ser infantil.'

‘Todo artista que medite sobre os acontecimentos que perturbam o mundo chegará à conclusão de que fazendo um quadro mais 'legível’ sua arte, ao invés de perder, ganhará. E ganhará muito, porque receberá o estímulo do povo’. (1947 em Buenos Aires)





Enterro na rede 1944



Mais de Cândido Portinari:  aqui, neste blog.




- fonte: a vida dos grandes brasileiros

12.8.24

BARROCO NO BRASIL / ALEIJADINHO

Igreja de S.Francisco da Penitência / Rio de Janeiro 



 -Tais Luso de Carvalho

O Barroco foi introduzido no Brasil no início do século XVII pelos jesuítas, que trouxeram o novo estilo como instrumento de doutrinação cristã. Nas artes plásticas seus maiores expoentes foram Aleijadinho - na escultura  e Mestre Ataíde - na pintura onde suas obras, consideradas as mais belas do país despontaram com maior encanto a partir de 1766.


Nossa Senhora das Dores / Aleijadinho

O barroco brasileiro é associado claramente à religião católica. Em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco encontram-se os mais belos trabalhos de relevo em madeira - as talhas - e esculturas em pedra sabão. Já nas regiões mais pobres, onde não havia o comércio de açúcar e ouro, a arquitetura das igrejas apresentava aparência mais modesta, assim como as residências, chafarizes, câmaras municipais etc.

No Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, terras do Paraguai e Argentina, chamadas de região missioneira, a arquitetura era diferenciada da arquitetura do Nordeste e das regiões das minas de ouro, pois os jesuítas misturaram elementos da arquitetura românica e barroca da Europa, pois os construtores eram de origem européia. 

No Nordeste, somente no século XVIII houve total domínio do requinte do barroco. De Salvador saia grande quantidade de riqueza do país para Portugal e também vinham os artistas portugueses e produtos. 

Riquíssima é a Igreja de São Francisco de Assis, com seu interior revestido de talha dourada levando para si o título de a Igreja mais linda do Brasil. 

Os mestres maiores da arte sacra foram Aleijadinho e Mestre Ataíde, onde suas obras, consideradas as mais belas do país despontaram com maior encanto a partir de 1766. 

O período barroco brasileiro tem, então, em seus santos e suas igrejas a mais significativa manifestação de fé e de arte: não só uma fé intimista com que cada pessoa se relacionava com seu santo, mas também, como uma expressão ímpar de ver, sentir e vivenciar a arte.

ANTONIO FRANCISCO LISBOA - O ALEIJADINHO:

 
As maiores expressões do Barroco Mineiro são, sem dúvida, o Aleijadinho e Ataíde. Mas a arte setecentista de Minas Gerais foi criação de uma infinidade de artistas, dos quais muitos permanecem no anonimato.

Antônio Francisco Lisboa - 1738/ 1814

Era o nome completo do Aleijadinho, nascido em Vila Rica, em 1738, filho bastardo do português Manuel Francisco Lisboa e de uma escrava, Isabel. Tendo nascido escravo, foi libertado pelo pai no dia de seu batizado.

Entalhador, escultor e arquiteto, trabalhava madeira e pedra-sabão, de que foi o primeiro a fazer uso na escultura. Considera-se que tenha aprendido o ofício com o próprio pai e outros mestres, José Coelho Noronha e João Gomes Batista. Mas é provável que sua genialidade criativa tenha prevalecido sobre as lições aprendidas.

Quase tudo o que se sabe sobre a vida de Aleijadinho vem de uma memória escrita em 1790, pelo segundo vereador de Mariana, o capitão Joaquim José da Silva, e da biografia escrita por Rodrigo José Ferreira Bretãs, publicada em 1858. Ultimamente, sua vida e obra têm despertado o interesse de estudiosos dentro e fora do país, embora permaneçam ainda muitos pontos controvertidos.

Uma grave doença o acometeu aos 39 anos de idade. A enfermidade deformou seu rosto e atacou seus dedos dos pés e das mãos, donde lhe veio o apelido. Apesar da doença, continuou a trabalhar incansavelmente, sendo auxiliado por três escravos: Januário, Agostinho e Maurício. Era este último que amarrava as ferramentas nas mãos deformadas do mestre.

Igreja São Francisco de Assis / Ouro Preto

O primeiro trabalho artístico importante do Aleijadinho data de 1766, quando recebeu a incumbência de projetar a Igreja de São Francisco, de Ouro Preto, para a qual realizou, posteriormente várias outras obras. Quatro anos depois, desenvolveu trabalhos para a Igreja do Carmo, de Sabará. Em seguida trabalhou para a Igreja de São Francisco, de São João del Rei. Enfim, ele recebia muitas encomendas, e às vezes, prestava seus serviços em obras de duas ou mais cidades simultaneamente.  

No final do século XVIII, ele se encontra em Congonhas, onde permaneceu de 1795 a 1805, trabalhando para o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, para o qual esculpiu os Profetas em pedra-sabão e as estátuas em madeira dos Passos da Paixão. Seu último trabalho, de 1810, foi o novo risco da fachada da Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes.

Ficou cego pouco depois, e viveu os últimos anos sob os cuidados de Joana Lopes, sua nora. Faleceu em 1814, aos 76 anos de idade, tendo sido sepultado no interior da Matriz de Antônio Dias, em Ouro Preto.

por Aleijadinho
Mosteiro de São Bento / Rio de Janeiro - clique foto
Anjo da Paixão / Aleijadinho - Santuário de Matosinhos
Igreja de São Francisco / Bahia -  AMPLIAR CLIQUE FOTO

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BARROCO E O CATOLICISMO: AQUI
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29.5.24

FRIDA KAHLO 1907 / 1954


The Little Deer - 1951
  

 - por Tais Luso  de Carvalho


Pintora mexicana e de muita relevância para as artes e principalmente para seu país. De temperamento e atitudes independentes para sua época, possuía uma saúde frágil desde sua infância, se agravando após um acidente de carro, na cidade do México, quando saia da escola.

Sua obra é muito interessante, principalmente seus autorretratos onde podemos ver seus traços fortes, suas sobrancelhas que se juntam acima do nariz. Podemos ver que a artista domina completamente a arte do desenho.

De atitudes muito de vanguarda para sua época, Frida só agia de acordo com suas convicções. Quando em 1913 contraiu poliomielite, aos 6 anos,  ficou com uma lesão no seu pé direito. A partir disso ela começou a usar calças e depois, longas e exóticas saias, que vieram a ser uma de suas marcas.

De 1922 a 1925 Frida começou a interessar-se muito por pintura e a frequentar a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México onde assistia as aulas de desenho. Em 1925, aos 18 anos aprendeu a técnica da gravura com Fernando Fernandez. Porém sofreu um grave acidente num ônibus no qual viajava. Este chocou-se com um trem, levando a artista a um longo sofrimento. 


Em 1928 quando Frida Kahlo entrou no Partido Comunista Mexicano, conheceu Diego Rivera, pintor muralista com quem se casaria no ano seguinte. Entre 1930 e 1933 ficou muito em Nova Iorque e Detroit com o marido.

Frida retratava a sua biografia nas obras.  Durante toda a sua vida, o amor e a dor – física e emocional – estiveram em suas obras tanto na vida pessoal quanto na profissional. O acidente de ônibus que lhe causou lesões no útero e na coluna, 30 operações ao longo de sua vida, mais seus abortos, e as inúmeras traições de Diego Rivera,  não poderiam estar ausentes das telas de Frida.

Submeteu-se a várias cirurgias ficando muito tempo acamada. Durante a sua longa convalescença começou a pintar, com uma caixa de tintas que pertenciam ao seu pai, e com um cavalete adaptado à cama.

André Breton, poeta francês e teórico do surrealismo, em 1938 qualifica a obra de Frida como surrealista, para uma exposição na galeria Julien Levy de Nova Iorque. Após esta ocasião disse ela: 

Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade.
Sua realidade era dolorosa apesar de ter tido inúmeros relacionamentos amorosos inclusive com o líder revolucionário russo Leon Trótski. Sua ardente relação com o marido, Diego Rivera, muralista mexicano, era turbulenta (ambos tinham casos extraconjugais) e foi pontuada por períodos de separação. Após o assassinato de Trótski, eles se casaram meses depois.

Portanto, sua vida afetiva sempre foi tumultuada, jamais encontrou a paz. Em seu atestado de óbito consta que veio a falecer de embolia pulmonar, não se descartando, porém, ter sido envenenada por alguma das amantes de seu marido.  Isso, segundo a biópsia.

Das 143 pinturas de Frida Kahlo, mais de 50 são autorretratos e até mesmo seus outros trabalhos são estritamente autobiográficos.

Nasceu em Coyoacán. Seu pai era fotógrafo alemão e sua mãe uma mestiça. Frida teve sua perna direita amputada em 1953, após exposições no México, Estados Unidos e Europa. Morreu de câncer em sua cidade natal.



Auto-retrato                                                Árvore da Esperança
As duas Fridas -  1939
Abraço Amoroso no  Universo  - 1949
Auto-retrato entre fronteira do México e Estados Unidos - 1937
Dois nus numa floresta - 1939

Frida e Diego Rivera



Referências: Tudo sobre Arte - Sextante / RJ 2011
História da Arte - Graça Proença


Interior do Museu e mais fotos de Frida Kahlo
Clique aqui: BLOG DA MARI-PI-R



29.4.24

JUAREZ MACHADO - OBRAS


Femme au Robe Orange


Renomado pintor brasileiro, Juarez Machado vive como quer; sua vida é muito interessante e é esse aspecto que quero abordar, pois suas extravagâncias são dignas de relatar.

Nasceu em 16 de março de 1941 na cidade de Joinville / SC, Brasil. Pintor multifacetado passeia pela pintura (inconfundível), pelo desenho, escultura, fotografia, teatro e mímica. Lembro-me dessa sua fase de mímico, tinha um quadro na televisão, era genial.

Aos 18 anos muda-se para Curitiba matriculando-se na Escola de Música e Belas Artes, frequentando o curso por 5 anos. Sua primeira exposição foi em Curitiba, tinha como tema Bicicletas.

Em 1965 muda-se para o Rio de Janeiro e, seu humor – essencial em sua vida -, mistura-se ao dos amigos cariocas Millôr, Ziraldo, Jaguar e Henfil. Em 1978 começa seu tour: vai para Londres, Nova York, França, Alemanha e Itália. E em 1986 resolve estabelecer-se em Paris. Seu atelier atual ocupa todo um prédio no bairro de Montmartre. Diz que não tem casa, que tem ateliê, o que para ele significa pátria, não importando o lugar.

É metódico em sua rotina: acorda às seis horas da manhã para pintar; o centro de seu universo é o seu cavalete. O interessante é que Juarez se veste com roupas especiais para trabalhar, com muita elegância, coletes bem cortados, feitos por alfaiate, etc e tal. Nada daquelas nossas roupinhas de trabalho ou um avental branco. E diz que adora conversar com partes do seu corpo: conversa com seus pés, prometendo comprar-lhes uns sapatinhos que, já chegam à casa dos 100 pares...

Hoje, seus quadros estão presentes nas mãos dos melhores colecionadores do mundo. Desfruta de confortável situação e já é um dos nomes de prestígio da arte brasileira no exterior. Pinta óleo sobre tela e aquarelas. E seus desenhos são feitos com lápis crayon e caneta. 


O desenho é mais um processo interior, tenho um estilo machadiano, sou eu mesmo.

Tudo de Juarez Machado é muito personalizado, e ele, muito teatral. Seus pincéis ficam dentro de vasos de lalique. 


Dou respeito aos meus instrumentos de trabalho.

Não joga nada fora, junta tudo, até as rolhas do champanhe que bebe, por isso vai comprando apartamentos para guardar essas preciosidades... Mora em 6 andares e conta que foi influenciado a pintar, por seu pai – caixeiro viajante – e por sua mãe que pintava leques de seda.

Juarez foi uma criança que brincava sozinha, dado a esse motivo, ao tomar o café da manhã com a mão esquerda, usa a direita para desenhar personagens que o acompanham. É considerado o terror dos hoteleiros, pois com frequência muda-se de lugar para pintar, carregando consigo sua maleta de trabalho, transformando seu quarto de hotel em atelier.

Quero envelhecer em Paris, serei aquele velhinho na janela, que os vizinhos passam e dão bom-dia!

Realmente, Juarez Machado é um pintor um pouco diferenciado: ousado, alegre, extravagante e bon vivant! É um artista de peso e de conceito, com inúmeras exposições espalhadas pelo mundo. É o Brasil vivo, lá fora! Suas obras - inconfundíveis e ricas em detalhes - retratam bem nossa realidade.


             
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   Curitiba     
                           Em Veneza                                

Drinque



        Jazz Doré 2010                                             Ilha de Santa Catarina


Tango Atlântico 2007
                                               

Bebendo em Paris

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1987


prédio do ateliê / Paris







17.3.24

VINCENT VAN GOGH - 1853 / 1890



- Tais Luso de Carvalho

Vincent van Gogh nasceu em 1853, em Groot-Zundert, no norte da Holanda, o primeiro dos seis filhos de um pastor reformista. Foi um pintor individualista e um verdadeiro autodidata, e como tal, um dos mais importantes precursores da pintura moderna.
Sentindo a miséria urbana, Vicent foi despertado pelo fervor religioso e o desejo de servir aos seus semelhantes. Preparou-se para o mesmo ofício do pai, começando como pastor adjunto, iniciando seus estudos de Teologia em Amesterdã, mas interrompendo pouco tempo depois, pois tinha dificuldades de estudar e medo de fracassar, tendo sido reprovado, também, na Escola Evangélica de Bruxelas.
No final de 1878, obteve autorização para trabalhar por sua conta como missionário voluntário na região mineira de Borinage, na Bélgica. Apesar do seu grande fervor religioso e social, não foi bem-sucedido nesse contato com os mineiros. Seu zelo excessivo causou desconfianças entre os mineiros e indisposição no consistório, que o acusou de interpretar a doutrina cristã de modo demasiadamente literal.
Destituído em julho de 1879, passou um período de vagabundagem pelas estradas de Borinage. Sem fé e na miséria passou a acreditar numa nova missão: ao de trazer consolo ao homem pela arte. E foi nessa altura que Vincent Van Gogh começou a desenhar, para superar as angústias que sentia.
Absorveu o Impressionismo, tornando-se um importante precursor do Expressionismo. A sua obra vigorosa, a sua vida infeliz, marcada por repetidos fracassos, por uma grande dúvida interior e uma incrível força criadora, quase obsessiva, chamou a atenção das gerações vindouras.
Seu primeiro desenho seguiu o modelo de Jean-François Millet, pelo qual sentia uma grande admiração. Depois partiu para aquarelas próprias em que retratava a vida miserável dos mineiros. Em 1880 inscreveu-se na Academia de Arte de Bruxelas, porém permaneceu um autodidata, copiando uma série de pinturas sócio- românticas. No ano seguinte voltou por algum tempo à casa dos pais, porém teve um amor infeliz por uma prima viúva, o qual rompeu com a família.
Foi no final de 1881 que Vincent entrou como aprendiz no atelier de seu primo, o pintor Anton Mauve, e esse o aconselhou a pintar com tintas a óleo.
Influenciado pelos romances de crítica social de Flaubert e Zola, Van Gogh decidiu ser pintor dos humildes, em especial da vida dos camponeses. Permaneceu na província por curto tempo devido à solidão que sentia, e regressou novamente à casa dos pais, em Nuenen, em finais de 1883, ficando por dois anos.
Em 1885, depois de numerosos estudos, nasceu o quadro Os Comedores de Batatas. O relacionamento intrínseco das cinco personagens, sentadas à mesa, é conseguido com a pobre refeição de batatas que partilham, e com a luz escassa da lâmpada de petróleo que ilumina. O quadro exprime um forte componente social e tomado de resignação. As figuras parecem abatidas, os rostos magros e mãos ossudas.
Nesse período, a pintura de Van Gogh é sombria e pesada, por isso foram designadas de Realismo atormentado e sombrio.
Em 1886, seu irmão Theo dirigia uma galeria de arte em Paris. Van Gogh entrou em contato com o grupo de impressionistas e entusiasmou-se com as cores, a luminosidade do sol, adotando uma palheta cada vez mais clara, aprendendo a usar cores mais puras e contrastes mais intensos. Nessa época pintou 23 auto-retratos.
Cansado da vida social, Van Gogh foi instalar-se em Arles – pequena cidade no sul da França, no ano de 1888. Foi viver na Casa Amarela, e entusiasmou-se com a ideia de fundar uma cooperativa de artistas em Arles e, no fim daquele ano associou-se a Gauguin, o único que se juntou a ele.
No entanto, dois meses de trabalho foram suficientes para que as relações se deteriorassem: as ideias opunham-se, os temperamentos incompatibilizavam-se e terminou com uma grande discussão. Com os nervos à flor da pele, Van Gogh cortou a orelha esquerda, episódio conhecido e retratado. Porém, depressivo, o artista não deixou de criar grandes obras o qual retratou famosos quadros como os Girassóis, árvores, pontes, as casas e seus interiores.
Tornou-se obcecado pelo valor simbólico e expressivo das cores, passou a empregá-las com esse propósito, não mais para a reprodução das aparências visuais como faziam os impressionistas.
Em vez de tentar reproduzir exatamente o que tenho à frente de meus olhos, uso a cor de modo mais arbitrário, a fim de expressar-me com mais vigor”.
Em Maio de 1889, Van Gogh foi para um hospital psiquiátrico de Saint-Remy, perto de Arles, onde após uns dias de sossego, voltou a pintar nesse lugar, onde lhe deram uma espécie de atelier. As alucinações, os pesadelos e sua grande preocupação com a morte caracterizaram sua estadia em tal Clínica. Porém, mesmo com essas alternâncias, a continuidade de seu trabalho se fazia presente.
A angústia e depressão em que vivia o levaram ao suicídio em 29 de julho de 1890. Esquecido, sem jamais ter alcançado o sucesso, morreu ao lado de seu irmão Theo. Seu caixão foi coberto por girassóis – a flor que mais amava. Ao lado do caixão, seus pincéis e seu cavalete.
De 1872 a 1890, Vincent e Theo trocaram extensa correspondência, hoje reunida em livro. Talvez seja o documento mais importante sobre a trajetória artística de Van Gogh, que narra desde as angústias pessoais e dúvidas sobre o ofício e questões de técnica de pintura. À medida em que ele adoece, as menções à saúde e à fragilidade da vida aparecem com maior frequência. Nas cartas a Theo, Vincent também se mostra extremamente religioso, apegado a valores de transcendência espiritual que acaba traduzindo em seus quadros. Ele parecia estar ciente de que vivia um grande momento da arte e afirmava sua condição de gênio incompreendido.
Pense no tempo em que vivemos como uma grande renascença da arte, com novos pintores solitários, pobres, tratados como loucos” – observou em julho de 1888.
Clique nas fotos para ver maior





Fontes: 
 História da Pintura – Könemann 
100 Obras Essenciais da Pintura Mundial
Enciclopédia Abril

20.2.24

ANITA MALFATTI

O Homem amarelo / 1915


                       - Tais Luso de Carvalho


          Anita Malfatti nasceu em São Paulo em 2 de dezembro 1889. Seu pai era de origem italiana e engenheiro, Samuel Malfatti. Sua mãe, Elisabete, de nacionalidade americana, era pintora, desenhista, mulher de boa cultura, cuidava pessoalmente da educação de Anita. Com a ajuda de um tio e de seu padrinho, Anita foi estudar pintura na Alemanha, pois já era visto ser possuidora de grande talento.

Após cursar a Academia Real de Belas Artes, aproximou-se de um grupo de artistas que haviam se desligado do academismo, cuja pintura era livre. Mas foi em 1914, regressando ao Brasil, que resolveu ir para a terra de sua mãe, Estados Unidos. Matriculou-se na 'Art Students League', que proporcionava aos alunos total liberdade de criação. Foi nesse período que Anita teve sua fase criativa mais brilhante, surgindo Mulher de Cabelos Verdes , O homem amarelo, O Japonês, e outros trabalhos voltados para o Expressionismo.

De volta ao Brasil, Anita fez uma Exposição no Mappin Stores, em 12 de dezembro de 1917. Ninguém poderia prever que os trabalhos de Anita seriam tão mal comentados e que provocariam uma enorme polêmica entre os adeptos da arte acadêmica.

Entre estas obras estava O Torso – obra do corpo de um atleta, destacado pela força e movimento dos músculos. O corpo ganhara volume, embora estivesse representado em uma superfície de apenas duas dimensões – largura e altura. Realmente o torso é o destaque, pois a cabeça, pés e mãos são apenas sugeridas.

E estes comentários viriam com maior força de um escritor considerado renovador - Monteiro Lobato no jornal 'O Estado de São Paulo', com o título 'A propósito da Exposição Malfatti', na edição de 20 de dezembro de 1917. Lobato não gostou. Bombardeou as obras da artista com muita agressividade. Anita entrou em depressão vivendo um período de sofrimento e desorientação, pois era tímida e indecisa. Sua primeira reação foi de abandonar a arte.

Monteiro Lobato, preso aos princípios conservadores, dizia na época que 'todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude'.
E foi mais longe em suas críticas à Malfatti, criticando, também, os novos movimentos artísticos.

Anos mais tarde, em contraponto às críticas de Monteiro Lobato, Mario de Andrade entra em cena expondo suas ideias no prefácio de sua obra 'Paulicéia Desvairada', publicada em 1922.

Na verdade, a agressividade de Monteiro Lobato seria dirigida aos modernistas, com quem Lobato tinha umas rusgas. Mas suas críticas atingiram Anita 'de cheio'. Passado algum tempo, Anita foi ter aulas com o mestre Alexandrino Borges - Natureza morta -, e lá conheceu Tarsila do Amaral tornando-se sua amiga.

Certamente havia os defensores de uma estética conservadora e outros que primavam pela renovação, que atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo.

Convencida por amigos, Anita entrou na Semana de Arte Moderna de 1922. As raízes brasileiras deveriam ser o ponto de partida, ser o foco de maior valorização dos artistas nacionais. Depois desta participação viajou para a Europa onde se encontrou com os amigos Tarsila, Oswald, Brecheret e Di Cavalcanti.

Mas no interior do teatro foram apresentados concertos e conferências, enquanto no saguão foram montadas as exposições de artes plásticas. Eram eles os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vitor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, J. F. de Almeida Prado, Inácio da Costa Ferreira e Vicente do Rego Monteiro.

Porém, após a exposição de 1917, Anita não conseguiu total recuperação, e já com idade mais avançada mudou-se com sua irmã para Diadema (SP), onde morreu em 6 de novembro de 1964, onde preferiu cuidar do jardim e esquecer de tudo.

A importância desse evento, da 'Semana da Arte Moderna' foi o marco para se fazer e compreender, um novo amanhecer da Arte.

'O grandioso e o majestoso, assim como a glória e o mágico sucesso me deixam calada, triste, mas as coisas fáceis de pintar, simples de se compreender, onde mora a ternura e o amor do nosso povo, isso me consola, isto me comove.' (Anita Malfatti)


O Torso / 1917
Mulher de cabelos verdes / 1917
O Japonês / 1916
A Boba / 1917
Estudante Russa -1915
Baby de Almeida - 1922


Le Rentrée - 1927